Na véspera da Manifestação Nacional - Basta de Atropelamentos, não posso deixar de confessar alguma ansiedade. Gosto de acreditar que amanhã será um ponto de viragem. Apesar de todas as contrariedades, apesar das forças de oposição, apesar de a sociedade ter até hoje olhado para o lado, como se nada fosse... Acredito que a partir de amanhã, a voz de quem anda a pé e de bicicleta se faça ouvir bem alto, e que o país olhe para este problema com outros olhos e com mais atenção.
Quem segue este blogue, ou segue o LisbonCycle Chic, sabe que tenho apelado sempre a uma condução calma e defensiva. Por isso compreendem o quanto é cansativo ouvir sempre a mesma lenga-lenga de que os ciclistas é que são irresponsáveis. Sim, há alguns que não cumprem!... desafio qualquer pessoa a ir comigo para um local onde passem muitos ciclistas, peões e automobilistas, e vamos contar as infracções. Tenho a certeza que mesmo em termos percentuais, os automobilistas serão os que cumprem menos. Pergunto aos que andam sempre a apontar o dedo, se há algum dia em que conduzem, que não infrinjam pelo menos um limite de velocidade ou outra regra?... é que todos os dias, em certas ruas e avenidas, quase TODOS os carros passam por mim em excesso de velocidade. Não digo apenas apenas um ou outro - digo QUASE TODOS. Para não falar nos MILHARES de automóveis que todos os dias estacionam em cima dos passeios, passadeiras, ciclovias, etc.
Mas vamos assumir que os ciclistas e peões, até cumpriam menos... Muita gente contesta a descriminação positiva que pessoas como eu pretendem que seja dada aos utilizadores mais vulneráveis, pois todos somos cidadãos com direitos iguais. TRETAS. A descriminação já existe! E existe na forma de 1 tonelada de metal, ou mais. Quem vai protegido dentro de uma caixa de metal, com um enorme potencial mortífero, tem de ser obviamente mais responsabilizado. Ainda estamos à espera de ver uma notícia em que um peão ou uma bicicleta, atropelaram um automóvel!
A pergunta que eu deixo é esta: que sociedade queremos nós? Uma onde os peões e ciclistas que não cumprem, são sujeitos a ficar feridos ou mesmo morrer, e onde quem anda num carro, mantém a sua "superioridade física"? Ou uma que protege esses mais vulneráveis, e responsabiliza quem atropela. Em Portugal, quem quiser assassinar alguém, que o faça num automóvel... a história recente tem provado que a impunidade é quase garantida. Acho que é hora de aprender com quem sabe. Com quem se manifestou desta forma no passado, e fez as coisas mudarem:
Ainda assim, devo dizer que o comportamento dos Portugueses ao volante tem melhorado bastante. Nos anos 90, eu era mesmo "mal tratado" na estrada: buzinavam a torto e a direito, tentavam abalroar-me, insultavam-me, enfim... era muito triste. A partir de 2000, comecei a notar melhorias. E posso dizer que hoje em dia, são poucos os casos de assumida falta de respeito. Vejo é muita distracção, inconsciência na velocidade, razias (geralmente os condutores não têm noção das consequências que uma razia dessas pode ter). Mas os condutores começa a estar mais habituados às bicicletas nas ruas e estradas portuguesas. De 2010 para 2011, houve um aumento de 36% na sinistralidade envolvendo ciclistas. Morreram 45 pessoas que se faziam deslocar de bicicleta. São números negros, mas estas coisas têm de ser vistas em perspectiva. Se considerarmos que o número de utilizadores de bicicleta nas estradas, duplicou ou triplicou neste período, então esse aumento nos acidentes não foi assim tão expressivo. E dizem-nos as experiências e estudos internacionais, que quando mais utilizadores de bicicleta houver, mais a segurança rodoviária aumenta - a chamada "safety by numbers".
Mas a avaliar pelos números provisórios que a ANSR avançou, 2012 foi já um ano de viragem - nos 9 primeiros meses do ano passado, morreram 13 utilizadores de bicicleta. Mesmo que o último trimestre tenha sido mais "negro", é uma efectiva redução no número de mortes. Claro que há mais factores a contribuir para isso, nomeadamente a redução do número de automóveis a circular, e as velocidades ligeiramente mais baixas para poupar no combustível. Mas o facto do número de vítimas ter diminuído, não quer dizer que está tudo feito, e que podemos baixar os braços. Até porque Portugal tem dos números mais graves da Europa, no que toca a atropelamento de peões em ambiente urbano. Em 2011, foram quase 40.000 as vítimas de atropelamento em Portugal. Este artigo (entre outros) da Nossa Terrinha, ajuda a compreender um pouco esta triste situação
Felizmente há gente de bom senso, que já aderiu a esta causa. Ana Galvão e Nuno Markl, bem como o Francisco Mendes, acederam ao pedido de gravar um video apelando à participação de todos na Manifestação de sábado.
Mais gente de vários campos se juntou a esta causa - das artes, da política, da ciência - esta é uma causa suprapartidária, transversal a toda a sociedade.
Conto por isso com a vossa presença, em peso, numa das muitas cidades em que se vai realizar a Manifestação.
Consultem as páginas da Federação para se manterem informados:
ou www.fpcub.pt
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