terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mobilidades - a minha história

Este tópico está na moda, e só ontem, aqui e aqui falou-se no assunto - as opções de cada um, as "desculpas" de quem não sabe deslocar-se de outro modo que não o carro, e as diversas soluções para a questão da mobilidade. Também eu tive durante muitos anos, muitas desculpas. Aqui fica o relato de como mudei a minha vida. Não foi de um dia para o outro...

... mas foi assim:

Há 3 anos, quando procurava um local para instalar o meu atelier, coloquei uma premissa - teria de ser a uma distância de minha casa que me permitisse ir a pé ou de bicicleta para lá. Na altura, a nossa "frota" de veículos lá em casa, era dotada de 1 carrinha familiar, 1 citadino, 1 mota 600cc e 3 bicicletas de BTT (uma delas "convertida" para cidade/estrada - pneus com piso mais liso, transmissão com relações diferentes e suporte simples de carga). Embora andasse desde 1991 de bicicleta na cidade, o seu uso sempre foi relativamente reduzido. Em 1998, quando comecei a dar aulas perto das Olaias, tentava ir uma vez por semana de bicicleta (15Km para cada lado) - algumas semanas ia mais do que uma vez, outras acabava por ir sempre ou de carro ou de mota. Mas a realidade é que fui um "viciado" do automóvel desde 1995, quando adquiri o meu primeiro carro.

Avançando até 2007, apesar do atelier a cerca de 1Km de casa, acabava por fazer uso do carro mais frequentemente do que desejaria - isto porque sendo pai de 2 crianças, muitas vezes calhava-me a mim, a tarefa de os levar ao colégio, que se situa a uma distância tal, que impossibilitava levá-los a pé - quando só tinha que levar 1, por vezes fazia-o na cadeirinha da bicicleta. Ainda assim, costumava deixar o carro parado durante o dia, e fazia inúmeras deslocações na zona, a pé ou a pedal. Mas a minha profissão obriga-me a várias deslocações ao centro de Lisboa, e se por vezes o fazia de bicicleta, outras tantas socorria-me do automóvel ou da mota. Havia também alguns dias, em que precisava de levar mais umas tantas coisas para o atelier ou tinha de ir às compras, e já não cabiam na bicicleta - lá tinha mais uma vez de pegar no carro.


Durante este período, a minha consciência social e ambiental foi-se alterando, e comecei a sentir que ainda assim, estava a fazer menos do que podia. Passei a fazer um uso maior dos transportes colectivos. Da mesma maneira, a minha mulher, passou a deslocar-se para Lisboa sem recorrer ao seu carro. Estas nossas deslocações, ganharam ainda mais versatilidade e rapidez, ao adquirirmos uma bicicleta dobrável, a qual pode ser transportada gratuitamente e sem restrições de horário no autocarro ou no metro (já o fazia com a bicicleta normal nos comboios da CP, onde o mesmo já é possível há alguns anos desta parte). Ao contrário do que muitos pensam, andar de transportes públicos não nos faz perder tempo, mas sim ganhar - mesmo que a viagem não seja mais rápida do que de automóvel, o tempo passado dentro de um autocarro ou comboio, pode ser aproveitado para ler, por exemplo.
Com a melhoria da forma física, também o nº de deslocações integrais em bicicleta aumentou, pois a facilidade como que faço certos percuros sem ficar "ensopado em suor", assim o permite.

E começámos a "emagrecer"


Tinha mota desde 1998, e desde que nasceu o meu primeiro filhote, a sua utilização caiu bastante. Com o nascimento do segundo, e a mudança do meu local de trabalho para relativamente perto de casa, praticamente deixou de ser usada (no último ano que a tive, a mesma andou menos de 1000Km). Foi então a primeira coisa a ser decidida - a mota seria vendida. Se algum dia voltar a considerar ter mota, será uma até 125cc ou eléctrica, mais económica, e para que tanto eu como a minha mulher possamos usá-la.

No final do ano passado, consegui resolver a questão do transporte das crianças - adquiri uma Xtracycle. Trata-se de uma extensão que se adapta à maioria das bicicletas, e lhes confere uma capacidade de carga enorme, não só de objectos, como de pessoas. Ao contrário de outras bicicletas de carga, ou de um reboque, a condução da bicicleta com esta extensão, não é muito diferente - fica um pouco mais pesada, mas fica também mais confortável, graças à maior distância entre eixos. Desde então, passei a levar os miúdos à escola quase sempre desta forma, e desde que não esteja a chover à hora que saímos de casa, aí vamos nós - se no regresso eu apanhar chuva, já não há problema, pois com uma capa de chuva ou um blusão impermeável, passa-se bem. Quando está a chover mais, lá os vou levar de carro, mas volto a deixar o mesmo na garagem do prédio, e pego na bicicleta antes de ir trabalhar - com a chuva posso eu bem. Assim, transportar objectos volumosos, ir ao supermercado ou mesmo transportar outra bicicleta, deixou de ser um problema.

Desde essa altura, e até Junho, contaram-se pelos dedos das mãos, o nº de vezes em que os 2 carros saíram da garagem em simultâneo. Com tempo quente, tempo frio, chuva, sol - o teste estava feito, e confirmámos o que já antes tínhamos ponderado - iríamos ficar apenas com um carro. Pontualmente, se necessitássemos de mais um carro, recorreríamos ao car sharing da Carris, pois temos um parque perto de nossa casa.

Como a carrinha já estava velha, e o citadino não dava conta do recado nas restantes deslocações que sobravam (saídas de fim de semana em família, deslocações a casa da família nos arredores de lisboa, férias, etc) optámos por por vender os dois, e comprar uma carrinha quase nova - contas feitas, vendemos os 2 carros e a mota, e quase não foi necessário juntar mais dinheiro para termos um carro (quase) novo. Continuando com as contas, só o facto de passarmos a ter um carro em vez de dois, e tendo em conta que os gastos em combustível e portagens eram já reduzidíssimos, e os carros já não eram novos, esta opção significa uma poupança de cerca de 2.500 a 3.000 Euros/ano em gastos com 1 automóvel (desvalorização, oficina, seguros, etc). Os custos por detrás da utilização do carro, estão muitas vezes escondidos, e para um automóvel novo, e uma utilização maior, facilmente estes valores sobem para cima dos 4.000 ou 5.000 Euros/ano. Agora pensem em quantas horas trabalham por dia, só para "alimentar" a posse do automóvel.


E não foi só isto que reduzi neste último ano - consegui perder 6Kg e assim recuperar o peso que tinha aos 18 anos.


E vocês, estão prontos para mudar a vossa vida?

1 comentário:

Miguel disse...

Muito bom!

Quando o meu puto crescer vai ser mesmo a Xtracycle!

Abraço!