(Publicado na Revista "Motor Clássico", outubro de 2014)
Comparativamente ao automóvel a
bicicleta tem uma participação relativamente apagada no grande
écran mas não deixa de nele surgir com um papel de destaque em
algumas películas mais ou menos conhecidas.
Sem dúvida que o grande filme que
lhe é dedicado é “Ladri di Biciclette” (Italia, 1948) de
Vittorio de Sica e vencedor do Óscar da Academia na categoria de
melhor filme estrangeiro (1949). É justamente considerada uma das
obras primas do neorealismo italiano. Nessa mesma tradição, a
maioria dos seus atores são amadores e apresenta-nos uma narrativa
deliciosa ao mesmo tempo empolgante e comovedora a que não falta,
naturalmente, o fundo moral.
A trama resume-se da seguinte
forma: na Roma do pós-guerra, Antonio Ricci, desempregado, encontra
finalmente uma ocupação como colador de cartazes e a bicicleta é
um instrumento essencial para trabalhar. Todavia ela desaparece
enquanto cola um cartaz no topo de uma escada tendo a perseguição
ao ladrão sido inútil. A polícia não o pode ajudar e Antonio
resolve de per se tentar recuperar a sua bicicleta, porém
sempre em vão. No desespero acaba ele próprio por furtar uma
bicicleta colocando-se no papel do ladrão porém sem a sorte do
anterior e vendo-se confrontado com o vexame do flagrante delito.
“Ladri di Biciclette” é
uma obra naturalmente datada mas não deixa de ser curioso o paralelo
que se estabelece com a atualidade onde as bicicletas são alvos
fáceis da cobiça alheia e, independentemente do seu valor ou da
quantidade e qualidade dos cadeados, são furtadas perante a
frustração e o desencanto dos seus proprietários, onde a polícia
mais não faz do que registar a ocorrência e em que as tentativas
informais de recuperação se revelam inúteis.
Tal como um automobilista
relativamente ao seu automóvel, qualquer ciclista adora a sua
bicicleta e o seu desaparecimento constitui um drama que supera
largamente o seu valor pecuniário. É que ela foi companheira de
aventuras e de bons momentos e nada supera a dor da sua desaparição.
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