quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bicicletas: para os amantes do veículo os benefícios compensam as dificuldades


Sérgio Azenha/PÚBLICO (arq.)

As dificuldades de relevo da cidade são «mitos», pois só existem colinas em 15 por cento da cidade

Boas para a saúde física e mental e para o ambiente

17.10.2008 - 02h43 PUBLICO.PT
Há mais pessoas a usarem a bicicleta como meio de deslocação. “Existe um contexto mais receptivo aos tansportes alternativos. Há vontade em usar alternativas”. Esta é a convicção de uma das pessoas que trocou os transportes convencionais pela bicicleta para se deslocar de casa para o trabalho.

Diariamente, Hugo van Zeller apanha o comboio em Carcavelos. Do Cais do Sodré até ao trabalho, na zona do Saldanha, utiliza a bicicleta. É um percurso de cerca de 20 minutos, por alguns dos locais mais conhecidos de Lisboa – Rua Augusta, Praça do Comércio, Avenida da Liberdade e Avenida Fontes Pereira de Melo –, aproveitando os passeios e lutando contra os obstáculos. “Uma das dificuldades é a poluição, cuja combinação com o exercício não é boa: por um lado estamos a exercitar-nos, por outro a inalar os gases da poluição. Depois há o excesso de viaturas, o que torna o percurso fisicamente perigoso sem ciclovias”, disse Van Zeller ao PÚBLICO.

Mas, para este amante da bicicleta, estes obstáculos não passam apenas de um “pequeno preço” em comparação com as vantagens”: é uma solução do ponto de vista económico, “pois é uma enorme poupança”, e melhora o bem estar, “graças ao excercício físico”. “De manhã chego com melhor disposição ao trabalho, o que me tem tornado mais produtivo e com maior capacidade de encaixe dasadversidades. Ajuda a relaxar no caminho de casa, alivio o stress... Além disso, com o exercício físico e com uma melhor alimentação, até perdi peso”, contou Van Zeller, garantindo que se sente “mais activo diariamente”.

“As pessoas passam horas enjauladas nos seus carros. O meu caminho não é stressante. Poupo tempo com os horários e não tenho problemas com o estacionamento”, afirma este amante da bicicleta, realçando que se trata de um veículo “divertido, flexíve e adaptável”, uma “alternativa ao excesso de automóveis”, o que traz benefícios a nível ambiental. “Desde que comecei esta rotina em Janeiro, vejo cada vez mais pessoas a combinarem os transportes públicos com a bicicleta”, assegura, apelando à Câmara Municipal de Lisboa para estar “alerta para a construção de condições”, que reduzam o número de carros e aumentem o uso de bicicletas.

Os mitos

Até porque as dificuldades de relevo da cidade são “mitos”. “Quero quebrar o mito das colinas de Lisboa, de que a cidade não é ciclável. Colinas só existem em 15 por cento da cidade, nas zonas mais antigas. Num estudo dirigido pelo engenheiro Paulo Guerra dos Santos [projecto 100 dias de bicicleta em Lisboa], estudantes do Erasmus, de vários locais da Europa em que se usa mais as bicicletas, testaram Lisboa e acharam-na ciclável”, argumenta Van Zeller, vincando que são necessárias “mais condições para os ciclistas e para os turistas”, que podem “querem conhecer a cidade usando o mesmo meio de transporte” que usam nas suas cidades.

Outras potenciais desculpas para não usar este veículo são o suor e a chuva. Van Zeller consegue ir trabalhar de fato e gravata, “fazendo gestão do esforço para evitar o suor”, despindo o casaco para não aquecer demasiado. Um alternativa é usar roupa mais leve no caminho e levar a mais formal, para trabalhar, numa mochila, objecto que se adapta às de bicicletas. Quanto à chuva, desde Janeiro, Van Zeller teve de ir de recorrer aos transportes públicos para ir do Cais do Sodré até à zona do Saldanha apenas uma vez. Usa uma capa para se proteger e, quando o clima é mais adverso, limita-se a esperar que melhore.

À autarquia, este amante das bicicletas propõe que seja adoptado um sistema de partilha, como já existe em cidades como Lyon ou Barcelona, e no Norte da Europa. “É uma rede de pontos de aluguer, em que levanta a bicicleta num local, pagando com moeda ou cartão, e se entrega noutro”, explica. Há um projecto semelhante em estudo para Lisboa, pelo actual executivo, e “estão previstas ciclovias na zona ribeirinha”, mas Van Zeller considera que estas devem existir também noutras áreas da cidade, principalmente nas principais avenidas, onde se concentram mais locais de trabalho. E pede mais divulgação para os “sistemas de bicicletas públicas gratuitas” que já existem em vários locais, como “Cascais, Sintra e o Parque das Nações”.

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