(Publicado na Revista "Motor Clássico" setembro de 2014)
Terminou a Vuelta Ciclista a España 2014. A Vuelta, tal como o Tour de France e o Giro d’Italia, constitui uma das mais prestigiadas provas de ciclismo. A sua primeira edição ocorreu em 1935 (Tour 1903 e Giro 1909) o que faz dela a mais recente e com menos pergaminhos, ainda que rapidamente se tenha emparelhado com as demais.
Mas por que razão apenas estas três provas adquiriram a pátina da classicidade? É que para além da antiguidade existe um traço identitário comum: são provas de largo fôlego, com três semanas de duração, quilometragem total superior a 3.000 kms. e exigência física e psicológica extremas.
Para além de etapas planas e de contra-relógio, favorecendo roladores e sprinters, o seu
caráter idiossincrático assume-se sobretudo na dureza das suas míticas montanhas, particularmente as de categoria extra em que se diferenciam os corredores.
Os campeões assumem a aura de semi-deuses que pouquíssimos podem almejar. Em provas consideradas inumanas o seu desempenho físico ao mesmo tempo que roça a perfeição parece ridiculamente simples. Mas desenganemo-nos. O apuro de forma que permite percorrer as três semanas em menos tempo que o segundo classificado deve-se, não só, a caraterísticas inatas, a uma equipa a trabalhar para esse objetivo, a um condicionamento físico cientificamente gerido mas, acima de tudo, a uma vida completamente focada na vitória. A Vuelta 2014 foi, neste sentido, paradigmática. Alberto Contador venceu a prova pela terceira vez. Ficarão nos anais as duas disputas inumanas em que superou Chistopher Froome bem no cume das montanhas e nos metros finais, certamente com os pulmões a rebentarem, com aquela centelha derradeira que permite a superação e define o vencedor.
De facto “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mateus 22-14).
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