Quem conhece o Abrasar não estranha a paixão pelos passeios de bicicleta de Verão em todo o terreno em completa autonomia durante o dia todo a percorrer os trilhos e sem horas de chegada ao destino. Maximizar o tempo possível para andar de bicicleta e apreciar todos os momentos da natureza, história e gentes dos locais por onde passamos, sentir com calma todas as "etapas" do dia desde a manhã até ao recolher do fim do dia é o principal objectivo.
Assim neste contexto posso afirmar que a realização completa de que eu me lembre, foi no passado dia 23 de agosto em Montalegre, na companhia de mais três amigos fantásticos que perceberam a mensagem do convite que fiz e fizemos uma expedição de quase nove horas na companhia das nossas montadas de duas rodas, pelo Norte do País nos planaltos e serranias em redor do enclave de Tourém do concelho de Montalegre.
Tourém desde de sempre me suscitou curiosidade por se encontrar numa espécie de península fronteiriça com Espanha e também a aldeia de Pitões das Júnias em particular pela força da história que rodeia o seu Mosteiro Santa Maria das Júnias classificado de Monumento Nacional.
Assim passamos ao rescaldo desta evasão que curiosamente começou bem logo com um engano... ou não do amigo Pedro Velhinho... com a partida do parque de estacionamento do super mercado na rotunda da Marginal Cávado, em grande subida pela rua senhor da Piedade... Para entenderem é que levavamos dois gps com um trilho retirado do gpsies de nome de Rota das aldeias históricas do autor joãoluis, e nestas coisas para quem sabe algumas vezes andamos às voltas no início. Bem mas não foi o caso, afinal o objectivo foi conhecer o centro e o monumental bem conservado castelo de Montalegre, e que logo de seguida se fez a bem orientada descida para o início do percurso após atravessar o ainda nesta zona "jovem" rio Cávado.
Verificamos que o percurso desenvolveu-se essencialmente por montanhas, vales e grandes planaltos e neste dia a originar grandes diferenças de temperatura bem fresquinhas no alto das duas montanhas que tivemos de subir acima dos mil metros de altitude e que foram as maiores dificuldades do dia. Os trilhos na sua maioria em estradões a percorrer as serras e planaltos foram a plateia de excelência para nos mostrar a bela paisagem desta região do Barroso felizmente a recuperar dos últimos incêndios com os carvalhos a mostrarem folhagem assim como a urze e giestas. Os animais a circularem livremente também não nos desiludiram ao aparecerem como os garranos, gado barrosão, burros e o interessante foi encontrarmos cães sempre de porte intimidante e não nos incomodarem vindo ao nosso encontro a ladrar como é costume fazerem quando avistam uma bicicleta?!?!
Mas além da paisagem natural esta região é rica no seu povoamento com muitas antigas aldeias espalhadas pelos planaltos e vales existentes numa curiosa simbiose com a mesma realidade do lado de Espanha. E o interessante foi aparecer a primeira pedra a assinalar a fronteira dos dois países, depois de conquistarmos a primeira subida bem perto das imponentes e modernas eólicas que se instalaram em quase todas os recortes das serras circundantes.
Atravessamos quatro vezes a fronteira e encontramos sempre os mecos retangulares de granito marcados de um lado com um E e do outro com um P, literalmente conseguimos estar com um pé em Portugal e outro em Espanha.
Despois de Randin, a aldeia do lado de Espanha que devido à hora nenhum movimento tinha, foi com agrado que já Tourém tinha movimento e com um café aberto onde podemos trocar alguns conhecimentos sobre a região.
Ficamos a saber que as duas aldeias desde 2004 promovem num dia de agosto um encontro religioso de duas procissões, uma parte de Randin outra de Tourém para se encontrarem exatamente na fronteira onde existe um dos marcos, e atualmente para assinalar o evento foi colocado outro com um simbolo de aperto de mãos gravado na pedra. No dia é ainda realizado um convívio com o passar do dia na praia da albufeira e com atividades culturais e desportivas entre as pessoas de ambas as aldeias. Muito mais haveria a descrever sobre estas aldeias de casas de granito, com imensas fontes de água fresca para beber, lavadouros atuais e antigas construções como os fornos do povo, levadas ou lameiros antigos a fazer circular as águas pelas ruas e a dar de beber aos animais existentes, mas o nosso passeio continua e com mais experiências interessantes somos confrontados.
E neste aspecto direi que o ponto alto foi a interacção que tivemos com a paisagem da albufeira Espanhola que retém água do Rio Salas, pois além de ser um vale com uma temperatura agradável as praias existentes nas margens estavam sem ninguém e as suas águas estavam quentes e digo isso com conhecimento pois não resisti em tomar um banho... Uma só palavra que encontro para descrever o local,paraíso...
Do paraíso saímos com dificuldade quase que a nos dizer para ficar pois a seguir foi sempre a subir novamente em direcção dos mil metros de altitude. Pitões das Junias seria para mim o matar da curiosidade em conhecer o local e acima de tudo o seu Mosteiro. Pelo caminho finalmente encontramos os Garranos, a mostrarem bem a sua vida selvagem ao fugirem para bem longe quando notaram a nossa presença. Tivemos até bem perto destes animais muito pela vantagem das nossas rápidas e silenciosas bicicletas. Continuamos e a forte presença da exploração do gado barrosão era já evidente e demonstrativo de que estávamos perto da aldeia que nos fez uma agradável surpresa gastronómica. Pois encontramos um simpático e cuidado restaurante que se do exterior convidava a entrar por dentro era uma autêntica obra de arte popular na sua decoração.
Sandes de presunto com pão de centeio... e note-se a preciosidade... pão de centeio quente e mais umas sopas de grão de bico, afinal um manjar de hidratos de carbono acompanhados dos essencias sais e minerais naturais de que precisariamos para continuar a expedição.
O Mosteiro não desiludiu pelo contrário ainda mais intrigante ficou para mim que o imaginava num planalto aberto e afinal está localizado exatamente ao contrário, escondido num vale profundamente vincado em V perto de um ribeiro acessível por um sinuoso caminho tipo geira romana de pedra torturosa que fez das suas ao atirar ao chão o nosso amigo Zé num aparatoso tombo quando apenas tentava arrancar de bicicleta.
Voltamos novamente a pedalar agora com o fim do dia a aproximar-se e a subirmos novamente por caminhos mais difíceis de progredir, alguns animais já se juntavam para livremente ficarem nas suas "camas" contruídas por eles próprios na terra. A última serra foi vencida e a descida para o vale do rio Cávado fazia-se sentir, mas não antes de fazermos uma paragem técnica para meu contentamento e do Pedro das Amoras atestarmos as barrigas desse fruto silvestre. Com o Sol a aquecer as nossas costas e com alívio sentirmos que já não estávamos no alto da serra agora a ser tocada por nuvens frias e carregadas de humidade, progredimos num serpentear por várias aldeias carregadas de simbolismno histórico de difícil descrição mas de grande interesse e riqueza em pequenos pormenores que nos enchiam os nosso olhos e nos faziam sentir outras realidades onde o antigo se junta agradávelmente com a atualidade da vida das pessoas que habitam esta região.
Assim acabou esta evasão, este passeio de Verão onde termino agradecendo aos três amigos que fizeram uma excelente companhia apesar de termos condições fisicas diferentes idades igualmente diferentes, compreendemos a essência do objectivo deste passeio e de certeza que saímos ainda mais amigos deste nosso país desconhecido depois desta experiência de quase nove horas de companhia com as bicicletas, num total de 73 km´s.
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