sexta-feira, 5 de dezembro de 2003

Do Guadiana à Costa Vicentina - 3 dias intensos (etapa 3)

3.ª ETAPA – ROGIL – CABO DE SÃO VICENTEQuer pela distância, quer pela altimetria, quer ainda pelo facto deser a derradeira, esta poderia ser considerada como a etapa deconsagração. Os factos demonstraram que assim foi.Ainda assim este foi o dia em que os elementos mais se uniram contraos ciclistas: a temperatura baixou, o vento soprou em rajada e achuva, sob a forma de aguaceiro forte, abateram-se sobre nósimpiedosamente mas que mereceram, da nossa parte, um salutar eolímpico desprezo.Nada, nem ninguém, nos faria demover do nosso intento de alcançar oCabo que ostenta o nome do padroeiro de Lisboa.Após umas afinações iniciais (sobretudo ao nível dos travões já queas fortes descidas do dia anterior, aliadas ao terreno molhado,haviam provocado alguns estragos a este nível) lá partimos emdirecção à vila de Aljezur tendo optado por seguir por uma estradasecundária e sem pressas como forma de efectuar um recomendávelaquecimento.Chegados a esta histórica povoação foi tempo de nos embrenharmospelas ruelas históricas ascendendo até ao castelo. É uma tarefaárdua já que a pendente é muito elevada transformando as vielas emautênticas rampas, bem inclinadas e de mau piso.Chegámos rapidamente à Alcáçova onde parámos para a fotografia dapraxe em grupo.Seguimos em direcção a Vale da Telha e, já em pleno Parque Naturaldo Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, rolámos de forma muitorápida pelos estradões que cruzam os pinhais e eucaliptais e, numabrir e fechar de olhos, alcançamos a várzea da ribeira da Bordeiratendo como companhia, a nascente, a incrível serra de Espinhaço deCão e, mais ao longe e na mesma direcção, a Fóia, desta vez bemdescoberta e com o seu perfil inconfundível.A seguir à Bordeira seguimos, durante algumas centenas de metros,pela Estrada Nacional até à povoação da Carrapateira. Aí divergimospara poente para os estradões que seguem já junto à costa. Passamosa Ponta da Carrapateira e paramos numa falésia junto ao mar num dosraros momentos de sol da jornada numa zona de incrível beleza: acosta vicentina no seu máximo explendor!A próxima paragem foi efectuada pouco depois na Praia do Malhão bemconhecida do circuito internacional do Surf. Apesar deste Outonotardio ainda por ali pairavam desses seres estranhos embora todos aseco já que a agitação marítima não se compadecia com essaactividade desportiva.Aí aproveitámos para reabastecer as nossas energias. A ideia eraseguir, "à mão" pela praia para, depois subir a falésia junto à fozde uma ribeira. Numa breve análise calculei que fosse possívelpedalar pela praia já que estava baixa-mar. Aproveitei a descida e,aumentando a rotação de pedal numa relação mais baixa consegui pôr-me junto à linha de água, onde a areia é mais firme e por aliseguimos naquele que foi, certamente um dos mais interessantesmomentos da travessia.Ainda sob o signo humorístico do sal, o "Senhor da Boutique"resolveu fazer-se fotografar a encher o cantil de água salgada. Sábe-se lá porquê? :-)Tarefa dificil foi a de transpor a duna e subir a falésia, queembora fosse ciclável, tinha uma pendente incrível e um pisoterrivelmente solto. Foi um daqueles momentos mágicos do BTT em quese olha para trás e se constata que, em cerca de 2000 metros seascendem dos 4 aos quase 300 metros! A vista era, por seu turno,deslumbrante.Retomamos a estrada para, por ela nos, deslocarmos velozmente atéVila do Bispo. O sabor a final já estava no ar. No entanto tomossabemos como, por norma, os últimos quilómetros são, muitas vezes,os mais difícieis de vencer. Também aqui não foi excepção.Tomamos então uns estradões por uma espécie de estepe, por debaixode um autêntico dilúvio, até se alcançar o Cabo de São Vicente quealcançamos após 67 quilómetros e a umas simpáticas 2 horas da tarde.Era o final da travessia, 292 duros quilómetros após abandonarmos apraia fluvial de Alcoutim!O sabor a vitória e a dever cumprido pairava no ar aliada à enormesensação de alívio.EPÍLOGONunca duvidei que conseguisse mas foi mais duro do que penseiinicialmente. Por manifesta falta de tempo, não efectuei nenhumapreparação específica para esta travessia. Mantive os treinoshabituais de natação e corrida mas nenhum cuidado específico aonível alimentar.Por causa da luz do dia disponível nesta altura do ano o ritmoimposto foi forte e o grau de exigência física foi elevado. Poroutro lado os perfis de tipo "sobe e desce" são terríveis paramanter um ritmo constante. Pessoalmente prefiro ascensõesinequívocas e demoradas são mais facilmente geríveis em termosfísicos.De resto as duas baixas aliadas a alguns recursos ao jipe de apoiopor parte de alguns elementos na segunda, mas sobretudo na primeiraetapa estão aí para o provarem.A indicação de nível físico médio foi feita à medida do João Marquesjá que, para a maioria ela foi elevada embora, pessoalmente, játenha enfrentado desafios ainda mais exigentes ainda que, todoseles, de um único dia e a respectiva sensação de alívio seja obtidaao fim de uma única jorna e não como aqui apenas ao fim de três.De resto, o final do primeiro dia foi mesmo o pior de todos,sobretudo se tivermos em conta que ainda restavam mais dois pelafrente.Outro pormenor interessante foi o lado paisagísitico. Alguns doslocais são efectivamente muito bonitos. É o Algarve profundo doBarrocal mas sobretudo da Serra e também da Costa Vicentina adeslumbrarem quem não os conhecesse (e também aquele que, como eu jáconheciam alguns do locais).Felicito todos os que, comigo, partilharam aqueles, afinal, brevesmomentos de eternidade!

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