O desafio havia sido lançado: a ligação entre as Caldas da Rainha e Lisboa em BTT. Além de mim e do habitual JC, apenas o Nuno Santos se prontificou a acompanhar ainda que apenas até ao Vale da Guarda (Malveira) já que por questões logísticas tenha optado por regressar a Torres Vedras por estrada.
Esta não era, à partida, uma ligação fácil com uma quilometragem elevada e uma altimetria pesada a exigirem um apuro de forma razoável. Havia ainda o problema logístico que constitui sempre um quebra-cabeças quando o traçado é retilíneo e o ponto de início não coincide com o de chegada.
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Os primeiros quilómetros "à vela".
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Assim, a aposta na ligação ferroviária logo de início permitiu estar sem o peso do horário de comboio a pressionar (e que foi responsável pelo facto de não ter completado percurso idêntico anteriormente). Ao mesmo tempo, iríamos a favor do vento e, neste domingo, a nortada fez-se sentir de novo fortemente. O vento, já o sabemos, pode ser um problema para quem pedala mas, tê-lo como aliado numa incursão que se fez de N para S, é um fator de agradibilidade acrescido. De resto a média superior a 15 kms./h com tal altimetria é bem elucidativa.
E chegados às Caldas (após 2 horas num regional) os primeiros vinte kms. até ao Olho Marinho foram percorridos a um ritmo infernal. Pudera, eram planos e no túnel de vento...
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O Cársico no Olho Marinho |
Aí seguiu-se um percurso muito duro até se chegar às termas do Vimeiro com um sobe e desce constante por vales profundíssimos a criar o primeiro desgaste verdadeiro. Começa por se subir até ao planalto das Cesaredas. Entramos assim no concelho da Lourinhã e no distrito de Lisboa começando a fletir para a costa. Desce-se para Moledo, torna-se a subir até Nadrupe, descendo e subindo à Marteleira e a Santa Bárbara (na violenta subida nem deu para pensar em trovoadas).
Seguiu-se a Ventosa, a Fonte de Lima e a descida por troço da PR3 que é um percurso de antologia: rápido e técnico q.b. perante a satisfação generalizada para se rolar, depois, tranquilamente na estrada das termas que acompanha o troço final do Alcabrichel.
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Final da descida do PR3 |
A partir daí e de novo a subir com uma descida para Ponte do Rol onde se restauraram algumas energias. Para subir de novo em direção a Freiria e à temível Serra de Chipre para mais com um engano que nos valeu uma subida extra a empurrar a bicicleta.
Na descida para o Vale da Guarda o cruzamento com um grupo de turistas americanas, devidamente capitaneadas por uma taxista de Mafra (a pé) e em demanda do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico. A desorientação era tal que uma delas, quando nos avistou, gritou "human beings!" (thank God).
No cruzamento do Vale da Guarda com a N8 despedimo-nos do Nuno e seguimos em direção à Malveira não sem antes ter se subir longa e lentamente o Jerumelo por um caminho insano. Aí chegados rapidamente chegamos à vila saloia da Malveira onde aproveitamos para restaurar energias num local fantástico.
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Detalhe perto da Lourinhã. |
Trata-se de um botequim, aparentemente normal mas que, além de aliar a qualidade ao baixo preço, possuía uma caraterística interessante: a respetiva proprietária funcionava qual oráculo de Delfos respondendo a todas as questões que iamos levantando. Era uma espécie de versão coscuvilheira do Google porque, diga-se em complemento, nem a senhora estava na nossa mesa, nem estávamos a falar com ela mas, apesar disso, as respostas sucediam-se em catadupa. No final ainda disse para voltarmos sem as bicicletas pois assim estavamos a comer muito puco por causa de subir o cabeço de Montachique (sim, ela até sabia que íamos subir Montachique). Notável!
O problema foi mesmo esse, subir Montachique depois de cruzar inferiormente a A8, naquele que foi, sem dúvida, o maior e derradeiro esforço do dia. A partir daí foi uma descida monumental desde aqueles altos até à várzea de Loures e que descida, meu Deus. A verdade é que já a merecíamos.
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A terrível subida do Cabeço de Montachique. |
Destaque ainda o palácio da Mitra no Tojal que é sempre um ex-libris a não perder. A partir daí foi circular ao lado do Trancão pelo já conhecido caminho do Tejo até ao Parque das Nações e daí até casa.
Para trás ficou uma incursão longa e dura mas que, curiosamente, se percorreu com elevada agradabilidade.
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