quarta-feira, 27 de setembro de 2000

Conquista de Lisboa aos Mouros

Pela segunda vez em menos de três dias a bicicleta conquistou a cidade deLisboa. A iniciativa "Lisboa Antiga em BTT" promovida pelo Bike Team nopassado dia 24 de Setembro ocorreu, precisamente, dois dias após o "dia semcarros" no qual milhares de ciclistas haviam, literalmente, invadido acapital e constatado a maravilha que seria essa utópica cidade sem a "pragaautomóvel".Nesta versão 2000 a partida e a chegada foram transferidas para o largo daTorre de Belém, medida acertada uma vez que com os problemas que o Terreirodo Paço tem sofrido arriscavamo-nos a ter uma prova aquática...Quando chegamos ficámos assustados com a imensa ciclo-floresta. De facto seem 1999 havia muitas bicicletas, em 2000, como que duplicaram. A estacircunstância não será alheia, certamente, a realização do aludido "dia semcarros", precisamente dois dias antes e o estupendo dia de sol com que fomosbrindados.Desta vez o "Diogo" não passou por aquelas bandas e todos tivemos direito auma T-Shirt, de resto a organização esteve, como sempre, a bom nível, o que,de resto não era uma tarefa nada fácil tendo em conta o número elevado deciclistas presentes e olhem que estamos a falar de largas centenas.Com o atraso nacional da praxe lá fomos, pelas 10:30, em direcção a Oriente,pela Avenida de Brasília, com o batedor da PSP a fazer as honras da casa. Osautomobilistas que paravam nos cruzamentos devem ter sofrido atrozmente outédio ou de raiva já que vários minutos distavam entre a passagem dosprimeiros e dos últimos. Só tomámos verdadeiramente consciência desse factoquando, ao curvarmos no viaduto que liga a zona das docas à Avenida InfanteSanto, demos conta da multidão que nos seguia (nestas coisas não há comoandar à cabeça do grupo).Entrámos na Lapa e começou o interesse deste tipo de jornada, as ruasestreitas, as calçadas escorregadias as travagens apertadas - o teste aodomínio da máquina, tal como na montanha. Foi assim que cruzamos a Madragoaperante a incredulidade dos seus habitantes. Temos que admitir que é umagrande maldade alterar a pacatez dominical daquela autêntica aldeialisboeta, para mais com hordas de ciclistas.Seguimos para S. Bento, sede do poder legislativo da República e entramos noBairro Alto. Por muito que conheçamos o Bairro Alto a sua arquitectura eurbanismo refinados deslumbrar-nos-ão sempre, é assim na rua da Academia dasCiências, na Rua do Século ou na Travessa dos Inglesinhos. Atravessar essasartérias de bicicleta é uma experiência gratificante, se bem que grandeparte da nossa concentração esteja deslocada dos aspectos estéticos eabsorvida com coisas mais prosaicas como sejam a trajectória da curvaapertada que temos por diante ou o companheiro que segue na nossa dianteirae que resolveu meter os travões a fundo sem se saber bem porquê.A chegada ao Carmo foi apoteótica sobretudo porque os "slick" que levávamosdesentenderam-se com o carril do eléctrico e motivaram-nos um indesmentívelcontacto de terceiro grau com a calçada daquele estupendo largo lisboeta.Nada de extraordinário, de resto para quem anda à chuva o desfecho maiscerto é molhar-se...Foi tempo para o reagrupamento pois as ruas estreitas haviam alongado opelotão. O largo, consequentemente foi inchando, abarrotando de bicicletas ede ciclistas. Quem também parecia incrédulo era o sargento de dia do quartelque, provavelmente, desde o tal dia, na Primavera de 1974, nunca deveria tervisto tanta gente no local, só que aí as bicicletas eram outras...Foi então a vez de descer ao Rossio, contorná-lo, cruzar S. Domingos eavançar para a efectiva conquista do castelo. No Martim Moniz correu tudobem e não demos conta de ninguém ter ficado entalado, só que a hora daverdade aproximava-se: a tomada da Mouraria pela temível Calçada dosCavaleiros: carril do eléctrico, desnível acentuado e longo, empedradoirregular e escorregadio são os seus cartões de visita e aí as pernas e ospulmões falaram mais alto pelo que a chegada à Costa do Casteloassemelhou-se ao descanso do guerreiro, de pouca dura, de resto, é quecontornada a Costa havia que subir os metros finais até ao castelo. Mas,finalmente alcançámos as muralhas e a conquista estava consumada. Lisboaestava ali, magnífica, aos nossos pés!As tropas instalaram-se às portas das muralhas ocupando o espaço perante aadmiração de muitos turistas estrangeiros com especial destaque para osindefectíveis japoneses, provando porque é que são o povo que mais fotografaem todo o mundo. Assim muitos de nós arriscamo-nos a ficar, para sempre,guardados num álbum de recordações da visita a Lisboa de uma família daclasse média de Tóquio - "Domo Arigato Akiro San".Pausa indiscutível, o Tejo e a cidade aos nossos pés, mais um daquelesmomento em que redescobrimos a superioridade do BTT, verdadeira modalidadede eleição.Retomada a marcha, encetamos a clássica abordagem descendente de Alfama:Santa Luzia, S. Tomé e a incontornável descida da Rua da Regueira autêntico"single-track" alfacinha embora este ano sem febras a grelhar no meio da ruae sem lençóis brancos a secar como no ano transacto. Em Alfama o povo é maisextrovertido e incita os ciclistas batendo palmas como na "Volta" e gritandopelo "Benfica", certamente inspirados pela jerseys encarnadas dos elementosda "Bike Magazine"...Chegamos ao largo da Sé, descemos para a baixa e alcançamos os bacalhoeirosonde passamos ao Terreiro do Paço. Transposto o Caís do Sodré e, porque afome já apertava, foi uma correria até regressar ao Restelo. Aí os nossos"slick" demonstraram toda a sua grande utilidade em asfalto. Era possívelcircular na casa dos 40 kms. por hora! Daí que as sanduíches e o CompalLight nem tiveram tempo de aquecer.¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤º°`°º¤ø¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤º°`°º¤ø¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤Saudações Virtuais, Virtual Best RegardsAntónio Pedro Roque Oliveira

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