quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A Bicicleta e o Cinema

(Publicado na Revista "Motor Clássico", outubro de 2014)

Comparativamente ao automóvel a bicicleta tem uma participação relativamente apagada no grande écran mas não deixa de nele surgir com um papel de destaque em algumas películas mais ou menos conhecidas.

Sem dúvida que o grande filme que lhe é dedicado é “Ladri di Biciclette” (Italia, 1948) de Vittorio de Sica e vencedor do Óscar da Academia na categoria de melhor filme estrangeiro (1949). É justamente considerada uma das obras primas do neorealismo italiano. Nessa mesma tradição, a maioria dos seus atores são amadores e apresenta-nos uma narrativa deliciosa ao mesmo tempo empolgante e comovedora a que não falta, naturalmente, o fundo moral.

A trama resume-se da seguinte forma: na Roma do pós-guerra, Antonio Ricci, desempregado, encontra finalmente uma ocupação como colador de cartazes e a bicicleta é um instrumento essencial para trabalhar. Todavia ela desaparece enquanto cola um cartaz no topo de uma escada tendo a perseguição ao ladrão sido inútil. A polícia não o pode ajudar e Antonio resolve de per se tentar recuperar a sua bicicleta, porém sempre em vão. No desespero acaba ele próprio por furtar uma bicicleta colocando-se no papel do ladrão porém sem a sorte do anterior e vendo-se confrontado com o vexame do flagrante delito.

Ladri di Biciclette” é uma obra naturalmente datada mas não deixa de ser curioso o paralelo que se estabelece com a atualidade onde as bicicletas são alvos fáceis da cobiça alheia e, independentemente do seu valor ou da quantidade e qualidade dos cadeados, são furtadas perante a frustração e o desencanto dos seus proprietários, onde a polícia mais não faz do que registar a ocorrência e em que as tentativas informais de recuperação se revelam inúteis.

Tal como um automobilista relativamente ao seu automóvel, qualquer ciclista adora a sua bicicleta e o seu desaparecimento constitui um drama que supera largamente o seu valor pecuniário. É que ela foi companheira de aventuras e de bons momentos e nada supera a dor da sua desaparição.

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