quarta-feira, 23 de setembro de 2009

JUST ANOTHER GLORIOUS SUNNY DAY


Domingo, 20 de Setembro de 2009
Arruda – Alenquer – Espinheiro – Montejunto – Avenal – Alenquer
90 kms. - 2200 m. de altitude acumulada positiva
APRO e JC


Repeating the paths from Arruda to Montejunto and return but this time with sunshine and a different approach inside Montejunto meaning more ascends but more cycleability as well.

Num dia esplendoroso de sol resolvi repetir a ligação de Arruda a Montejunto que havia antes efectuado em Janeiro deste ano e que descrevi aqui.

Relativamente ao referido evento apenas alterei o modo de circular em Montejunto que se complicou em termos de altimetria mas que se facilitou em termos cicláveis. Retirou-se aqui a subida apeada (curiosamente repetida na semana anterior) e incluiu-se a subida de Pragança até ao cruzamento da fábrica de gelo após o miradouro de “Salvé Rainha”, a descida fantástica até à Tojeira e a brutal subida do Avenal até à portela dos moinhos.

Mas vamos por partes.

O evento, à semelhança da semana anterior estava classificado como “para homens de barba rija”, ou seja com quilometragens superiores a 85 kms. e acumulado de altimetria para lá dos 2000 metros. Ainda estivemos tentados, alternativamente, a seguir um track, de autor anónimo, intitulado “bicos do oeste” que, numa centena de quilómetros de extensão, ia “a todo o lado” i.e. ao alto das serras do Socorro, Galega e Montejunto num acumulado de cerca de 3600 metros (sim, leram bem). Essa epopeia seria, claro está, “para homens que não fazem a barba”. O bom senso acabou por prevalecer e entendeu-se que tal desafio não era compatível com o condicionamento actual que, sendo muito razoável, poderia revelar-se inadequado dado a magnitude do relevo em presença.

Ainda assim essa incursão está agendada para a Primavera, com dias mais longos e condicionamentos mais apurados. Quem se sentir em forma fica, desde já, convidado.

Uma dificuldade adicional foi o facto da transmissão da minha bicicleta estar fortemente diminuída nas suas opções. De facto, já nas duas últimas incursões, as combinações 22x28 e 22x24 saltavam em esforço. Procurei renovar quase por completo o “drive-train” mas, o sr. Shimano, pregou-me a partida: a cremalheira 32 de substituição a revelar-se incompatível com a pedaleira XT de eixo quadrado existente obrigando-me a remontar tudo e ir para o trilho com sérias limitações já que agora, mesmo em 32, a corrente falhava amíude. A gestão tinha assim que ser feita de modo rigoroso e complicava sobremaneira nas subidas onde ficava limitado a um salto enorme na desmultiplicação e as relações mais comummente usadas nessa situação a mostrarem-se inoperacionais.

Mesmo assim lá fomos. Um dia alegre predispõe bem o espírito e foi deste modo que deixámos para trás Arruda e nem sequer uma inesperada dificuldade inicial, sob a forma de um furo de calibre insusceptível de ser mitigado pelo selante, no pneu de JC alterou este estado de felicidade. O curioso é que uma situação normal quando começámos nesta vida, como seja a da aplicação de uma câmara de ar agora, em plena era tubeless, devido à sua raridade, a ser entendida como um facto anormal.

Remediada a situação seguimos em bom ritmo, vencendo as portelas e os vales até Alenquer. Referência para a vereda interminável que acompanha um canavial e que nos conduz do alto até esta estupenda vila. A ausência de lama e o facto de sermos apenas dois levou a que, ao contrário de Janeiro, ela tenha sido efectuada integralmente montado e com elevado grau de satisfação, sendo um dos grandes momentos da incursão embora pessoalmente esteja mais talhado para a magna descida da Tojeira no ambiente cársico de Montejunto.



A passagem por Alenquer fez-se de modo indelével. Fizemos questão de ir até ao miradouro sobranceiro aos Paços do Concelho e em boa hora. Com um dia de sol glorioso Alenquer espraiava-se preguiçosamente pela encosta, linda, terra-presépio de contos e de encantamentos. Depois foi descer por ali abaixo, pelas ruas magníficas em calcário polido pela passagem das gentes. Foi de tal modo impressivo o contacto que resolvemos ficar um pouco mais na esplanada junto ao rio restaurando energias.

Tempo de seguir em direcção à imensa charneca da Ota que, não sendo exactamente plana, se deixou percorrer em excelente ritmo contribuindo para a falsa ilusão de que a incursão seria fácil. Aproveitámos para recuperar o tempo perdido (leia-se ganho) em Alenquer e, num ápice estávamos a cruzar a N1 no Espinheiro, perto de Alcoentre.

Aqui começou verdadeiramente a incursão com a subida demolidora até aos 450 metros por um estradão maltratado e depois, entrado no asfalto, descermos para Pragança e, de novo, ascendermos até ao miradouro “Salvé Rainha” e aí pararmos para contemplar as lindas terras do Oeste que se estendem até ao Atlântico.

Mas havia que ascender ainda um pouco mais até se rever a entrada daquela que é, provavelmente, uma das melhores descidas de Portugal: a vereda da Tojeira. A um tempo técnica e espectacular, bem enquadrada com a paisagem e sem exigência de uma suspensão sofisticada de free-ride, i.e., ao alcance de uma configuração XC clássica, assim haja técnica e destreza suficientes. Quase apetece, por artes mágicas e por infinitas vezes, voltar de novo “lá acima”. Desta vez até a passagem da cascalheira no canhão final a ser efectuada sem desmontar ou sequer apoiar o pé. Só mesmo visto e sentido “in loco”.

Na Tojeira, de novo, a deténte. O único “saloon” disponível era o clube local que funciona mais como “centro de dia” do que propriamente como cafetaria convencional. À falta dos mantimento habituais para uma reposição energética adequada a opção recaiu num clássico nacional: a “mine” devidamente acompanhada de amendoim torrado e que bem soube! Seguimos até ao Avenal, não sem antes efectuarmos aguada em Pereira numa nora de roda tradicional, ao bom jeito da serrano, ainda que, com um misto de satisfação, pois o dia estava razoavelmente quente, e de receio, pelo peso extra que representava esta reposição do líquido uma vez que se aproximava a ascensão asfáltica do Avenal com uma pendente desumana.

Assim, na portela, perto dos trilho dos moinhos, o alívio pelo final da subida e o abandono de Montejunto. Havia agora que descer até aos Penedos de Alenquer pela Portela do Sol e pelo tipicamente saloio caminho dos moinhos de vento, excelente quadro pictórico, diga-se.

Agora, com Montejunto pelas costas, era o reino do “rompe-pernas” com sucessivas descidas fortes, logo seguidas de subidas a condizer sempre com as vinhas por companhia e um omnipresente aroma a mosto que inundava o éter - as vindimas no seu esplendor. É isto que o BTT nos proporciona e é também por isso que a ele sacrificamos incondicionalmente.

Assim foi em Quentes, ou na Aldeia Gavinha, com uma ascensão contínua durante um par de quilómetros ou ainda na descida violenta para a Ribafria logo seguida de uma interminável ascensão final. A partir do topo foi tempo de descer fortemente, via Gateira, até Arruda onde tornámos após praticamente noventa quilómetros com cerca de 2200 metros de acumulado.

A teoria da relatividade restrita aplicada ao BTT aqui a conferir-nos a sensação de esta incursão ter sido mais dura que a da semana anterior. Todavia os números desmentiram-no embora esta tenha decorrido a ritmo e média quilométrica indiscutivelmente superiores.

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