Texto: Pedro Roque
Fotos: Pedro Padinha
Esta segunda etapa do raide é completamente nova. Em 2010 o raide termina quase no extremo sudoeste de Portugal, isto é, em Vila do Bispo e, por isso, cruzamos cenários completamente novos porventura ainda mais bonitos e majestosos do que em edições anteriores.
Efectivamente, se nas edições anteriores se tomou o bonito caminho da margem direita do Mira, desta vez, seguimos pela esquerda, cruzando a ponte em Odemira e continuando uma centena de metros pela N120 que se abandona à esquerda. Sai-se do asfalto subindo um morro que nos conduzirá até Boavista dos Pinheiros. Trata-se de uma pendente forte com um gradiente muito acentuado e com a agravante do esforço ser efectuado sem o warm-up estar minimamente completado. É uma primeira introdução à adversidade.
Este é o primeiro dos diversos momentos de dificuldade física do dia já que a etapa é, maioritariamente, rolante com alguns picos de extrema dificuldade que farão com que se estabeleça um árduo compromisso entre distância e dificuldade.
A direcção inicial é a de poente até se alcançar o mar algures entre o Cabo Sardão e a Zambujeira do Mar. Assim, após Boavista, acompanhamos uma vala de irrigação durante algumas centenas de metros e cruzamos a N120 para entrarmos num magnífico bosque de sobro com um divertido rompe-pernas que culmina numa ascensão curta até um monte semi-abandonado. A presença de um profundo e inopinado barranco obriga à transposição da respectiva ribeira pela estrada após uma descida vertiginosa.
Assim a subida até ao Mal Lavado (funny name) é apenas mitigada pelo excelente asfalto que abandonamos à esquerda pelo meio de um rápido estradão que cruza um eucaliptal. Retomamos o asfalto, não aquele povoado de tráfico mas um estreito, degradado e deserto onde praticamente não nos cruzamos com viatura alguma, quando, num ápice e em alta velocidade, chegamos até junto ao Posto Fiscal do Sardão e ao mar. Aí viramos definitivamente para sul acompanhando a ciclovia que conduzirá à Zambujeira (por enquanto ainda em fase final de construção).
Na Zambujeira do Mar, com um dia de sol, o cenário é magnífico. Tempo pois de restaurar um pouco as energias com uma paragem numa esplanada em pleno centro.
Mas como não há tempo a perder temos de seguir para sul, descendo à praia e, de seguida, subindo uma difícil rampa num pavimento de mosaicos de betão perfurados no centro de forma a permitir a infiltração de água mas a dificultar, e muito, a nossa ascensão. Tal situação repetir-se-à alguns quilómetros adiante quando se descer e subir a praia do Carvalhal. Após este ponto e após se cruzar o tardoz de uma zona dunar (com a consequente dificuldade das areias) entramos no reino da horticultura com as suas estufas e terras de cultivo imensas com a identificação de algumas marcas de saladas que se encontram nas prateleiras dos super-mercados. Assim será durante inúmeros quilómetros até se empreender a descida para a ribeira de Odeceixe onde o Alentejo cederá o passo ao Algarve, sempre com o mar por perto a poente.
Cruzada a ponte de Baiona que, cruzando a ribeira nos introduz no reino do sul com uma enorme dificuldade pela frente – temos de recuperar a altitude perdida ao entrarmos no vale. Isso é feito pelo meio da típica povoação de Odeceixe perante olhares incrédulos dos locais. A ascensão é longa e penosa a exigir empenho redobrado. Alcançado o moinho segue-se a desilusão de constatar que a subida ainda não terminou e à que avançar pela Aldeia Nova do Concelho até se atingir a plataforma planáltica. É tempo de recuperação do pulso mas de rodar rapidamente por uma sequência de estradões que, com Maria Vinagre à vista a nascente, nos conduzirão até ao Rogil.
Cruzada, de novo a N120, a ligação a Aljezur será efectuada pela rápida e deserta N 1002 de forma a ganhar tempo. Alcançado Aljezur há que subir até ao seu castelo pelo meio de autênticas veredas urbanas a exigirem grande empenho. Iremos então ligar até à Carrapateira cruzando o magnífico cenário do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina. A princípio teremos que circular um pouco pela N 1003-1 que abandonaremos seguindo pelo cimo dos montes num agradável sobe e desce pelo meio de um cenário paradisíaco.
É no meio de um cenário deste gabarito que se desce até à ribeira e se liga, pela N 268 até à Carrapateira e daí pelo estradão litoral até à Praia do Amado, hotspot do surf internacional como o comprova a autêntica zona tribal em que se converteu o parque de estacionamento. Esta praia é uma espécie de postal ilustrado da Costa Vicentina e, em virtude do intransponível relevo em seu redor, há que cruzar a praia mesmo junto ao mar para se subir uma autêntica parede para nascente e se pedalar em direcção à praia.
Estamos perante as maiores dificuldades deste segundo dia (quiçá de todo o raide) agravadas pela quilometragem acumulada e, é com algum alívio, que se alcança, de novo, a N268. Para terminar em beleza há que sair da estrada para nascente para quase se alcançar a Raposeira e daí virar para poente e fazer os cerca de dois quilómetros finais pela ecovia do Algarve em direcção ao banho e ao descanso em Vila do Bispo.
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