segunda-feira, 1 de janeiro de 2001

O "Sagres" do remediado...

Ave e-VL,Andei quase todo o ano (o de 2000) a convencer-me de que iria de Tróia aSagres no último sábado de Dezembro.Infelizmente os planos familiares de última hora, relacionados com o"Reveillon", tornaram o projecto inexequível. No entanto, quis a providênciaque implicassem uma estadia perto de Lagos. Desde logo pensei: "se Mohamednão vai à montanha, talvez a montanha venha ter com ele"...E, se assim pensei, melhor o fiz: tratei de me fazer acompanhar da minha"muleto" devidamente montada com os "slic" 1.5 (decididamente mais versáteismas não tão rápidos como os "boyeux" 1.0) e percorrer, precisamente nosábado, dia 30DEZ00, os 70 quilómetros que separam Lagos de Sagres(incluindo o respectivo regresso) e receber os heróis (que outro nome podemter uns fulanos que pedalam 210 kms. desde Tróia até Sagres) atrás dosponteiros de um relógio). Tratou-se assim de um "Sagres do remediado" ou deum prémio de consolação.No fundo era uma incursão pela "Rota das Descobertas" já que a mais belapágina da História de Portugal se escreveu entre aquelas duas localidadescom o Infante D. Henrique no séc. XV. De facto, após se instalar em Lagos oInfante funda, em 1433 a povoação de Sagres onde se faz rodear decartógrafos, marinheiros e homens entendidos em ciência náutica.Assim, pelas 11:30, lá estava eu a rolar pelas históricas e pitorescas ruasdo centro de Lagospara aquecer um pouco e revisitar aquelas artérias que, fazia algum tempo,que não conheciam a minha presença. Desde logo uma constatação curiosa: oAlgarve é sempre ameno e, desde logo, regressei à viatura estacionada paraabandonar uma jersey que, em conjunto com o blusão, tornavam o pedaleiosufocante. A minha preocupação não era tanto prevenir o frio (que erairrisório) mas antes ter uma peça de roupa conspicuosa (o blusão é amarelo eentra pelos olhos dentro) em virtude de ir pedalar na estrada.De resto fui pedalar sem receio pois sabia que a estrada de ligação é deexcelente qualidade, com bermas amplas e pouco movimentada. Como todas asestradas deveriam ser. O tempo estava razoável tendo sido brindado pelachuva fraca, durante poucos minutos, logo à saída de Lagos. De referir,igualmente, que devido às características da região percorrida (integradaquase toda na Área Protegida da SW Alentejano e Costa Vicentina) o vento foiuma presença constante. Só a partir de Vila do Bispo consegui alterar umpouco a média em virtude do trajecto passar de E-W para N-S em conjunto comuma ligeira descida até Sagres.De resto o trajecto até é interessante, estamos perante um Algarvediferente, com baixa densidade populacional, selvagem nalguns pontos,ventoso e com aquele "ar de Finisterra" tão característico dos cabosmarítimos (tipo Espichel ou Roca) e assim, quilómetro após quilómetro sepassa Espiche, Budens, Raposeira e Vila do Bispo.Chegado "Vila do Infante", por volta das 13:00, pensei em ir até ao Cabo deSãoVicente para "queimar tempo", só que o estômago ditou as suas leis e o apelode um "spaghetti bolognese" por oposição às bolachas de muesli e às barrasenergéticas foi irresistível. Em boa hora já que a "detente" de um almoçonunca é de desprezar. Mais uns habituais "você é que faz bem" com que o donoe empregados do restaurante me brindaram, o repasto soube maravilhosamentebem, de resto como previa o regresso para as 16:00 havia muito tempo para otrato digestivo.Terminada a refeição ainda deu tempo para rolar, tranquilamente, pelapovoação, visitar o forte (pelo exterior) e bater umas fotos. Cerca das15:00 chegam o grupo do Fernando Carmo e do António Malvar completamenteextenuados mas felizes (essa coisa de correr contra o relógio é de "loucos;-). O Malvar, de resto, é o melhor exemplo de como o desporto nos podemanter jovens. Um excelente exemplo para muita gente, incluindo para mimpróprio agora que "baixo mais uma pulsação" já no próximo dia 10 deJaneiro...Diga-se, em abono da verdade, que nunca tinha pedalado tantos quilómetrosseguidos em asfalto. Se a esta circunstância juntarmos um certo "revivalismoasfáltico" que se vive na lista "Velocipedi@" estavam criados osingredientes para uma jornada a um tempo "experimental" e interessante.Pedalar numa berma como as das ENs 125 e 268 de Lagos para Sagres é algo debastante agradável já que esta é suficientemente larga e está em perfeitascondições. Para além disso o movimento de viaturas é algo reduzido (apesarde se tremer um pouco com alguns "distraídos" a rolarem na casa dos 180kms./h) pelo que se evolui sem grandes receios de atropelamento. Valeutambém pelo facto de me cruzar com diversos ciclistas que me cumprimentaramdo alto das suas elegantes rodas 28'.Esta minha primeira "imersão asfáltica" de média distância deu paraconstatar, na prática, algumas coisas que já conhecia no plano teórico, asaber:. Asfalto e pneu slic combinam na perfeição .Rola-se muito mais rápido, mas deve usar-se, de preferência, o tamanho 1.0.Eufui com os meus Conor 1.5 que, noutras ocasiões, demonstraram serem muitoversáteis (nas ruas de Lisboa, por ex.) permitindo, inclusivamente,aventuras extra asfálticas, mas que aqui pela qualidade do tapete e davelocidade que permitiu introduziram algum atrito dispensável;. As relações das BTT são desadequadas .Pelo menos num percurso como este em que os desníveis não sãosignificativos senti-me um pouco impotente ao pedalar: todo o percurso foifeito em 44 (22 e 32 inúteis) e, a descer, a partir dos 55 kms./h "esgotavaas rotações";. A direcção e intensidade do vento determinam o nosso ritmo .De Lagos para Sagres com o vento praticamente frontal (W/SW) e moderado aforte durante todo o trajecto a média foi 7 kms./ h inferior ao regresso(!) - 23 contra 30 kms./h. O facto de pedalar sozinho também não ajudou jáque em grupo alterna-se na cabeça e os demais ficam protegidos do vento ebaixam os seu ritmo cardíaco mantendo a velocidade;. O exercício aeróbico é mais linear .A pulsação sobe e desce mais lentamente e o exercício aeróbico,consequentemente, é mais correcto. Os "picos" de pulsação, habituais no XCclássico, não têm aqui lugar. Sem dúvida que é a forma mais correcta decondicionamento para o BTT;. Com a mesma intensidade de esforço percorrem-se maiores distâncias .De facto os 90 quilómetros que efectuei (70 de estrada + 20 turísticos emLagos e Sagres) não me desgastaram o mesmo do que, por exemplo, 30 no PFM;. Os "SPD" não são o encaixe mais adequado .Utiliza-se mais a pedalada em "sprint" e o puxar do pé pressupõe um encaixemais sólido (solução: apertar os parafusos reguladores da intensidade quandose "fizer estrada");. Pedalar em estrada é mais monótono .Sem dúvida, a paisagem varia menos e a companhia dos carros não é a maisagradável em contrapartida chega-se mais depressa;. Pedalar em estrada desgasta menos o hardware .Por contraponto à monotonia e ao perigo potencial superior há a consolaçãode o material ser poupado, não se suja nem se degrada ao ritmo alucinante doBTT;. Uma bicicleta de estrada teria permitido outro tipo de andamento .La Palisse já o havia constatado antes :-) .Por tudo isto considero muito interessante esta minha incursão asfáltica.Espero repeti-la desde que as condições que considero imprescindíveisestejam reunidas: estrada larga, com bermas e pouco movimento de viaturas.Espero sobretudo, que 2001 possa ser o ano do meu primeiro Tróia-Sagres -uma coisa é certa: a acontecer assim tenho a certeza de que também eubaterei o meu record :-)¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤º°`°º¤ø¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤º°`°º¤ø¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤Boas Festas Virtuais, Virtual Seasons GreetingsAntónio Pedro Roque Oliveira

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