segunda-feira, 5 de novembro de 2012

PELA ROTA VICENTINA


Por manifesta falta de tempo de redacção só agora vos deixo este relato da travessia da Rota Vicentina que efectuei nos passados dias 26, 27 e 28 de Julho.

Era suposto ser uma incursão a duo mas, por força das circunstâncias, foi a solo: dois dias pela Rota Vicentina (GR11) ligando Setúbal ao Algarve com um complemento de um dia extra pela Ecovia Algarviana de Lagos até Faro.

Em bom rigor não percorri na integra a referida GR uma vez que ela está apenas para já marcada de Santiago do Cacém para Sul. Ainda assim, em virtude do meu conhecimento do terreno optei, no primeiro dia, por um mix, até porque os habituais 145 kms. (2150 m de acumulado) entre Setúbal (Tróia) e Odemira não permitem que se acrescente mais quilometragem ou altimetria como a que aconteceria se optasse pela GR em dadas passagens, sob pena de se tornar inexequível.

Stopover at Paiol, Sines.

Embora estando no limiar do esforço e da exequibilidade, esta habitual travessia Setúbal - Odemira a fazer-se com a mesma sensação com que tenho percorrido as grandes quilometragens habituais como, por exemplo, a ligação a Fátima, isto é: uma enorme distância mas, em virtude do hábito e da rotina, um conhecimento (quase) perfeito do terreno, de tal modo que o GPS é praticamente dispensável, pese embora algumas zonas algo intrincadas a exigirem que se consulte a pantalha just in case. Tal circunstância permite uma gestão do esforço optimizada e, no final, o desgaste torna-se relativamente contido mas, ainda assim proporciona uma noite de sono justa e perfeita.

O segundo dia, mais curto em termos de quilometragem, 100 kms. (2000 m. de acumulado) foi o das grandes novidades pese embora também tenha optado por um mix em alguns locais e, a partir de Aljezur tenha flectido para SE, já que a esta ligação terminaria em Barão de São João (Lagos) tendo, desse modo, de abandonar o rumo da GR que segue em direcção a Sagres.

The"detente" at Rogil, Aljezur

A ligação Odemira - São Teotónio, via GR, nos quilómetros iniciais, segue pela margem esquerda do Mira sobe uma das suas ribeiras e constitui  um encanto sensorial. Trata-se de uma paisagem do mais bucólico que se pode conceber. Há qualquer coisa de mágico e sobrenatural em percorrer os caminhos ripícolas junto ao rio Mira, pela brumosa manhã, mas que, infelizmente, não vos consigo traduzir em palavras.

Em São Teotónio uma pausa na praça central perante a curiosidade geral e a continuação até Odeceixe a revelar-se também fantástica sobretudo quando se acompanha as margens da sua ribeira. Após esta localidade, subida arduamente pelo seu miolo, seguem-se as longas rectas até ao Rogil, deliberadamente ignorando a GR em benefício da rapidez de deslocação proporcionada pelos caminhos agrícolas e margens dos canais. Do Rogil a Aljezur, a opção por uma estrada secundária e rapidamente chego e ultrapasso aquela terra algarvia para me internar pelos meandros da Serra de Espinhaço de Cão num sobe e desce permanente até alcançar a albufeira da Bravura e daí até Bensafrim em direcção ao descanso merecido em Barão de São João.

The magnificent Alvor's Creek

No dia seguinte, o terceiro e último, foi tempo de Ecovia do Algarve com 120 kms. de extensão (1240 m. de acumulado). Se bem que, nos concelhos de Lagos e Portimão, nem se vislumbre sombra da dita, a partir do momento que passamos o Arade e nos internamos pelos concelhos de Lagoa, Silves e Albufeira ela revela-se em todo o seu esplendor com caminhos rurais bem escolhidos alternando com as travessias das povoações mais importantes: Lagoa, Armação de Pêra, uma magnífica transição da bela Lagoa dos Salgados, Galé, Sesmarias e a chegada a Albufeira.

Segue-se uma zona urbana e peri-urbana a exigir atenção redobrada para que não se perca o rumo via Santa Eulália e Olhos de Água para se alcançar a zona da Falésia e a transição para o concelho de Loulé, após a transposição da Ribeira de Quarteira e a entrada em Vilamoura. Aí, como é habitual, opto por seguir pelo caminho da Marina em virtude da sua agradabilidade para, de seguida, tomar as praias e chegar a Quarteira e ao calçadão.

Ferragudo Belvedere

Foi tempo de descansar um pouco a olhar para o mar e seguir até Vale de Lobos e daí para a Quinta do Lago e, por um atalho à Ecovia (e que segundo informações de que disponho passará a ser o futuro traçado da via), chegar ao Ludo percorrer um enorme e estreito caminho pelo esteiro em plena Ria Formosa, até junto ao aeroporto e à estrada de acesso à Ilha de Faro. Daí tomei a ciclovia que percorre paralela à pista de aterragem mas que termina de repente. Não resta outra alternativa senão improvisar pelas salinas junto à vedação contornando toda a zona sul e poente do aeroporto e daí se segue em direcção a Faro a nascente de Montenegro. Num ápice alcançamos a estação ferroviária e a cidade onde damos por terminada a nossa dura incursão.

Em jeito de conclusão: mesmo a solo uma travessia de BTT não deixa de ter uma elevada agradabilidade e esta foi absolutamente estupenda. Mais uma vez me sinto um privilegiado por conseguir conciliar este triângulo virtuoso constituído pela forma física, sensibilidade e arrojo que resultam na sensação de felicidade que só uma incursão de BTT com estas características proporciona e que se prolonga para além das horas em que estamos no selim a percorrer esses fantásticos caminhos do Portugal autêntico.

Looking Forward for the next one!

4 comentários:

Ulopes disse...

Olá Pedro,
Muito obrigado por mais esta excelente narrativa... dá para sentir a brisa !!!
Será que disponibilizas o track GPS?
Grande abraço
Ulisses

Ulopes disse...

Olá Pedro,
Muito obrigado por mais esta excelente narrativa... dá para sentir a brisa !!!
Será que disponibilizas o track GPS?
Grande abraço
Ulisses

Ulopes disse...

Olá Pedro,
Muito obrigado por mais esta excelente narrativa... dá para sentir a brisa !!!
Será que disponibilizas o track GPS?
Grande abraço
Ulisses

Ulopes disse...

Olá Pedro,
Muito obrigado por mais esta excelente narrativa... dá para sentir a brisa !!!
Será que disponibilizas o track GPS?
Grande abraço
Ulisses