segunda-feira, 23 de maio de 2005

Reconhecimento das Linhas - avançando por Mafra!

Ontem eu e o Jorge Cláudio abordámos o reconhecimento mais um troço
das "Linhas de Torres". Desta vez a segunda parte da
chamada "segunda linha" ou seja, a que vai da A8 para nascente até
ao oceano no concelho de Mafra.

A tarefa afigurava-se como muito difícil e o track virtual já o
demonstrava se qualquer margem para dúvidas: 100 kms. de extensão e
3300 metros de acumulado.

Assim foi preparado um plano de contingência para evitar chegar de
noite uma vez que era a nossa "premiere" em muitos daqueles terrenos
e os reconhecimentos têm de ser efectuados a ritmos e com
preocupações diferentes do normal pelo que a média se ressente.

Este não foi excepção uma vez que há caminhos que, ou já não
existem, ou estão impraticáveis e devem buscar-se alternativas "ad-
hoc" no momento.

Ainda assim foi cumprido quase na integra e deu para ter uma boa
aproximação do que deverá de ser um traçado definitivo a ser
alcançado numa segunda sessão a ter lugar em breve e que permitirá
ter a "Segunda Linha" reconhecida a 100%.

O começo foi, curiosamente, já no paralelo de alguns fortes de
primeira linha, ou seja, em Enxara do Bispo, no norte do concelho de
Mafra e muito perto do acesso da A8. Esta escolha será, no entanto,
alterada talvez por Vila Franca do Rosário, o que permitirá reduzir
a ligação inicial e final nalguns quilómetros.

Até porque a realidade correspondeu, desde logo, à expectativa, ou
seja, o início foi logo marcado por uma subida demolidora a dar o
mote do que seria o dia em termos ascensionais.

Subimos pois, penosamente, até Vila Franca do Rosário, descemos o
vale de Pedrulhos para nova subida demolidora até ao parque eólico
do Alto da Serra da Escusa. A partir daí descemos de novo e rolamos
até à zona da Malveira para abordarmos o primeiro dos fortes: o
Matoutinho, num cabeço imponente que medeia entre a Malveira e a
Venda do Pinheiro e que domina a zona da actual A8.

Este forte não está acessível já que o caminho começa em propriedade
privada. No entanto é importante passar junto a ele pois é um
daqueles que se impõem na paisagem.

A partir daí descemos até à Venda do Pinheiro para abordarmos o
Forte da Quinta do Estrangeiro que fica junto a uma antena celular e
sobranceiro à povoação, por cima mesmo do centro paroquial. Está,
como muitos, coberto de vegetação.

Rapidamente prosseguimos para a Malveira onde alcançámos o Forte da
Feira, muito bem recuperado pela Câmara Municipal, com um placard
interpretativo que incluia a localização dos fortes no concelho e
uma breve descrição da tipologia deste e da História da terceira
invasão. Um exemplo, infelizmente isolado. Este forte dominava a
passagem do vale ocupado actualmente com o caminho de ferro e a
EN116.

Foi tempo de subir penosamente até ao de Santa Maria, talvez o forte
mais alto dos que visitámos ontem. Tem instalado em cima um
retransmissor da PT, inteirinho, mas dá para observar o fosso, em
bom estado de conservação. Este forte domina o Vale da Junqueira e a
zona de passagem da novíssima e recém inaugurada A21 (que torna o
acesso viário a Mafra muito mais fácil).

Daí fizemos um circuito para reconhecer os fortes de Casal Pedra
(que foi impossível de descobrir, já que a sua localização foi
efectuada por estimativa) e o de Abrunheira já muito perto do muro
da Tapada de Mafra (Sul), com uma plantação de eucaliptos em cima.
Bem vistas as coisas não merece o desvio pelo que a segunda sessão
do reconhecimento evitará este circuito extra.

Seguimos junto ao muro da Tapada até ao Forte do Casal da Serra.
Trata-se de um ponto estratégico importante já que domina o Vale da
Guarda e a passagem da EN8 e é um daqueles locais muito
interessantes do ponto de vista paisagístico.

Descemos até ao Vale da Guarda para rumarmos, por este, para poente
e subir fortemente (queixo no guiador e a dar tudo) até ao Forte do
Cheira que domina do outro lado o Vale e tem uma bonita vista sobre
a Tapada e o Centro de recuperação do Lobo Ibérico
(http://crloboiberico.naturlink.pt/).

Descemos para o Picão onde há uma linda casa que se chama "Casa da
Pedra que Luz", aliás tudo é bonito neste vale que vai até ao
Gradil. Alguns enganos de trajecto depois chegámos a esta
interessantíssima vila que, aliás, já foi concelho até à reforma de
1836. Como não a conhecia foi uma surpresa muito agradável. De
qualidade arquitectónica com os diversos solares setecentistas e de
enquadramento paisagístico notável é uma preciosidade a visitar.

O problema mesmo foi sair dali. Outra subida de queixo no guiador
até à portela e daí para o Alto da Serra do Chipre o Forte de Picoto
e de Rafaeis que estão nos limites de uma propriedade vasta ainda
que sobranceiros ao caminho pelo que se podem observar bem ao
contrário do Forte da Boa Viagem que está no interior da mesma.

Foi tempo de descer até ao Codeçal e de subir muito penosamente a
estrada até à Murgeira, a alternativa (que só descortinámos depois)
era a subida junto ao muro da Tapada embora a sua inclinação a
tornasse mais penosa, evitando, todavia o trânsito.

Daí avançamos para os fortes a norte de Mafra que estão num estado
de conservação lamentável. Aliás toda aquela zona foi devastada por
incêndio recente e é de evitar pelo que no próximo reconhecimento
será descartada pois tal evitará a passagem e ascenção do
Codeçal/Murgeira.

O pior mesmo foi após a incrível e inclinadíssima descida a passagem
pelo Vale do Cuco. Na carta estava referenciado um caminho mas, meus
amigos, a realidade é que deparámos com um imenso silvado de 200
metros de extensão. Foram os meus duzentos metros mais penosos de
sempre. A alternativa era ter de voltar a subir o que descemos.
Sentimo-nos uma espécie de Cristos em plena "Via Crvcis".
Inenarrável. Só espero é que seja uma espécie de tratamento natural
à pele de coxas e pernas…

Moral da História, desde o alto da Serra do Chipre e, até ao caminho
do Vale dos Cucos (o que ficava apenas 200 metros adiante) tudo irá
ser remodelado na próxima: não justifica o trajecto efectuado.

Tristezas não pagam dívidas. Tempo pois de chegar a Mafra e de rumar
a outro forte estupendo: o do Zambujal. Magnífico, dominando o
Arquitecto, lá bem em baixo e a capala do Ó. E que dizer da descida
até ao vale? Impróprio para os vertigiomanos mas estupenda para
quem "gosta é disto" de 100 a 5 metros de altitude serpenteando por
um single track pendurado na encosta a pique em poucos segundos mas
sempre com o travão bem apertado. Só visto!

Foi tempo de rumar a norte, ao Forte do Picoto, junto já a São
Lourenço e daí para nascente. Alguns enganos após tempo de pensarmos
numa "retirada estratégica" via asfalto.

Ainda assim regressámos a Enxara já ao "lusco-fusco" ficando ainda
por reconhecer três fortes.

No final mais de 105 kms. e "apenas" 2800 metros de acumulado
positivo. Mas um bom retrato do terreno para um próximo e espero que
definitivo reconhecimento do lado poente da segunda linha.

Até breve!

Pedro Roque

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