terça-feira, 17 de junho de 2008

De Setúbal a Querença Sob o Dilúvio

III Raide BTT FPCUB Setúbal – Odemira - Algarve

Data - 19 e 20 de Abril

Distância Total – 270 kms.

Altitude Acumulada – 3700 m.

Início – Setúbal

Final Intermédio - Odemira

Final – Querença, Loulé

Grau de Dificuldade Técnica - Médio

Grau de Dificuldade Física – Muito Elevado

Apoios - Câmara Municipal de Odemira, Junta de Freguesia de Querença, Loulé, TFS – Transportadores Frigoríficos de Salvaterra, Ciclonatur / “Loja do GPS”

Participantes: 65 (5 femininos)

Fotografias: http://picasaweb.google.pt/roque.oliveira/IIIRAIDEFPCUBSETBALODEMIRAQUERENAALGARVE

Website: http://www.fpcub.pt/raide2008/

Pelo terceiro ano consecutivo, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB), levou a efeito o seu raide BTT Setúbal – Odemira – Algarve. O final, tal como no ano transacto, foi em Querença (Loulé) onde se repetiu a hospitalidade da Junta de Freguesia local que consubstanciou na amabilidade algarvia e num prosaico e estupendo almoço serrano típico e nos sempre imprescindíveis duches. É o outro Algarve, o da serra, menos turístico, mas mais genuíno e puro.

Ao contrário da amenidade climática das edições anteriores as facilidades meteorológicas não se fizeram sentir. Durante os dois dias do raide, os aguaceiros e o vento marcaram presença constante dificultando a progressão que, já de si e em virtude da quilometragem, é difícil e penosa. As alterações de circunstância ao percurso foram inúmeras, sobretudo no segundo dia já que, às paisagens mais interessantes, correspondiam travessias de cursos de água anormalmente engrossadas e terrenos impossíveis de pedalar em virtude da precipitação verificada.

Ainda assim os participantes foram unânimes em elogiar a mais valia paisagística dos traçados eleitos pela FPCUB para este raide. Refira-se, ainda, que o autor destas linhas, após dois anos sucessivos a pedalar, trocou, nesta edição de 2008, o guiador e o selim da sua BTT pelo volante de uma pick-up 4X4 da organização. Em boa hora o fez já que as dificuldades acrescidas pelo estado do tempo e do terreno foram responsáveis pela necessidade de algumas avarias irreparáveis no meio de “nenhures”. De facto, algum material entregou, por esse motivo, a sua “alma ao Criador” e a progressão de alguns participantes ficou comprometida e só com uma viatura com aquelas características foi possível o seu resgate.

Recorde-se que o trajecto do Raide BTT FPCUB Setúbal – Odemira - Algarve não tem o seu percurso marcado ou sinalizado no terreno mas é disponibilizado em “GPS Track” permitindo assim, a cada grupo de participantes, impor o ritmo e andamento que desejar. De igual modo não se trata de uma competição e não tem qualquer intuito classificativo.

Mas, vamos ao relato…

DIA UM – 19 de Abril de 2008

1. SETÚBAL - MELIDES

Tal como é hábito, simbolicamente, o início é em Setúbal e o trajecto tem uma neutralização até Tróia correspondente à travessia do Sado em ferry. A confusão motivada pelas obras em Tróia em conjunto com a os aguaceiros fortes implicaram que, ao contrário dos anos transactos, os participantes, logo após o desembarque e entrega da sua bagagem à organização, iniciassem a marcha. O briefing foi reduzido ao mínimo.

De Tróia até Melides, à falta de alternativa todo o terreno (é impossível progredir nos pinhais arenosos) circulou-se por asfalto. A excepção é o bonito troço entre a Comporta e o Carvalhal onde se seguiu junto aos arrozais e à Vala Real.

2. MELIDES – SANTIGO DO CACÉM

Vencidos os quilómetros de asfalto, começou o todo terreno. Este troço é dos mais interessantes em termos de paisagem já que corresponde, integralmente, a uma zona da serra de Grândola que, como todos sabemos, é dos locais mais aprazíveis para a prática do BTT. Vencidos os primeiros quilómetros até Vale Figueira iniciou-se a rotina dos barrancos, tão característicos das serras do sul de Portugal. O primeiro é o do Livramento: trata-se de uma descida forte com diversos cotovelos à esquerda e à direita, que conferem uma enorme agradabilidade a quem monta a bicicleta embora, este ano, o estado do terreno a impedir grandes atrevimentos técnicos. No final, a travessia da correspondente ribeira e a forte subida a exigir um empenhamento extremo. A paisagem envolvente é suprema constituída, sobretudo, por floresta de sobro num ambiente tipicamente mediterrânico.

A travessia seguinte e muito semelhante é a do Moinho numa reedição do relevo, da paisagem e do modo de a abordar em bicicleta. Já muito perto de Santiago do Cacém foi necessário alterar o percurso já que a travessia do barranco de Santa Cruz era muito penosa e quase só de canoa tal seria possível.

3. SANTIAGO DO CACÉM – SONEGA

Após Santiago do Cacém, a travessia do Barranco da Velha foi muito facilitada se comparada com os anteriores Livramento e Moinho pelo que, rapidamente, continuámos a pedalar para sul por uma zona de serra muito bonita em direcção ao Paiol que é alcançado num ápice não sem mais umas inevitáveis passagens por água. Nesta zona alguns dos participantes resolveram terminar a sua actividade pedalante neste primeiro dia já que as dificuldades apresentadas pelo terreno dificultavam muito a progressão.

Após o Paiol seguimos, para sul, em direcção à Barragem de Morgavel, passando pela Estação de Tratamento de Água, por uma zona relativamente plana antes e após o plano de água represado. O facto do vento soprar forte, de poente, fez com que a transposição desta zona exposta fosse particularmente penosa.

Após a passagem do paredão surgiram novas dificuldades circunstanciais relacionadas com a presença de areia mas que foram vencidas sem problemas de maior. A chegada à Sonega faz-se através da travessia de Vale de Meio por uma subida contínua mas relativamente suave embora o estado miserável do piso constituísse uma dificuldade acrescida.

4. SONEGA – TROVISCAIS

A partir da Sonega tínhamos pela frente a Serra do Cercal que se contornou por poente por forma a não ser exigido um esforço acrescido tendo em consideração que ainda faltavam alguns quilómetros e que já se haviam pedalado bastantes. Pedalámos assim a poente da serra contornando os montes e descendo até à EM 1116 por onde se seguiu até ao seu final em Godins e, transpondo o corgo (pequeno barranco) do mesmo nome, subimos até Adail sempre com a serra a nascente.

Cruzámos a EN 390 e continuámos sempre para sul por trilhos no meio do eucaliptal escoltando os montes no sopé da serra. Após o Monte do Amarelinho circulámos por um estradão largo e rápido em zona de eucaliptal até Vale Bejinha e rapidamente chegámos aos Troviscais.

5. TROVISCAIS – ODEMIRA

Este troço, à falta de alternativa válida em todo o terreno para a travessia da Ribeira do Torgal, foi efectuado por estrada circulando entre Castelão pela EN 120 até Odemira, num percurso maioritariamente descendente e onde se cruzou a referida ribeira. Neste ponto faltavam apenas poucos quilómetros, embora ascendentes, até ao desvio que nos levou até à zona do Pavilhão Municipal de Odemira e ao final deste 1.º dia.

Apesar da enorme dureza, resultante da distância e do estado do terreno, um banho seguido de um jantar retemperador e do descanso merecido fizeram com que, no dia seguinte, todos se prontificassem a continuar. Sem embargo, na manhã seguinte, o tempo ameaçou comprometer tudo. De facto a chuva forte durante mais de uma hora não parou. Pior foi a trovoada muito próxima que cortou a energia já para não falar dos 10 minutos a granizar com o gelo a ecoar no telhado do pavilhão. A aberta finalmente chegou e foi tempo de rapidamente todos se fazerem ao caminho.

DIA DOIS – 20 de Abril de 2008

1. ODEMIRA – SÃO MARCOS DA SERRA

O tempo miserável e as suas consequências no estado do terreno fez com que aquela que é unanimemente considerada como a zona mais bonita da travessia tenha sido substituída pelo asfalto entre Odemira e Sabóia. Ainda assim trata-se de uma estrada praticamente deserta e de grande beleza. Após Sabóia transpôs-se uma pequena ponte sobre a Ribeira de Telhares circulou-se sempre por terra e junto à ribeira e ao caminho de ferro até se chegar ao asfalto de uma estrada secundária e a Pereiras Gare. Aqui e de novo o trajecto alternativo por asfalto, também e de novo praticamente deserto de viaturas automóveis, a impor-se em função do estado do piso. Tempo de cruzámos a fronteira para o Algarve e o concelho de Silves alcançando então São Marcos da Serra.


2. SÃO MARCOS DA SERRA – ALTE

Em plena serra algarvia e por forma a suavizar a altimetria, tal como no ano passado, seguiu-se o curso de muitas pequenas ribeiras que seguem com uma orientação poente – nascente, ou vice versa, que foram cruzadas inúmeras vezes a vau. Mais complicado foi cruzar o rio Arade, também a vau já que a sua passagem em Ribeira do Arade se revelou algo complicada tendo-se optado por uma alternativa mais a nascente. Após a passagem sob a A2 seguiu-se o curso da ribeira do Gavião passando por Vale Figueira, Marreiros e Corchica e, após se cruzar a mesma, começou uma longa subida até Santa Margarida e daí a descida até Alte e por dentro desta localidade típica da serra algarvia. Aqui a paisagem mudou por completo.

3. ALTE – QUERENÇA

Após Alte rolou-se, por alguns momentos na EN 124 para se sair, à direita, por um percurso fantástico entre laranjais, com montanha de um lado e de outro, junto ao Barranco da Vala Grande, passando por Charneca da Nave, Nave dos Cordeiros, Beirão e abordou-se a penosa subida, aos cotovelos, por uma íngreme rampa de asfalto, até ao Espargal e daí até Alto Fica onde se tomou a EN 524 no sentido descendente e em alta velocidade até à famosa Ribeira de Algibe.

Seguiu-se então por um belo e rápido caminho sempre junto à margem desta ribeira até à EN 525 retomando, junto a Ponte de Tôr, o asfalto. Aqui, de novo, a necessidade de uma alternativa (já que a travessia do Algibre no “Caminho do Morgado” se revelou impossível). Seguiu-se então a EN 524, à falta de melhor alternativa, para chegar a Querença. Foram apenas dois quilómetros com pouca densidade de tráfego até à Quinta da Passagem onde se iniciou a subida para a aldeia de Querença.

A chegada ao largo da aldeia foi mítica através do caminho da Portela uma subida medieval com uma inclinação média superior a 10% e que, em cerca de um quilómetro nos levou, por um empedrado, dos 150 aos 270 metros de altitude.

Tratou-se de um final apoteótico a garantir ficar retido na memória por muitos e bons anos.

Pedro Roque

2 comentários:

Gonças disse...

Excelente..pena não se conseguirem ver todas as fotos!
Gostava de lhe colocar uma questão: Comecei a andar de bicicleta todos os dias para o trabalho e pretendo continuar mesmo no Inverno. Acontece que me tenho q equipar. Vejo que costumam circular com calças de lycra e corta-chuvas, mas o que utilizam para proteger os pés da chuva? Não usam nada, ou existe algum tipo de cobre-pés eficiente?
abraço e obrigado

Anónimo disse...

Hello foi a 1ª vez que li o teu blog e adorei tanto!Bom Trabalho!
Adeus