terça-feira, 29 de setembro de 2009

TO CAESAR WHAT IS CAESAR'S



Arruda dos Vinhos – Sobreiro Curvo – Santa Cruz – Torres Vedras – Dois Portos – Arruda dos Vinhos 108 kms. 2120 metros de altimetria acumulada positiva. 27 de Setembro de 2009

From Arruda to the Atlantic crossing the vineyards valleys. More than one hundred kilometres with the company of a lovely sunshine.

De novo com início na vínica Arruda respondemos ao desafio do César Arruda para a versão 2009 do “Arruda – Atlântico”. Ainda assim, como era dia de eleições, não sem antes passar - logo às 08:00 - pela mesa de voto para depositar o sufrágio.

Relativamente às incursões das semanas anteriores a diferença consistia numa menor altimetria total embora com uma quilometragem mais extensa. O facto de ser uma "desorganização organizada" a colocar cerca de três dezenas de criaturas e respectivas bicicletas no terreno (estimativa grosseira). É incrível verificar como muitos betetistas avançam para enfrentar mais de cem quilómetros por montes e vales - alguns apenas comparecem com um singelo bidão – audaces fortuna juvat...

O dia amanheceu “neblinado” enquanto o sol não rompeu essa adversidade, ainda assim, as fortes ascensões iniciais fizeram-se sem calor o que até se tornou conveniente ainda que as objectivas fotográficas não apreciem tais condições de luminosidade já que, das mesmas, não arrancam todo o esplendor cromático que as paisagens percorridas proporcionam.



O gráfico de altimetria era curioso: fortes desníveis iniciais, correspondentes à saída do vale arrudense e a transposição da serra Galega, seguidos de terrenos relativamente planos até à costa e daí até à zona de Dois Portos onde se seguia uma forte ascensão até à descida para Monfalim e Arruda. As subidas eram violentas e estavam, assim, concentradas no início e no final, ou seja, nos piores momentos: quando se começa e ainda “não apetece” e quando acaba e as frescura já lá vai.

Ainda assim foi uma incursão extraordinária. Como que por milagre, após o primeiro par de duras subidas, o sol venceu a neblina e os vales saloios desnudaram-se na sua plenitude, até porque começavam agora também algumas descidas. Numa delas o excesso de entusiasmo ia levando ao desequilíbrio, valeu alguma experiência e alguns golpes de rins, por isso, fijate: nunca roles muito depressa por declives que desconheces. A partir daqui, tendo bem presente este motto, não mais surgiu qualquer problema do tipo.

Por aí fomos, subindo e descendo por terras com toponímias inusitadas como Gataria, Casais da Cruz do Vento, Soeiro Cunhado, Corujeira ou Curvel. Em todos os locais e vales um denominador comum - as vinhas e as vindimas em estádios diferentes e o aroma a mosto no ar.

Agora era tempo de cruzar transversalmente a Serra Galega e de abordar a descida insana de um aceiro inclinadissimo até ao Monte Redondo. Aqui os madeireiros fizeram das suas e o caminho ficou subjugado perante dezenas de troncos de eucalipto a obrigarem à sua transposição com passos de gigante e com a bicicleta ao ombro. Lá se seguiu, pelo meio de pinhais e eucaliptais, a velocidades elevadas, cruzando-se, pela primeira vez, os carris da linha do oeste e prosseguindo em direcção ao nó da A8 e onde alcançámos um grupo de ciclistas e com eles prosseguimos durante breves milhas. O incidente do dia aconteceu com um deles numa descida do eucaliptal que provocou um contacto de terceiro grau com o terreno, todavia sem consequências de maior.

Ainda mais pinhal e eucaliptal embora com uma descida divertida num areeiro descampado, a chegada ao vale do Alcabrichel e a rolagem rápida em estradão até A-dos-Cunhados e pela estrada nacional pelo meio do Sobreiro Curvo, o que foi do desagrado generalizado, até porque existia uma alternativa mais interessante do que partilhar o estreito asfalto com um trânsito algo denso.


Chegámos, então, à zona dos casais e começa-se a ascender para cruzar a portela que nos deixará no topo da da ravina sobre o Alcabrichel que está está quase na sua foz. O troço do Casal do Além ao Casal da Portela mostrou-se particularmente violento mas, ainda assim, levou-se de vencida com um sorriso nos lábios. A partir daí a tradicional descida para o vale e a zona termal se bem que efectuada por um trilho distinto do habitual e bastante marcado pela erosão obrigando a um desmontar permanente.

Após a chegada ao buvete decidimos continuar pela estrada portajada acompanhando as curvas caprichosas do Alcabrichel prestes a entregar-se no Atlântico pelo meio de uma paisagem cársica inesquecível aqui já descrita anteriormente. Depois seguiu-se rotina habitual: Porto Novo e Santa Rita pela ciclovia, saída para o alto das arribas e o típico playground até Santa Cruz.

Tempo de restauração no local sugerido, isto é, no restaurante da Praia do Navio que, em virtude do dia de verão, parecia uma cidadela recém tomada pelos bárbaros. Ainda assim o serviço ao balcão funcionou de modo impecável. Enquanto aguardava pelo prego no pão a fome instintiva era agravada pelo magnífico puré de legumes que uma “criancinha amorosa” se recusava a ingerir apesar do voluntarismo maternal que mecanicamente lhe franqueava colheres pela boca semi-cerrada. Felizmente o pedido surgiu com rapidez...

Prosseguimos e, em Santa Cruz, junto a uma churrasqueira descobrimos porque é que, das hordas de clientes do restaurante referido anteriormente, não constavam ciclistas: estavam quase todos aqui, mesmo os do “staff” arrudense...

De Santa Cruz a Torres Vedras avança-se ao ritmo da poeirenta ecovia do Sizandro. Como já tínhamos tido a sua experiência recente optámos por a percorrer o mais rapidamente possível já que a rígida “postura de estrada” a que nos obriga a causar elevado stress físico até porque se espraia por bem mais de uma dúzia de quilómetros.

Chegamos então a Torres Vedras onde atravessámos, praticamente, todos os sentidos proibidos até à Estação Ferroviária e daí pelo trilho do canavial junto ao Sizandro que conduz às termas dos Cucos. Aí fizemos uma pausa para restaurar energias e seguimos cruzando a linha do Oeste e a A8 subindo o curso do Sizandro suavemente pelo vale, bem encaixado nos montes repleto de vinhas.

O reinício das hostilidades fez-se após a passagem por Dois Portos numa rampa asfaltada que ascendia desumanamente até ao cemitério, daí saímos do asfalto em direcção ao santuário da Senhora dos Milagres sobranceiro ao Sobral de Monte Agraço. Foi tempo de uma pausa fotográfica até porque a luz da tarde que já ia alta a convidar à placidez. A partir daqui foi sempre a descer até à Arruda onde chegámos por volta das 17:45.

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