domingo, 22 de junho de 2003
Maratona da Retorta
Ainda pensei duas vezes antes de me deslocar a Vila do Conde pois maisninguém iria da zona de Lisboa. Há sempre o receio do evento, porqualquer motivo, poder não corresponder às espectativas e de podermosdar por mal empregue quer o tempo quer o dinheiro expendidos.Não foi decididamente o caso desta Maratona. Para além de rever velhosamigos a prova não me poderia ter corrido da melhor forma.Acabei por me fazer ao caminho sexta feira pelas 15:00. No dia seguinteestava a alinhar na Maratona. Sentia-me bem, tinha tomado um pequenoalmoço adequado e estava disposto a não repetir os erros de Portalegrepelo que o arranque foi suave na cauda do pelotão em amena cavaqueiracom o Nuno Duarte.Paulatinamente, um por um, fomos ultrapassando ciclistas e aproveitandopara circular em grupos mais ou menos homogéneos à medida que progredíamos.Estava a sentir-me muito bem fisicamente mas tentava manter o pulsocontrolado na zona aeróbica pois as dificuldades surgiriam mais adiante.Assim fui progredindo até o calor começar a apertar ainda antes da ZA 1.Ainda me dei ao luxo de parar para olear a corrente que se estavaqueixar bastante, o terreno estava muito poeirento e a travessia dealguns charcos também não ajudava. Foi remédio santo embora tenharepetido a operação por mais duas vezes. Também perdi a orientação maisum grupo de "Patus Bravus" e tivemos de rolar um quilómetro para trás asubir, mas isso são contingências de quem se aventura a rolar rápido:aumentando a velocidade e a concentração relativamente àsirregularidades do terreno os sinais de mudança de direcção tornam-sedespercebidos.Chegado à ZA 1 foi tempo de abastecer de água (o calor começáva atornar-se insuportável) e de arrancar a solo já que o Nuno Duarte estavasentado à sombra bebendo por um garrafão de Água Vitalis com um facisalgo fatigado. Progredi rapidamente tendo aproveitado o asfalto e oempedrado para rolar a bom ritmo e circulando em grupo durante algunsquilómetros sempre que alcançáva algum ciclista.Este era o segundo quarto da maratona e onde se iria efectuar a famosasubida da Franqueira, no concelho de Barcelos.Muito se rolou mas a dita adversidade nunca mais surgia. Eram cerca das13.00 e o calor começáva a tornar-se insuportável, começa-se então asubir duramente embora fosse ainda um falso alarme era uma subida préviaque rapidamente se converteu numa descida vertiginosa.Surge então a magna ascensão. A dificuldade maior era o piso algoirregular, embora quer o desnível, quer a distância fossem de respeito.O meu companheiro de pedal, que já me acompanháva há vários quilómetros,começa a subir em bom ritmo e consigo acompanhá-lo bem até metade semexceder demasiado o limiar anaeróbico. Ele segue já em 22X32 (vulgo"primeira-primeira") e eu ainda tinha uma e às vezes duas mudanças dereserva, estáva admirado comigo mesmo!A meio curváva-se à esquerda e a subida incilnava ainda mais e o meucompanheiro resolve apear. Sigo sozinho em 22X32 até ao cume, já semágua, sem comida (nos bolsos, bem entendido) e sem isotónico: aquelasubida tinha feito razia total. Finalmente a ZA 2 e a visão mirífica doGuillaume Kuchel com um garrafão de Vitalis nas mãos a parecer milagrosa.Tempo de molhar a cabeça no chafariz (que bem que soube), endireitar ascostas, abastecer de água, colocar barras energéticas nos bolsos edesfazer o pó do isotónico. Sou então informado que sou o quinto a alichegar: nem queria acreditar.Arranco rapidamente por ali abaixo juntamente com outro ciclista quetinha chegado momentos antes. Primeiro a descida das escada a serefectuada à mão, poupa-se o material e acaba por cansar menos. Cruzamosa estrada e nova série de lanços de escada embora agora dois e trêsdegraus de cada vez. Passo montado embora num deles a queda tenha estadoeminente por causa do desníevl ter sido maior do que o avaliado, foi porum triz. Fiquei furioso comigo mesmo já que corri o risco de, num gestoirreflectido, quase ter deitado tudo a perder.Não havia tempo para pieguísses e lá continuámos em bom ritmo emboraeste terceiro quarto da maratona tenha sido o mais difícil para mim, asucessão de subidas e descidas aliadas ao calor intenso a complicar emuito as coisas. Por outro lado a passagem em zonas muito técnicas efechadas dificultou, e muito, a progressão. Numa zona descendente erápida de asfalto novo engano que teve como consequência ter de voltarpara trás durante mais de um quilómetro (a subir, claro).A ZA 3 ainda se afigurou, assim, como mais mirífica. Aí estavam os trêsprimeiros pelo que, entando a progredir com alguma dificuldade e tendode manter um ritmo mais baixo, resolvi abreviar a paragem e arrancar nadianteira.Estas minhas paragens fazem lembrar os reabastecimento na Fórmula 1:apenas o mínimo indispensável.Circulo então na frente por cerca de 45 minutos até ser alcançádo poraqueles que se iria classificar nos quatro primeiros lugares. O ritmoera bem diferente pelo que nem sequer esbocei a miníma tentativa de osacompanhar, seria um suicídio. Sigo no meu ritmo e tento manter aconcentração, a um tempo, na navegação e nas condições do piso já afazer apelo ao espírito de sacrifício.É aquela fase em que se começam a contar os quilómetros restantes, asbarras energéticas se tornam incompatíveis com o apetite e se avançafazendo apelo às reservas.A visão do IC1 e principalmente do acesso "Vila do Conde" a darem-nos umnovo ímpeto. Chego a um controlo onde me informam que já só falta meiadezena de quilómetros. Gradualmente começo a reganhar as forças, comoque por milagre, aparece a subida final que faço em bom ritmo e corto achegada alcançando um marco histórico: quinto lugar em 76 participantescom a marca de 7:48:00, não foi nada mau mas o tratamento foi de choque.Rapidamente o duche e repor algumas energias para compensar a marcaavassaladora das 5.000 Kcal consumidas.Tive pena de não ficar para jantar mas esperavam-me cerca de 370 kms. deestrada que felizmente tinha muito pouca densidade de tráfegoresponsável por uma viagem rápida e segura.E assim rezam as crónicas na Retorta, Vila do Conde aos vinte e um diasdo mês de Junho do ano da Graça de dois mil e três desta cristianissíma era.Para o ano há mais. Por certo!¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤º°`°º¤ø¤º°`°º¤ø,¸¸,ø¤º°`°º¤ø¤º°Saudações Virtuais, Virtual Best RegardsAntónio Pedro Roque Oliveira
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