sexta-feira, 29 de julho de 2005

De Bicicleta nos Açores


Pico's Peak Posted by Picasa

A Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta
(http://www.fpcubicicleta.com) organizou a sua 18.ª volta
Cicloturistica aos Açores. Em boa hora o fez já que a Região Autónoma dos Açores tem enormes potencialidades para o turismo de natureza.
Assim, desloquei-me ao
Grupo Central com vários ciclistas membros da Federação.

Pedalámos durante 4 dias na Ilha do Pico (estrada e BTT), Faial
(estrada) e São Jorge (estrada e BTT).

Apesar da chuva intensa foi espectacular. Sou suspeito para falar pois
a minha perdição pelos Açores é imensa. As paisagens do arquipélago
são magníficas. Entendo que a natureza fez ali um excelente trabalho!

De resto já tinha estado naquelas três ilhas há cerca de dois anos
atrás embora sem a bicicleta.

Como era um passeio da FPCUB tivemos dois tipos de "clientes":

. os "puros" com máquina de asfalto, equipamento "tipo ciclista
profissional" (alguns até com barriguinha a condizer :-)

. alguns betetistas "regular type" de que destacaria duas criaturas da
Figueira da Foz que já conhecia de vista de outras andanças (Cabeto e
António "Moretti" Moreira) e ainda um madeirense que foi o único que
não se impressionou com as subidas de São Jorge...

Havia ainda umas "almas híbridas" que iam de BTT com pneus de asfalto
ou com BTT mas com "espírito de estradista".

Sem embargo devo referir que alguns dos "puros" andavam que se
fartavam e que, muito embora seja difícil competir com as "máquinas de
asfalto" no seu ambiente natural, ou seja na estrada, foi extenuante,
mantê-los debaixo de olho.

Uma palavra ainda para o "local staff" seja no Pico, seja no Faial.
Simpatia e grande capacidade atlética pelas estradas e trilhos a
contribuírem e muito para a satisfação de todos. Também para o
delegado do desporto em madalena do Pico, António Maciel pelo
inestimável apoio logístico.

Dia 1, quarta-feira, 20 de Julho
Foi o dia da chegada a logística foi imensamente facilitada no
Aeroporto da Horta pelo maior entusiasta local, o Moreira (não o da
Figueira mas o do Faial que afinal era "japonês" de São Miguel) que
nos providenciou o transporte juntamente com as caixas das bicicletas
até à lancha para Madalena do Pico (http://www.cm-madalena.com/) onde
nos instalámos (a maioria nas instalações da Escola Profissional,
outros no Pico Hotel.
Neste dia o tempo estava bom e previa que se iria manter assim. De
tal modo que o meu plano era descartar o pedal do dia seguinte em
favor de uma subida à montanha do Pico (2.350 metros, a maior altitude
de Portugal).
Para o efeito até tinha convidado um casal amigo de São Jorge que se
deslocou expressamente de véspera. O problema foi de madrugada quando
recebo, pelas 06:00, um telefonema do guia de montanha a dizer-me: "O
melhor é nem se levantar, com esta tempo, não podemos ir lá acima!".
A
chuva tinha chegado para ficar!

Dia 2, quinta-feira, 21 de Julho – ILHA DO PICO – Volta à ilha em
Estrada (120 kms.) (http://www.destinazores.com/pt/pico.php)
Pois é, começou aí a nossa provação meteorológica. Saídos da aridez
continental impressionava a quantidade de água que caía dos céus
açoreanos. Após o pequeno-almoço peguei na máquina e desci, debaixo de
dilúvio, os dois quilómetros que distavam do Pico Hotel até à escola.
Estivemos abrigados cerca

de meia hora até que abriu um pouco e partimos para circum-asfaltar a
ilha.
Fomos na direcção das Lajes do Pico (costa sul) por um asfalto
excelente e com poucos desníveis junto à famosa "Paisagem da Cultura
da Vinha", património cultural da humanidade da UNESCO
(http://whc.unesco.org/en/list/1117) seguimos por Criação Velha,
Monte, Candelária, Campo Raso, São Mateus, São Caetano, Terra do Pão,
São João, Silveira, Ribeira do Meio e Lajes do Pico. Aí reagrupámos e
comemos uma sanduíche. A vila tem um aspecto magnífico
(http://www.azores.com/azores/picp_3.html) a fazer recordar a Terra
Nova. Tudo aqui gira em torno do cachalote, das memórias da sua caça e
do museu do baleeiro que não tive, infelizmente, ocasião de visitar.
Foi altura de se iniciarem as maiores dificuldades do percurso
correspondentes à saída da vila por intermédio de uma pendente muito
inclinada e o percorrer o final da costa sul, a costa leste da ilha e
a norte depois. As primeiras mais acidentadas e verdejantes a última
um pouco mais árida mas mais adequada para os pastos. Nessa costa, com
São Jorge do outro lado do canal e até chegarmos a São Roque o pedal
resumiu-se a subir durante sete quilómetros seguidos e idêntica
distância a descer para tornar de novo a subir e descer embora em
menor quilometragem.
Sucederam-se Arrife, Ribeiras, Calheta de Nesquin, Fetais, Calhau,
Piedade, Santo Amaro, Prainha e Prainha de Cima. Chegámos então a São
Roque (http://www.cmsrp.pt/) também conhecido por Porto do Pico e foi
tempo de ir a banhos. É verdade, o Moreira da Figueira (que, por acaso
também é "Oliveira da Figueira" como o famoso personagem português que
conseguiu vender a Tintin um regador e um papagaio ;-) estava já
instalado na piscina natural, quando ia a passar chamou-me e foi tempo
de relaxar dando uns mergulhos para o azul do Atlântico agora que já
não chovia. Que diabo, por isso é que se chama "cicloturismo", não é
verdade?
Depois foi tempo de nova sanduíche e de visitar, já que estávamos com
muito tempo, o Museu da Indústria Baleeira
(http://www.drac.raa.pt/pico.html) com um repositório da actividade
industrial ligada à caça ao cachalote a que São Roque do Pico estava
associada até 1978.
A partir daí e por informação de um polícia marítimo (que por acaso
também era betetista) soubemos que havia uma Pequena Rota que, para os
25 quilómetros finais, em lugar de percorrer a estrada ia junto à
costa passando por Porto Cachorro e por baixo do aeroporto (que já
recebe voos directos de e para o Continente às quartas-feiras).
Assim optámos três de nós e, em boa hora, trata-se de uma zona
protegida, constituída por zonas de lava de incrível beleza (onde o
negro e o verde prevalecem), com pequenas adegas e portos onde se
embarcava outrora o vinho do Pico e enseadas com piscinas naturais.
Alguns quilómetros volvidos foi tempo de regressar a Madalena. A
táctica neste primeiro dia foi pedalar dentro dos limites aeróbicos.
120 Kms., de asfalto com desníveis médios fazem-se bem mas era preciso
pensar que este era apenas o primeiro dia das "hostilidades". Assim no
final um cansaço moderado a imporem jantar e, acto contínuo, o
descanso logo pelas 21:00.

Dia 3, sexta-feira, 22 de Julho – ILHA DE SÃO JORGE – Estrada (25
kms.) e BTT (30 kms.) (http://www.destinazores.com/pt/sjorge.php)
A partida era pelas 08:00 onde se tomava o catamaran "Expresso do
Triângulo" ou seja a ligação marítima entre Madalena e Velas (São
Jorge) via São Roque.
Esta é, para mim, porventura, depois de São
Miguel, a mais bonita das ilhas e é a que melhor conheço.
O passeio de estrada foi curto

embora fisicamente muito exigente, tratou-se de subir desde a altitude
0 das Velas aos 437 metros do Parque das Sete Fontes perto do extremo
ocidental da ilha.
Ida e volta quedou-se em cerca de 25 quilómetros. Deu para comprovar
que o descanso tinha sido eficaz pois estava a sentir-me muito bem a
subir. De tal modo que, após o almoço, peguei num "punhado de bravos"
e desafiei-os a subir até aos "céus" desta vez em BTT. Tratou-se de
subir, com mais quatro elementos, a chamada "serra" (que culmina nos
1053 metros do Pico da Esperança) embora apenas até aos 900 do Pico
das Caldeirinhas onde depois descemos vertiginosamente (episódio impróprio para
cardíacos) até à Urzelina (uma pitoresca aldeia no litoral) a pedir
uns demorados banhos de mar. Aí aconteceu um pequeno acidente motivado
pelo facto de o travão traseiro se encontrar com as maxilas
desgastadas. Por esse facto estava a compensar mais com o travão
dianteiro muito embora sem problemas de maior. O problema foi quando,
numa bifurcação do caminho largo (o terreno é o chamado "bagaço de
lava" espécie de escória basáltica muito escorregadia) e estando
prestes a parar a roda da frente bloqueou e resvalou para a esquerda
projectando-me para o solo.
Resultado: ferida por abrasão do cotovelo direito. Tempo de recorrer
ao meu "kit de sobrevivência" primeiro a lavagem da ferida com água,
desinfecção com toalhete embebido em álcool (os da TAP são os
preferidos) e Betadine em pomada perante a estupefacção dos demais.
São muitos anos de BTT, meus caros! Continuámos a descer até à
Urzelina
(http://web.galaia.pt/SJorge/povoacoes/freguesias/urzelina/urzelina.php).
Após os banhos regressámos a Velas. Este percurso teve cerca de 30
quilómetros mas um acumulado incrível. Impressionantes aqueles desníveis…

Dia 4, Sábado, 23 de Julho – ILHA DO FAIAL – Volta à Ilha em Estrada –
70 kms. (http://www.destinazores.com/pt/faial.php)
Sábado foi a vez de rumarmos ao Faial. A lancha saia pelas 08:15.
Embora não chovesse adivinhava-se que, a qualquer altura, poderia
precipitar. Mal desembarcamos na Horta a chuva irrompe forte e
persistente. A saída ficou assim adiada. Como tinha dormido mal e o
esforço de véspera tinha sido violento aproveitei para me instalar
numa esplanada coberta junto ao ponto de partida a beber um café. Tive
aquela sensação óptima de estar abrigado a ver e a ouvir chover.
Durante quase uma hora choveu de forma impiedosa. Depois, uma pequena
aberta, levou o grupo a percorrer as ruas da Horta para avançarmos
logo para a montanha que não sendo tão violenta como em São Jorge é,
todavia, de respeito.
Assim e pelo asfalto começámos a volta à ilha no sentido anti-horário:
subida ao alto da Espalamaca onde, supostamente, deveríamos de ter uma
vista esplendorosa sobre a cidade se não fosse o nevoeiro que nada
deixava vislumbrar. Seguiu-se a descida até ao desvio para a praia do
Almoxarife e nova subida para Pedro Miguel.
Aí deu para constatar que não estava nas melhores condições. O pouco
descanso e as "altitudes" do dia anterior não me permitiam grandes
ousadias ascensionais pelo que optei por um ritmo mais descontraído. A
chuva recomeçara e foi tempo de colocar o impermeável que, tal como no
Pico, dois dias antes, impedia a chuva de entrar mas o suor de sair. A
única vantagem era mesmo impedir o arrefecimento.
Junto à Ribeirinha, numa estação de serviço, fizemos um pequeno
reagrupamento que permitiu retirar o impermeável e recuperar forças.
Sentia-me, agora, bem melhor. No recomeço as pernas já reagiam melhor
nas subidas e permitiam-me não me atrasar. Assim percorremos toda a
costa NE: Espalhafatos, Salão, Cedros. Passamos o norte da ilha em
Cascalho e entramos na costa NW, o percurso alterna as subidas com as
descidas e o bom com o mau piso: Ribeira Funda, Praia do Norte, onde
viramos à direita em direcção ao vulcão dos Capelinhos. A estrada
desce durante muito tempo a deixar antever que iria ser violento
retomar a altitude perdida.
Após o Norte Pequeno a ponta dos Capelinhos e os vestígios do seu
vulcão que entrou em erupção em 1957
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Vulc%C3%A3o_dos_Capelinhos) apenas é
visível à distância uma vez que não temos tempo de descer até à costa.
É então tempo de subir, por entre o nevoeiro, até Capelo, Arieiro e
Ribeira do Cabo em plena costa W.
A partir daqui foi sempre a descer até à costa sul, muitos quilómetros
até Castelo Branco (onde se situa o aeroporto), Ribeira Grande,
Pedregulho e Feiteira. Aí, quem pensasse que o almoço já esperava,
desiludiu-se. É que, até chegar perto de Flamengos foi preciso penar
cerca de dez quilómetros pelo interior sul da ilha, em estradas más,
invariavelmente subindo. A rampa final foi digna de um filme de terror
dando razão a quem afirma que "não há almoços grátis". Após a refeição
foi altura de rumar à Horta e regressar ao Pico. Tempo para parar no
ex-libris da cidade que é o "Café-Sport" (conhecido por cá como
"Peter's") e tomar um incontornável gin-tonic.

Dia 5, Domingo, 24 de Julho – ILHA DO PICO – BTT – 32 kms.
Desta vez foi o terreno exclusivo do "pneu gordo". Houve muito tempo
para descansar uma vez que o passeio só estava previsto para as 11:00,
isto é, após a chegada da lancha do Faial de onde viriam alguns
companheiros que connosco haviam efectuado a etapa do dia anterior.
Este tornou-se num dos passeios de BTT mais originais em que
participei devido a uma circunstância muito peculiar: durante os seus
32 quilómetros tivemos, sempre, um batedor da PSP à frente, numa
vetusta motorizada Casal! É verdade, assim mesmo. Não se pense que não
saímos da estrada, bem pelo contrário, havia troços de BTT autêntico
com subidas e descidas violentas e, sobretudo nestas era ver o
simpático agente a empenhar-se para não cair…
Pena foi a chuva e o nevoeiro que não nos permitiram desfrutar
integralmente a beleza daquela paisagem. Pedalámos por locais de
autêntica selva, incríveis sítios por entre a vegetação. A ilha do
Pico é uma caixinha de surpresas. Há "matéria" para ser explorada
durante uma semana inteira seja em estrada litoral, estradas florestal
(uma delas corta a ilha longitudinalmente), seja nas inúmeras picadas
em "bagaço de lava" (não há terra, tal como a conhecemos, nesta ilha).
O ex-libris desta ilha, ou seja a "montanha do Pico" esteve sempre
encoberto retirando um contentamento visual extra que este passeio BTT
poderia ter tido.
Não se pense todavia que ficou diminuído o interesse, bem pelo
contrário. Os troços sucediam-se cada um mais espectacular que o
anterior num cenário de grande beleza diferente de tudo quanto por cá
existe.
A saída deu-se por asfalto a partir da Madalena do Pico. Basicamente
rumamos por asfalto em direcção a NE para sairmos da estrada para S e
nos internarmos no interior da ilha tendo o vulcão a E, embora não
visível com já referi.
Chegámos então à Candelária, na Costa Sul e rumando na NW até Madalena
e onde começou outro motivo de interesse passada a chuva e o nevoeiro
que é a "Paisagem da Cultura da Vinhas" desta vez observada ao
pormenor são inúmeros muros de lava, formando quadriláteros com vinha
verdejante no seu interior assim devidamente protegida do vento
marítimo. Incrível a visão e apenas "in loco" se entende o motivo da
sua classificação patrimonial.
Refira-se ainda, há noite, a refeição oferecida no âmbito do
encerramento das actividades desportivas das festas de Madalena do Pico.

Dia 6, segunda-feira, 24 de Julho – Regresso

Foi tempo de tomar a lancha para a Horta, rumar ao aeroporto do Faial
e regressar a Lisboa.

Para trás ficaram quatro dias de actividade desportiva intensa e quase
300 quilómetros em cima da bicicleta.

1 comentário:

Ana Louro disse...

Na minha primeira visita/leitura fui especificamente procurar o arquivo de Julho de 2005, pois imaginava aqui esta descrição que me fez recordar a viagem deste ano ao belíssimo triângulo açoreano (que eu não conhecia). Tivémos sorte com o tempo e elegi o Pico como a minha ilha preferida, onde quero voltar. Concordo que há muito para explorar numa semana inteira só no Pico por trilhos para BTT). Vou propô-lo para o ano e começar já a minha preparação física que apenas me permitiu fazer no último dia (depois do cansaço acomulado de toda a semana e com uma BTT que não me ajudou muito, desculpas...) os primeiros 22km (Madalena - S.Roque) dos 108 da volta ao Pico (por estrada). Cá voltarei também.