quinta-feira, 15 de abril de 2010
E LÁ VAI ELE DE LISBOA A SANTIAGO EM AUTONOMIA - EPÍLOGO - SANTIAGO FINALMENTE
Texto e foto: Miguel Santiago
Dia 28 de Agosto de 2009 - Quase Santiago a Santiago Compostela
Pensei muito nestes últimos 4,600 mtrs e no que me poderia acontecer. Normalmente quando estamos a chegar é quando acontecem as coisas mais estúpidas por isso, disse para mim que iria redobrar ainda mais os meus cuidados, não seria este ultimo esforço que iria deitar tudo por agua abaixo. Sabia que pela minha frente ainda tinha uma ultima subida bem inclinada á chegada ao hospital.
Assim fiz, com uma prudência incrível. Parava em tudo o que me podia ser minimamente perigoso, pois desde este ponto onde se vê as torres sineiras é sempre a descer por um single track com alguns pontos traiçoeiros. Chego então ao alcatrão para a derradeira subida. Olho em redor para que pudesse prosseguir em segurança nas rotundas e cruzamento. Faço a progressão da subida lentamente com todos os dentes que tinha na cassete e ainda emprestei alguns meus. São cerca de 600 metros esta subida mas com uma inclinação acentuada e ainda por cima com carros a passarem ao meu lado. Nisto, um galego já dos seus 70 e muitos anos vê o meu esforço e incentiva-me para o final da subida. “BAI PELLEGRINO, BALLÉ” e que realmente dá um alento saber que alguém ali ao lado nos dá aquele pequeno empurrão.
As minhas “rotações” já iam altas, até que chego mesmo ao cimo, o telefone toca, como quem diz “ agora espera e atende”.
Arfava por todos os lados mas lá consegui atender o telefonema á minha prima mais velha “querida” e que também me acompanhou aqui no fórum. Não sei se ela me percebeu o que disse mas que estava radiante estava por ter conseguido chegar a Santiago.
Entro nas ruas movimentadas de Compostela.
Passo pela Porta da Faxeira que dá acesso á rua do Franco onde o fervilhar de peregrinos e forasteiros circulam nas rua entre tasquinhas e restaurantes com tapas de encher o olho e, com um olhar de admiração de quem passa com as suas mochilas ás costas. Eu calmamente circulo no meio já com o coração a bater forte da chegada até que desmonto da “Marina”, tiro o capacete em sinal de respeito e entro na Praça do Obradoiro praticamente vazia. “Como é possível, a praça só para mim!!!!”
Pedi a um peregrino que tirasse uma fotografia e depois de alguma conversa apercebendo-se que eu gostaria de estar comigo mesmo deixou-me simpaticamente com um sorriso e dando-me os parabéns.
Sentei-me no chão com a “Marina” ao meu lado a observar tão imponente Catedral e a passar tudo pela minha cabeça agarrado á minha bonita mascote “A Princesa Kika”, ao meu terço e á vieira, que foram sempre as três inseparáveis companheiras e a relembrar de todos os momentos que vivi nesta viagem. Confesso que me emocionei e lágrimas caíram de tão forte aquele momento foi. È indescritível. Só quem passa e lá está poderá avaliar um momento assim.
Mas tinha que reagir e assim levantei-me e olhando á minha volta reparei então que a praça se encheu de mais peregrinos que chegavam e que se abraçavam uns aos outros sinal de terem conseguido chegar de tão longe, demonstrando contentamento, correndo-lhes sempre lágrimas de emoção e de alegria
Dirigi-me então para a Oficina do Peregrino afim de tratar da Compostela.
Estava eu a estacionar a “ Mariana” quando olho para o lado e vejo 3 peregrinos portugueses eles também eufóricos por terem terminado também a sua epopeia. Meti conversa com um deles ( João Galvão – Nez ) e logo ali fiquei a saber que tinham terminado 1.100 kms da Via da Prata.
Cumprimentei os restantes companheiros (César Nunes e Ricardo Rosa – Zebroclinas) desejando-lhe os parabéns e comentei que eu tinha finalizado o meu Caminho desde Lisboa.
Logo ali me disseram para os acompanhar até á Praça do Obradoiro para as fotografias da praxe o que me alegrou imenso pois o acolhimento por eles foi fabuloso.
Depois das ditas fotografias tiradas lá fomos novamente para a Oficina do Peregrino agora sim, tratar das Compostelas enquanto que o João e o Ricardo foram tratar dos souvenirs.
Eu e o César mantivemos longa conversa sobre os nossos Caminhos.
Depois foi o alojamento que logo eles me disseram para os acompanhar até ao Seminário Menor (que de menor não tem nada) que foi transformado em hostal de peregrinos onde estavam cerca de 700 peregrinos alojados. Logo depois fomos ao já conhecido restaurante dos peregrinos “ Manolo” para a degustação dum reconfortante jantar e aqui se deu o insólito da situação.
Estávamos nós a rilhar as costelinhas quando eu disse que pertencia ao ForumBtt e que por brincadeira tinha colocado um tópico da minha viagem. Logo o Zebroclinas que estava á minha frente olha para mim, com uma costelinha no canto da boca, diz “ mas nós também pertencemos, quem és tu?” digo eu “ sou o Miguel Sampaio o K2 e que se despede sempre com 1 abraço e um Queijo da Serra, então porquê! “ é que eu sou o da Saudinha da Boa, e tenho o tópico O Céu como limite “ e logo o João diz “ e eu sou o Nez”.
Bem meus caros, depois disto foi gargalhada geral e os comentários que se geraram.
Agora digam-me, como é que nós que já nos tínhamos teclado aqui no fórum, não nos conhecíamos de lado nenhum, desejamos Bom Camino, não combinamos absolutamente nada, nunca nos falamos, eu saindo de Lisboa, eles de Sevilha e naquele jantar ficamo-nos a conhecer. Como isto é possível !!!!!!!! Incrível.
Depois do jantar estar concluído procedeu-se então ao tradicional Orujo de Hierbas gentilmente oferecido pelo simpático Manolo.
Quero deixar aqui um grande abraço para estes 3 novos Amigos que me acolheram de tal forma que palavras são poucas para lhes agradecer.
Ao César Nunes, ao Ricardo Rosa e ao João Galvão “un fuerte saludo” e o meu muito obrigado. Bem Hajam
Lá fomos então para o Seminário Menor pois este fecha á meia noite mas ainda deu para as despedidas pois estes aventureiros no dia seguinte ainda tinham a viagem de comboio até Lisboa enquanto que eu ficaria em Compostela afim de assistir á tradicional missa do peregrino que é sempre ao 12 horas, desta feita também com o lançamento do Bota Fumeiro.
Aqui outro momento muito comovedor.
Praticamente estão todos os peregrinos que terminaram os seus “Caminhos”. Muitos deles completamente arrebentados.
Todo o ambiente que rodeia esta cerimónia é duma intensidade incrível. Os cânticos até á música do grande órgão de tubos onde os sons enchem de tal maneira a Catedral e que se infiltram por nós dentro é de tal forma que não se resiste à grande emoção que provoca.
Ao meu lado tinha uma peregrina que não conseguiu resistir e eu tentei reconforta-la mas não consegui porque quando dei por mim já estava num estado de “ Maria Madalena”.
De tarde ainda houve tempo de ir almoçar ao Restaurante OBispo com a família e regressar a casa sem antes comprar mais umas setas “amarillas”.
Não queria acabar esta crónica sem agradecer a todos os que me acompanharam virtualmente e pessoalmente, pelas vossas palavras de encorajamento que foram essenciais.
Ao Ricardo Carvalho por ter metido conversa comigo naquele momento em que eu estava a tirar fotografias.
Ao Pedro Roque pelas dicas preciosas que me deu. Obrigado Papá Ró.
Ao Zé Rodrigues por ter sido a minha lebre desde Viana até Valença e ter me acolhido no seio da sua família. Obrigado
Aos Bombeiros Voluntários que me acolheram durante o percurso.
Ao Amaro Franco pela companhia com os 3 espanhóis no restaurante da Mealhada a comer bicho que ronca e que tem 2 buracos no focinho.
Um forte abraço ao Manuel Miranda, João Maria, Manuel Rocha do Núcleo da AEJ de Esposende pelo carinho com que me acolheram e pelo momento único e impar que me proporcionaram. Não há nada que pague isso. Bem dita á hora em que vos conheci.
Ao Júlio Costa por me ter acompanhado a mim e aos 3 espanhóis e à Lurdes Costa pelo fabulosos terços que me fez e por deixarem que o vosso neto Salvador me tivesse “acompanhado” nesta viagem na minha mente, perante tanta luta que ele teve para sobreviver, apenas essas 3 semanas de vida. Esse sim um grande “Guerreiro” na grande luta pela sobrevivência.
Ao Padre Jesuíta João Caniço por me ter recebido e termos tido uma conversa reconfortante.
Finalmente à Orb2 pelos seus fantásticos relatos da minha viagem sempre com Paulo Coelho como pano de fundo. Bem hajas pelo dom da escrita que tens.
Na calha já está outro “Caminho” praticamente desconhecido da maioria de vós e que oportunamente divulgarei.
Este deverá ter cerca de 700 kms em solo português e 120 kms no espanhol.
A todos que façam os Caminhos
Ultreia...
Até sempre
1 abraço e um queijo da serra
Miguel K2 Sampaio
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