quinta-feira, 19 de junho de 2008

TRAVESSIA LISBOA - TOMAR - COIMBRA


Pelo segundo ano consecutivo a travessia de Lisboa a Coimbra. Este ano e de novo em companhia do guru (*) Mário Silva (o Nuno Freire acompanhou-nos até ao Entroncamento) a travessia efectuou-se aproveitando, à semelhança do ano transacto, o feriado lisboeta de Santo António. Foi, todavia, a única semelhança já que quer no traçado escolhido, quer na transposição dos primeiros quilómetros, se tomaram diferentes opções.


No traçado optou-se pela "rota de Tomar" em detrimento de Fátima. Trata-se de um traçado mais regular e menos penoso que poupa o corpo para o duro dia seguinte. Ainda assim, com um desvio de ida e volta da Barquinha ao Entroncamento, no final do primeiro dia contaram-se 116 kms. para 970 metros de desnível positivo acumulado. No segundo, de Tomar até Coimbra, notei uma maior dureza no troço até Ansião (ao contrário do Fátima - Ansião de 2007) e no final 102 kms. para 2320 metros de acumulado a que não foram alheias as "experiências" de traçado na Serra do Sicó, sobretudo em torno do mítico Castelo do Rabaçal.


Na transposição dos primeiros quilómetros optou-se pelo comboio até à Azambuja. De facto os primeiros quilómetros que distam da capital até àquela vila ribatejana (50 kms.) nada acrescentam já que se trata de zonas suburbanas incaracterísticas e até de travessia complicada e perigosa (como no caso da EN 10 entre Alverca e Xira - esperamos que a construção do passeio ribeirinho entre Alhandra e Xira, que decorre a bom ritmo, venha alterar um pouco esta percepção).


Curiosas foram as médias: 17 kms./h no primeiro dia (18 kms./h entre Azambuja e Barquinha) e 12 kms./h no segundo, correspondendo a um traçado duro do ponto de vista ascensional e com alguma exigência técnica neste ou naquele ponto. No final uma média geral superior a 14 kms./h o que não foi nada mau já que o estado de forma não é o melhor. Ainda assim o ritmo foi relativamente forte. No primeiro dia chegámos ainda relativamente folgados a Tomar. Embora não tendo o vento favorável como em anos anteriores este também não complicou por ser, pura e simplesmente inexistente.


Como o piso, entre Azambuja e Vila Nova da Barquinha, é plano (excepto na travessia em Santarém entre Ómnias e Ribeira de Santarém e de mais um troço espectacular de Serra junto a Vale Figueira que desemboca na foz do Alviela) as médias foram muito elevadas, sobretudo no traçado após a Azinhaga do Ribatejo na direcção da estrada Golegã-Chamusca com um tapete estreito de um asfalto imaculado em que se circulava, sem dificuldade, bem acima dos 30 kms./h. De resto havia um outro bom motivo para que as coisas assim fossem: a intensa canícula do dia 13 era mais fácil de suportar a uma velocidade alta em virtude do vento assim gerado. Para combater o calor e os UV's usei o meu kit de altas temperaturas: protector solar, jersey de tecido leve mas manga comprida e a "piece de resistence" constituída pelo "neck scarf" ao bom estilo do quepi clássico da legião estrangeira que protege a nuca da inclemência solar ao mesmo tempo que a mantem fresca contribuíndo para baixar a temperatura corporal.


Após a Golegã e antes de Vila Nova da Barquinha um dos pontos altos do dia: a Quinta da Cardiga. Não obstante o abandono de uma parte substancial daquele complexo agrícola de relevância histórica (a sua fundação é atribuída aos cavaleiros templários) mantêm-se a sua imponência e o Palácio que ainda se conserva imponente e restaurado a evocar os seus pergaminhos nobiliários. É, sem dúvida, um dos locais mais bonitos de Portugal.


Chegados a Barquinha fizemos um desvio (6 kms. extra) até ao Entroncamento (e regresso) de forma a escoltarmos o Nuno Freire até ao comboio que o haveria de trazer de regresso a Lisboa. Voltamos a Barquinha e retomámos a marcha. A partir desta vila ribatejana acabou-se a "boa vida ciclística". De facto acabou-se o "flat terrain". Agora é a vez das colinas repletas de eucaliptos e pinhais a exigirem um maior empenho. Foi assim durante cerca de 10 kms. Após uma forte descida em Santa Cita cruzamos o IC3.


Ainda assim boa parte da distância já havia sido percorrida pelo que, apesar das dificuldades Tomar não levou muito tempo a surgir. Optámos por entrar na cidade templária de "cima para baixo", isto é, subindo fortemente e contornando o muro da tapada no sentido horário, chegar ao convento de Cristo e descer a antiga calçada. Fantástica chegada, foi também, um dos pontos altos do dia.


A detente fez-se na residencial “União” que bem sabe acolher ciclo-peregrinos (ainda por cima por um preço módico). Fica bem no centro histórico em plena Rua Serpa Pinto. A restauração ficou a cargo “d’il ristorante La Bella” com as competentes pastas “al dente” recomendadas e recomendáveis em função das circunstâncias.


No dia seguinte haveria que ligar a cidade dos templários a Coimbra. A tarefa afigurava-se mais pesada que na véspera em função da altimetria espectável (a quilometragem seria semelhante). A saída da cidade foi feita pelo caminho de Santiago que, logo após o perímetro urbano e o cruzamento inferior do IC3 se interna num carvalhal cársico de se tirar o chapéu (capacete). Embora entusiasmante não é propriamente o piso mais recomendável para uma travessia até porque um sobe e desce constante em vereda fazem com se pedale muito com pouco rendimento em termos de distância. Sem embargo cumpriu-se e recomeçou-se o ritmo constante de rompe pernas pelo vale do Nabão acima em estradas e caminhos secundaríssimo. Algumas subidas mais complicadas foram algo suavizadas em função da temperatura que era um pouco mais clemente que na véspera.


Já perto de Ansião uma decisão táctica permitiu que se seguissem os últimos 4 kms por asfalto e desse modo, chegar a tempo a um “self – service” de finíssima qualidade (Manjar do Diogo, bem no centro). A manutenção do troço inicial aumentaria a distância e a dificuldade impedindo a vitela assada de adornar o prato (mini, por sinal).


A seguir a Ansião, começa a segunda metade. A primeira dificuldade trata-se de “sair do buraco” (fica no vale do Nabão) em direcção à serra do Sicó, curiosamente a subida não é violenta, antes constante e os quilómetros, embora de forma vagarosa, lá vão passando sem demora de maior até que chegamos a Alvorge. Na serra é tempo de encantamento: é, a um tempo, magnífica para o BTT e para a vista. Nova decisão táctica fez compensar o “short-cut” a caminho de Ansião. Agora complicou-se rodeando o castelo do Rabaçal por nascente com uma ascensão louca “por ali acima”, descendo depois até ao Zambujal que se abordou por NE. Tempo de pausa contemplativa.


Recomeçámos em direcção a Conimbriga naquele que é, provavelmente, um dos troços BTT mais espectaculares: após a passagem pela Fonte Coberta e pelo Poço de uma subida, numa primeira fase, depois circula-se em plano junto a uma larga ribeira de enxurrada para, logo após se subir de novo e descer continuamente, por um caminho de terra, no meio de um eucaliptal num desnível não muito pronunciado, algo técnico (ma non troppo) e que nos conduz até à ponte que cruza o apertado vale sobranceiro às ruínas romanas de Conímbriga.


Depois é seguir até Coimbra. Embora pensando que os desníveis acabaram ou, pelo menos, suavizaram recomeça um duro rompe pernas por meio de pinhais até Antanhol, onde se desce fortemente para se cruzar inferiormente o IC2. Aí não resta outra solução senão subir de novo para, finalmente se descer até Santa Clara. Tempo para uma pausa fotográfica em Santa Clara a Nova e descer o restante até ao parque Verde, primeiro na margem esquerda e depois na direita após a transposição da Ponte Pedro e Inês.


A opção de subida até aos Olivais recaiu pela Couraça de Lisboa (ainda que em sentido proibido) e que nos levou da Praça da Portagem até à Universidade tão rapidamente quanto a intensa inclinação o permitiu. Aqui chegados e sem perda de tempo descemos ao jardim Botânico e subimos, via penitenciária, ao Penedo da Saudade e daí aos Olivais. Duro, Intenso mas Fantástico, nada chega aos calcanhares de uma travessia!


O domingo seguinte foi ocupado com um passeio pedestre na Serra do Sicó, supostamente para recuperação activa. O problema mesmo foram os 1000 de acumulado para menos de 20 kms. de extensão. Brutus este romanos!

(*) guru - espécie de sacerdote do BTT que acumula experiência, "joie de vivre" e, evidentemente, tem um quadro rígido em titânio.

Fotos by Mário Silva

3 comentários:

Fernando Carmo disse...

Gostei, particularmente, da definição de "guru"... :-D

MariaBolacha Free Espirit disse...

Olá Pedro
Mais uma bela aventura e ainda por cima pessoal.
É dessa que gostamos.
Obrigadão pela partilha.
PS: Não queres ir aos Caminhos de Avis este ano?
podes ver aqui http://www.projectobtt.com/index.php?option=com_smf&Itemid=32&topic=8520.msg151878#new
ou no mu site
www.mariabolacha.web.pt
Abraços
JorgeMariaBolacha

Anónimo disse...

Excelente blog. Ando há vários dias a procurar blogues deste tipo. Ainda não tive oportunidade de ler todo este post mas amanha irei le-lo concerteza na totalidade.
Só queria dizer que ando a planear a minha tour de verão. é a 1ª e consite em fazer porto algarve de bicicleta ao longo da costa ao longo de 7-10 dias. Gostaria que quem tem experiencia neste genero de tours me desse algumas dicas ou concelhos. Todos são preciosos.
Abraço.

o meu mail é: samuel__silva@hotmail.com