quarta-feira, 6 de julho de 2005

Reconhecimento da Primeira Linha Avança


Indicação do Monumento a Hércules em Alverca

No sábado passado, em conjunto com o Jorge Cláudio (inseparável companheiro destas andanças) efectuei o reconhecimento do primeiro dos 3 troços da 1.ª linha das lendárias "Linhas de Torres".

Tratou-se do troço que vai de Alhandra até Arruda dos Vinhos e regresso.

A quilometragem final foi relativamente modesta, se comparada com os dois troços da segunda linha efectuados anteriormente mas altitude acumulada foi, todavia, de respeito, ou seja: 1900 metros positivos para um percurso de cerca de 60 quilómetros!

O reconhecimento final será efectuado no próximo domingo mas deverá quedar-se pelos cinquenta quilómetros. Mas, afinal a que se deve este diferencial de dez quilómetros?

Deve-se, essencialmente, à implementação recente da A10 (CRIL - Arruda dos Vinhos, por enquanto) no terreno, o
que implicou que as travessias se efectuem a poente da povoação do Calhandriz por um único ponto.

Ora, em sucessivas "tentativas e erros", gastámos nada mais nada menos que 10 kms. !

O início deu-se no Sobralinho, junto a Alhandra (a taurina no dizer de Garrett), para se começar, desde logo, a ascender e muito até ao famoso monumento às "Linhas de Torres" que fica sobranceiro à A1 muitos de vós já o devem de ter avistado, no sentido N-S do logo após V.F. Xira à direita.

Trata-se de uma estátua de Hércules com a pele do Leão de Nemeia na mão. Recorda o primeiro dos doze trabalhos de Hércules e simboliza o trabalho verdadeiramente "hercúleo" que foi o erguer das linhas mas que teve, como compensação, a vitória total sobre o inimigo francês em 1810.

Em baixo
uma inscrição à memória de Fletcher o T. Cor de engenharia do exército britânico que comandou esta incrível empreitada militar que é, ainda considerada como a maior obra de engenharia militar defensiva inglesa.

A vista é prodigiosa com o Tejo, a Lezíria, e a zona da A1

avistando-se Xira, Alhandra e Alverca. Veja-se, a propósito
http://members.fortunecity.com/jabrodgues/hercules.html .

Daí seguimos sempre a subir, pela estrada militar, até um conjunto de fortes e baterias, alguns em muito bom estado que, pelo cume da Serra de Alhandra constituíam a defesa de Lisboa.

Aqui, diferentemente da segunda linha, "sente-se" bem a História. É que para além do razoável estado de conservação dos vestígios, algumas destas posições chegaram a mesmo a disparar contra o inimigo e esta era, sem dúvida a frente de combate.

Recordemos, a este propósito o que está escrito em
http://alhandra.no.sapo.pt/foralhistoriapatrim.htm

" No alto da elevação que domina a Vila de Alhandra, no extremo sudeste da Serra de Alhandra ou dos Anjos ou ainda de S. Lourenço, encontra-se o Monumento Comemorativo das Linhas de Torres Vedras, erigido em 1883, no local do "Reduto da Bela Vista" (Nº 3), no Distrito de Alhandra ou 1º Distrito da 1º Linha. Esta primeira linha de fortificações começava no Rio Tejo, com a chamada "Bateria do Tejo", que não era mais nem menos, que uma Bateria Flutuante de 14 barcas - canhoneiras inglesas, que subiam e desciam o Tejo, vigiando-o, com o apoio directo às "Baterias da Estrada (Nº 1) e do Conde (Nº 2)". Estas fortificações militares que começavam na Vila de Alhandra, faziam parte das chamadas "Linhas de Torres Vedras", construídas com grande sigilo entre 1809 e 1812 pelas tropas Luso - Britânicas e pelo povo, contra os exércitos de Napoleão. Além da visita ao Monumento, o local apresenta uma boa situação sobranceira ao Tejo, que permite uma
boa apreciação deste e do seu estuário, assim, como, também uma boa apreciação sobre a Vila de Alhandra e do Vale de S. António, constituindo por isso, um "autêntico miradouro". Bem perto, próximo do local fica o Reduto nº 114 - 1º de Subserra, que os alhandrenses conhecem como "Forte Velho", que se encontra em razoável estado de conservação, graças a uma recente intervenção de limpeza, assim como toda a zona envolvente, incluindo a antiga Estrada Militar, e que também merece uma visita."

Ultrapassada a zona que fica acima da Subserra entrámos nos limites da pedreira da Cimpor em Alhandra para chegarmos ao famoso "forte dos
sinais" (318 metros de altitude precisamente o ponto mais alto desta
primeira parte da incursão) em que, através dos códigos da marinha
(bandeiras coloridas) as ordens podiam ser transmitidas, quase em
tempo real, através de um conjunto de postos nos pontos mais altos
(Serves, Montachique na segunda linha ou Alqueidão e Socorro na
primeira) até ao outro extremo das linhas. Engenhoso e eficaz!

Após avistarmos as baterias que defendiam a passagem do magnífico vale
de Calhandriz foi tempo de descer até A-dos-Melros (85 m.), cruzar o
vale e subir fortemente até à povoação que dá o nome ao vale. Aí havia
que encontrar a passagem ascende que cruzasse a A10 e nos levasse até
aos 4 fortes do Calhandriz. Tarefa essa que, como já acima referi, não
foi nada fácil não só pelas inúmeras e erradas variáveis possíveis
quer, sobretudo, pela dificuldade que constituiu a ascensão final que,
pese embora o facto de estar asfaltada foi muito difícil de vencer até
dominarmos os 343 metros de altitude).

Dos fortes do Calhandriz avançámos por A-de Mourão até subirmos aos
356 metros correspondentes ao delta onde se situa o Forte do "Chão da
Vinha"e o seu gémeo nos moinhos da serra um pouco mais a nascente.
Excelente as vistas a partir deste miradouro sobre o vale do Rio da
Silveira.

Foi tempo de se avançar ao "Forte Cego" que fica mesmo por cima de
Arruda dos Vinhos. O pior foi mesmo lá chegar: tivemos que cruzar uma
pedreira em plena laboração. Passámos mesmo junto aos explosivos
colocados (embora ainda não rastilhados). Já está prevista uma
alternativa pois o BTT, só por si, já é uma actividade perigosa q.b. ;-)

Depois fomos, sempre pelo topo, até ao ponto mais alto da incursão que
é o Forte da Carvalha e daí até ao último dos fortes visitados neste
primeiro troço: o Forte do Céu que defendia a confluência da Ribeira
da Louriceira com o vale do Rio da Pipa perto de Arruda dos Vinhos.

Daqui já se avista o forte grande do Alqueidão, ao longe onde
prosseguirá o reconhecimento do segundo troço da primeira linha e que
nos irá levar quase até Torres Vedras (com passagem garantida pelo
cimo da Serra do Socorro, pois então).

A partir daqui foi descer fortemente até Arruda, transpor a A10 e
efectuar um regresso muito rápido cruzando uma zona paisagisticamente
muito interessante que cruza o vale da ribeira de Santo António até à
histórica povoação da Subserra no sopé da Serra de Alhandra.

Tempo de subir até ao chamado "forte grande da Subserra" onde já
havíamos passado de inicio e iniciar a descida até ao local de partida.

O melhor pedaço estava guardado para a pós-incursão. De facto
deslocámo-nos de carro até Alhandra onde estivemos a ver o azulejo
monumental evocativo do "primeiro distrito" das linhas que era,
precisamente, o de Alhandra.

Pedro Roque

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei de ler e verificar o seu interesse pelas Linhas de Torres.
Infelizmente estes redutos não têm tido por parte de quem de direito e dever, a devida atenção.
Gostei da descrição dos percursos e como já conheço alguns dos Fortes devido á minha actividade de geocacher (ver www.geocaching.com e www.geocaching-pt.net), fico muito agradado por ver que mais alguém se interessa por este pedaço da nossa história.