quarta-feira, 7 de março de 2007

RECONHECIMENTO DO RAIDE 2007 SETÚBAL – ODEMIRA - ALGARVE

(foto álbum aqui)

Efectuámos o reconhecimento praticamente integral do Raide da FPCUB Setúbal – Odemira – Algarve, versão 2007, no passado fim de semana.

Este reconhecimento tinha três diferentes propósitos:

  • Em primeiro lugar confirmar se, boa parte dos locais onde passámos, no ano transacto, entre Melides e São Marcos da Serra, continuavam a serem válidos;
  • Em segundo lugar, entre as duas povoações referidas, criar, onde tal fosse possível, alternativas a algum asfalto existente em 2006;
  • Por último, entre São Marcos e o final, em Querença, Loulé, reconhecer, integralmente, todo um percurso pela serra e Barrocal algarvios.

Foi com este propósito que me desloquei, acompanhado pelos meus amigos, Jorge Manso, Rui Sousa e Marta Vieira com três bicicletas e uma viatura. A fórmula era simples: alternar o condutor por turnos. Ou seja, enquanto um de nós conduzia, os outros três pedalavam.

Esta é uma fórmula absolutamente válida para cumprir longas distâncias lineares já que permite contornar o sempre complicado problema logístico do regresso. De igual modo há a vantagem de um apoio sempre próximo já que abundam os locais de contacto entre o trilho e a estrada tornando desnecessário carregar demasiado peso às costas. De igual modo permite que se possa descansar, por turnos, mantendo uma velocidade média do grupo mais elevada ou até contornar algum percalço de um participante.

É, de resto, uma óptima sugestão de poder efectuar este Raide no sentido de facilitar o regresso do Algarve já que permite que, no final, se rume directamente aos destinos de cada um.

O reconhecimento decorreu da melhor forma apenas com alguns pequenos percalços de caminho. De resto, se assim não fosse, não haveria necessidade de efectuar um reconhecimento.

O primeiro grande imbróglio surgiu na tentativa, que efectuámos no final do primeiro dia, de encontrar uma alternativa TT à travessia da Ribeira do Torgal pela EN 120, através de um track previamente gravado que detínhamos, mas que resultou num percurso de dureza extrema pouco compatível com o facto de já se estarem com distâncias superiores a 120 kms. nas pernas. De facto foram tantas as voltas, as travessias a vau da ribeira do Torgal (num dos casos com água acima da cintura) as subidas e as descidas escabrosas, algumas pelo meio de estevas e de matagal intenso que achamos que aquela hipótese, de alternativa, nada tinha.

O segundo deles foi a descida até à Ribeira de Algibe a partir de Alto Fica (após Alte) tentando a alternativa à EN 524. Encontrámos um estradão à direita que correspondia, de resto, a um caminho indicado na carta militar. Em má hora o fizemos.

A chuva tinha feito a sua aparição alguns minutos antes. Não sendo muito intensa era, todavia, suficiente para armar aquela que é uma das piores armadilhas que um betetista pode encontrar: o barro vermelho. A famosa “terra rossa” algarvia, com um pouco de água torna a progressão impossível já que as rodas deixam de andar, pura e simplesmente!

Se a este infortúnio juntarmos o facto de o referido percurso de não ter qualquer saída após cerca de um quilómetro fortemente descendente. Resultado: um quilómetro ascendente, a empurrar, à mão, trilho acima, pelo meio do barro vermelho uma bicicleta cujas rodas teimavam em não rolar.

A descida que se seguiu, desta vez pela EN 524, foi muito rápida e serviu para sermos barbaramente atingidos por quantidades inimagináveis de gravilha e barro soltada pelas rodas rolando. Valeu-nos, uns metros abaixo, a ribeira de Algibe que ajudou a desfazer tudo.

Esta situação fez-nos perder largos minutos, preciosos, o que resultou numa chegada nocturna a Querença que foi uma espécie de calvário final depois de uma jornada extenuante mas inesquecível.

No final mais de 270 kms. (140 + 130) a prometerem emoções fortes para a jornada programada para 21 e 22 de Abril, que não estará ao alcance de todos é certo, mas que recompensarão quem estiver preparado com passagem por paisagens encantadoras ou mesmo arrebatadoras em alguns dos casos.

DIA UM

1. SETÚBAL - MELIDES

Simbolicamente o início é em Setúbal e o trajecto tem uma neutralização até Tróia correspondente à travessia do Sado em ferry.

Daí até Melides circula-se por asfalto. Há um motivo claro e incontornável para esta opção: o facto de os terrenos que distam entre Tróia a Melides serem bastante arenosos e ser impossível circular por esses pinhais. De qualquer modo rapidamente esta distância é vencida já que os declives são mínimos. É, se quiserem, um aligeiro aroma a Tróia - Sagres.

2. MELIDES – SANTIGO DO CACÉM

Aqui começa, verdadeiramente, o raide ou, pelo menos, a sua versão TT.

Este primeiro troço é dos mais interessantes em termos de paisagem já que corresponde, integralmente, a uma zona da serra de Grândola que, como todos sabemos, é dos locais mais aprazíveis para a prática do BTT.

Vencidos os primeiros quilómetros até Vale Figueira começa a rotina dos barrancos, tão característicos destas serras do sul de Portugal.

O primeiro é o do Livramento. Trata-se de uma descida forte com diversos cotovelos à esquerda e à direita, que conferem uma enorme agradabilidade a quem monta a bicicleta.

No final, a travessia da correspondente ribeira e a forte subida a exigir um empenhamento extremo. A paisagem envolvente é suprema constituída, sobretudo, por floresta de sobro num ambiente tipicamente mediterrânico a que nem faltam sequer os aromas fortes a esteva. Fantástico!

A seguinte e muito semelhante é a do Moinho numa reedição do relevo e da paisagem e do modo de a abordar em bicicleta.

Estas são as primeiras subidas dignas desse nome e que motivarão o primeiro grande desgaste físico. Após a travessia deste último barranco alcançaremos a EN 548 e nela cruzaremos, através de uma passagem inferior, o IP8 e alcançaremos Santa Cruz onde começaremos a subir para Santiago do Cacém por estrada para a abandonarmos à direita e contornarmos o limite urbano por poente.

3. SANTIAGO DO CACÉM – PAIOL

Entramos então na EN 261 – 3 que abandonaremos logo de seguida na zona industrial pelo lado esquerdo e, após o final da mesma, seguiremos pela EM 1100 e, a dada altura, viraremos para poente para, passado mais de um quilómetro, retomarmos a direcção sul.

A travessia do Barranco da Velha está muito facilitado se comparado com os anteriores Livramento e Moinho pelo que, rapidamente, continuamos a pedalar para sul, por uma zona de serra, muito bonita, em direcção ao Paiol que é alcançado rapidamente.

4. PAIOL – SONEGA

No Paiol seguimos, para sul, em direcção à Barragem de Morgavel, passando pela Estação de Tratamento de Água, por uma zona relativamente plana antes e após o plano de água represado.

Após a passagem do paredão surgem algumas dificuldades circunstanciais relacionadas com a presença de areia mas que são vencidas sem problemas de maior. A chegada à Sonega faz-se através da travessia de Vale de Meio por uma subida contínua mas relativamente suave.

5. SONEGA – TROVISCAIS

A partir da Sonega temos pela frente a Serra do Cercal que iremos contornar por poente por forma a que não seja exigido um esforço acrescido tendo em consideração que ainda faltam alguns quilómetros e que já se pedalaram bastantes. Assim sendo prosseguimos durante cerca de 300 metros na EN 120-1 que abandonaremos à direita para um estradão que segue para sul.

A dada altura pedalamos para poente para contornar os montes e desceremos até à EM 1116 por onde seguiremos até ao seu final em Godins e transporemos o corgo (pequeno barranco) do mesmo nome subindo até Adail sempre com a serra a nascente embora atravessando um estradão com um pouco de areia mas nada de muito difícil.

Cruzaremos a EN 390 e continuaremos sempre para sul por trilhos no meio do eucaliptal escoltando os montes no sopé da serra.

Após o Monte do Amarelinho, para SE. Circularemos por um estradão largo e rápido em zona de eucaliptal até Vale Bejinha após o qual circularemos pela EM 1100 que abandonaremos para sul na zona da Carrasqueira e rapidamente chegaremos aos Troviscais.

6. TROVISCAIS – ODEMIRA

Este troço, à falta de alternativa válida em todo o terreno para a travessia da Ribeira do Torgal, será efectuado por estrada.

Circulamos, assim, entre Troviscais e Castelão pela EM 1110 – 1 e após esta localidade pela EN 120 até Odemira, num percurso maioritariamente descendente e onde cruzaremos a referida Ribeira. Após os metros iniciais da subida saímos à direita num percurso fortemente ascendente mas que permitirá vencer o desnível fora do asfalto. Ao retomarmos a EN 120 restam algumas poucas centenas de metros, desta vez a descer, até ao desvio que nos levará até à zona do Pavilhão Municipal de Odemira final deste 1.º dia.

DIA DOIS

7. ODEMIRA – PORTELA DA FONTE SANTA

Optámos por um percurso diferente, evitando o asfalto e, em boa hora o fizemos já que iremos circular num percurso de indescritível beleza junto ao Rio Mira. Ainda há zonas assim em Portugal. Admirável!

Descemos até ao centro de Odemira, viramos à esquerda na rotunda, e circulamos na avenida marginal mas, ao invés do ano anterior, não cruzamos o rio e continuamos até ao cemitério e ao canil municipal e daí por um incrível single track na margem. A partir de dada altura tomaremos um estradão que vai acompanhando os caprichos morfológicos do Mira curvando languidamente à esquerda e à direita, com visões fantásticas do plano de água e da sua relação com a serra e a vegetação envolvente.

A dada altura, alguns quilómetros volvidos, dá-se a fácil passagem a vau do rio. Apesar de, a montante, termos um pontão. Daí até à Portela da Fonte Santa é uma subida contínua.

8. PORTELA DA FONTE SANTA – VIRADOURO

Este trajecto será efectuado pela estrada que liga a Portela a Sabóia e Viradouro e que circula junto à margem esquerda do Mira. Esta estrada está, toda ela, recuperada e tem um traçado, bermas e uma visibilidade excepcionais. Para além disso o tráfego é diminuto e nestes quilómetros poderão contar-se pelos dedos de uma mão o número de carros que connosco se cruzam. É assim um interregno asfáltico agradável e que nos fará avançar vários quilómetros em pouco tempo.

9. VIRADOURO – SÃO MARCOS DA SERRA

Junto ao Viradouro há uma pequena ponte sobre a Ribeira de Telhares que iremos cruzar. A partir daí circulamos sempre por terra e junto à ribeira e ao caminho de ferro até chegarmos ao asfalto de uma estrada secundária e a Pereiras Gare.

Ao contrário do ano transacto evitaremos o asfalto e circularemos pelos montes até São Marcos, num percurso delineado num relevo algo exigente, cruzando a fronteira para o Algarve e o concelho de Silves alcançando então São Marcos da Serra.

10. SÃO MARCOS DA SERRA – ALTE

A partir daqui tudo é novo.

Por isso o esforço de reconhecimento teve de ser acrescido por forma a se cruzar longitudinalmente boa parte do Barrocal e Serra algarvios. Essa tarefa podia ser algo de muito penoso mas, felizmente, conseguimos suavizar a altimetria seguindo o curso de muitas ribeiras que seguem o seu curso com uma orientação poente – nascente, ou vice versa que são cruzadas inúmeras vezes a vau.

É assim até se cruzar o rio Arade, também a vau, onde o relevo começa a acidentar gradualmente. Após a passagem sob a A2 segue-se o curso da ribeira do Gavião passando por Vale Figueira, Marreiros e Corchica e, após se cruzar a mesma começa uma longa subida até Santa Margarida e daí a descida até Alte e por dentro desta localidade.

Aqui parece que a paisagem muda por completo e a opção de abordar Alte a partir do seu topo revela-se acertada já que, dessa forma, se capta toda a mística que converte esta terra numa das mais pitorescas e genuínas do Algarve, quiçá de Portugal. Boa parte da sua malha urbana é percorrida em sentido descendente num percurso de extrema agradabilidade, neste caso urbana.

11. ALTE – QUERENÇA

Cruzando a ponte sobre a Ribeira de Alte rola-se, por alguns momentos na EN 124 para se sair, para a direita por um percurso fantástico entre laranjais e com montanha de um lado e de outro junto ao Barranco da Vala Grande passando por Charneca da Nave, Nave dos Cordeiros, Beirão e abordarmos a penosa subida, por uma rampa de asfalto, até ao Espargal e daí até Alto Fica onde se toma a EN 524 no sentido descendente e em alta velocidade até à famosa Ribeira de Algibe.

Segue-se então por um rápido caminho sempre junto à margem desta até à EN 525 retomando, junto a Ponte de Tôr, a EN 524 há falta de melhor alternativa para chegar a Querença (o velho “caminho do Morgado” junto à ribeira de Algibe, a partir de Ponte de Tôr está, a partir de dado ponto, impraticável). São apenas dois quilómetros com pouca densidade de tráfego até à Quinta da Passagem onde se inicia a subida para a aldeia de Querença.

A chegada ao largo da aldeia é mítica através do caminho da Portela uma subida com uma inclinação superior a 10%, em média e que, em cerca de um quilómetro nos leva, por um empedrado, dos 150 aos 270 metros de altitude.

É um final apoteótico a garantir ficar retido na memória por muitos e bons anos.

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