quarta-feira, 13 de junho de 2007

TRAVESSIA LISBOA - FÁTIMA - COIMBRA


Jornada de grande dureza mas, ao mesmo tempo, absolutamente inesquecível.

Assim se pode resumir aquilo que se passou nos idos 7 e 8 de Junho: 14 concelhos, 4 distritos, 280 kms., duas etapas, 4.000 metros de altitude acumulada positiva a exigirem elevado espírito de sacrifício e preparação física razoável.

A ideia foi juntar a habitual e anual peregrinação até Fátima com um segundo dia até Coimbra.

O Mário Silva prontificou-se a acompanhar-me e, apesar do azar que lhe bateu à porta, à saída da Azambuja, completou o percurso sem problemas e foi a companhia ideal para um trajecto em que a dureza apenas foi superada pela beleza de muitas partes do caminho.

A saída deu-se pelas 08:30 do km. 0 do “Caminho do Tejo” ou seja, o Pavilhão de Portugal no Parque das Nações.

Tivemos, até à Azambuja, a companhia do Pedro Soares que estava a treinar os kms. derradeiros para a “Garmin Transportugal”. Tal facto revelou-se uma mais valia uma vez que, entre Castanheira de Pêra e Azambuja foi só “colar atrás” e aproveitar a “technique de peloton”. Foi um instante até alcançarmos a Estação da Azambuja. De resto tínhamos, há uma semana, feito a ligação Setúbal, Sesimbra, Lisboa para testar a forma e cujas fotos podem ser encontradas aqui. (http://picasaweb.google.com/AtlasCores/BTTSetubalLisboa?authkey=t8-ba_OMt0c).

Após a despedida na estação seguimos pelo esteiro da Azambuja onde estava reservado um primeiro “golpe de teatro”. Depois de sairmos da estrada, após a transposição da vala real, seguimos algumas centenas de metro junto a esta, no meio dos canaviais, viramos à direita e entramos numa zona com diversos regos longitudinais secos pelo sol.

O Mário desconcentrou-se um pouco do caminho e resvalou com o pneu da frente nessas regueiras. Numa manobra hábil consegue contrariar o desequilíbrio e saltar da bicicleta que cai por baixo de si. Quando pega na bicicleta para seguir viagem constata-se que a famigerada “máquina do fiambre” (pedaleira 42) tinha feito mais uma vítima.

Tratou-se de um golpe vertical cerca de 7 cms. de extensão e uma profundidade razoável mas que não comprometeu, todavia, os gémeos direitos. Valeu na hora o meu “hospital de campanha portátil”. Um kit de primeiros socorros equivale a um extintor ou a um cinto de segurança: todos nos interrogamos sobre a sua utilidade até ele se tornar indispensável e fazer toda a diferença sobre quem não o possui.

De facto, à paragem técnica inevitável, seguiu-se a lavagem da ferida com água, a limpeza com um toalhete humedecido, a aplicação da iodina e a selagem com um penso de grandes dimensões. A “piéce de resistence” foi a aplicação da gaze que isolou, por completo, a ferida do exterior. Fez toda a diferença a presença do kit de primeiros socorros. A ligação poderia ter acabado ali mas pode assim prosseguir sem grandes problemas.

De resto, betetista que se preze, tem uma marca indelével efectuada pela “máquina do fiambre” no gémeo direito. Eu, como já sou experiente, tenho uma desde os idos 2003!

Sem tempo para mais constrangimentos, foi altura de cumprir aquelas intermináveis rectas até à subida para Santarém, nas Ómnias, após a passagem da ponte Salgueiro Maia.

Este é o tempo da primeira grande paragem do dia para um almoço resumido, reabastecer de água e seguir viagem. Na Portela das Padeiras outro incidente (este sem gravidade). O viaduto sobre a A1 estava destruído (em virtude das obras de alargamento), tivemos de voltar atrás e seguir pela EN. Depois é o trajecto habitual debaixo de um calor que, sem ser excessivo, recomendava um ritmo mais calmo.

Sucediam-se as povoações: Azóia de Baixo, Casais de São Brás, Advagar, Santos, Casais das Milhariças, Arneiro das Milhariças e, antes de chegarmos ao descanso dos Olhos de Água, a famosa e dura ascensão ao outeiro dos três moinhos no Alto da Cruz, antes de Chão de Cima.

Em Olhos de Água a “detente” habitual apesar de ser um dia feriado. Tempo de abordar o PNSAC. A primeira impressão é, aliás, bastante impressiva: corresponde à saída íngreme dos Olhos de Água. Depois segue-se Monsanto e a subida para o Covão do Feto e daí sempre em ascensão até à Serra de Santo António.

Tempo de descer vertiginosamente até Minde onde se alcançam velocidades alucinantes “costa abaixo”. Aqui é tempo de nova pausa e de preparar o troço final até Fátima. Os kms. já pesam nas pernas e a ascensão ao Covão do Coelho (e após este) a fazer-se algo penosamente embora a partir desta última localidade “já cheire a Fátima”.

A chegada à Cova da Iria fez-se já perto das 20:00. Hospedamo-nos na residencial Casa Vitória (http://www.residencialcasavitoria.com/) que, passando a publicidade consegue um bom compromisso preço – qualidade com as vantagens adicionais de guardarem as bicicletas, ficar muito perto do santuário e ter restaurante.

De manhã, após o pequeno almoço, recomeçámos. O segundo dia previa-se mais curto mas com uma altimetria mais elevada. Possuíamos o track do “Caminho de Santiago” e um outro com diversas passagens alternativa por forma a evitar o máximo de asfalto.

A primeira alternativa a Santiago faz com que tomemos um atalho descendente logo em Fátima e na direcção da estrada para Ourém que, além de evitar muito asfalto, poupa alguns quilómetros. Ainda antes desta localidade, em São Sebastião, derivamos para a direita, abordando a encosta NW do morro de Ourém por fora da estrada, até à chamada “Ponte dos Namorados” e daí entramos na Corredoura. É uma zona muito bonita e que proporciona uns excelentes planos do Castelo de Ourém.

Viramos para N, seguindo o curso da Ribeira da Caridade por uma bonita estrada secundária e, um quilómetro adiante, viramos para NE. Como as curvas de nível do GPS já ameaçavam tratou-se de subir muito duramente os cerca de 500 metros de terra batida entre o Casal dos Gagos e a EN 1404.

A partir daqui e até Caxarias, a forma de progressão S – N seria sempre idêntica: rolar para NW no vale, sair à esquerda para N subindo a montanha fortemente e descer de novo para o vale seguinte. Foi assim na Ribeira da Granja, na Ribeira do Olival e na Ribeira de Caxarias.

A chegada a esta estação promete ficar na memória: um single track descendente excepcional seguido de uma ascensão em elevador (leram bem: em elevador). A transposição inferior da linha do Norte contava com uma subida à estação em que se podia subir uma escada ou, alternativamente, subir num elevador. Optei pelo meio mecânico apenas para acrescentar um pitoresco à incursão.


Em Caxarias entrei num mini mercado para comprar água mineral. Uma das clientes soltou um expressivo “credo!” quando me avistou. Compreendi assim que as criaturas licradas que dirigem bicicletas de TT não são muito familiares pelas bandas...

Estava cumprido o primeiro quarto do segundo dia de percurso. O seguinte haveria de nos levar até Ansião. Para se sair do vale da Ribeira de Caxarias mais uma vez tivemos de subir para, de seguida, descer até ao vale seguinte que era, no caso vertente, o da Ribeira do Carvalhal. Continuámos para N por Casal dos Pinheiros, Cacinheira, nova subida e descidas fortes até à Ribeira do Fárrio.

Depois dá-se novo “golpe de teatro”. Numa zona muito montanhosa que antecedia a cehgada ao vale do Nabão o caminho, assinalado no track, estava completamente fechado com a vegetação. A alternativa, que custou a encontrar (só após algumas “tentativas e erros”), levava-nos para S e SW e numa ascensão brutal até que conseguíssemos, de novo, virar para N e descer para o Nabão.

Chegámos a São Jorge donde viramos à direita e paramos para aguada junto a um chafariz. Seguimos para N junto ao leito do rio num percurso espectacular. A dado ponto rodamos para E e subimos o “Vale da Abelha” por um caminho também muito interessante. A altimetria começa agora a subir em direcção a Ansião. Trata-se do nosso primeiro contacto com a Serra do Sicó sucedendo-se as povoações: Murtal, Casal Novo, Ramalheira, Gramatinha, Casal Folgado, Casais Maduros, Casal do Soeiro e Ansião. De realçar a beleza paisagística e patrimonial deste troço do Sicó que antecedeu Ansião.

Nesta terra tempo para uma paragem numa pastelaria do outro mundo. Uma taça com “pasta” esperava por nós e foi tempo de recuperar energias.

Tempo de seguir de novo na direcção N transpondo o Nabão e as povoações de Bate Água, Gamitos, Areosa e Nebos internando-nos, cada vez mais no Sicó, Lugar dos Netos, Portela, Casais da Granja e Alvorge.

O problema nesta zona do Sicó era a vegetação que tornava os caminhos impraticáveis obrigando-nos, amiúde, a desmontar. Era o reino do carrasco e das silvas a prejudicar a nossa progressão.

Prosseguimos com o Castelo do Rabaçal ao fundo até alcançarmos o Zambujal que, para quem conhece o Sicó, é uma espécie de paragem obrigatória na zona. Sentados na escadaria do adro da Igreja foi tempo de relaxamento e de reequilíbrio incontornável da energia apreciando os quadros rurais que só uma aldeia serrana oferece.

Daqui até Conimbriga os quilómetros foram vencidos rapidamente passando pela Fonte Coberta e pelo Poço onde a ascensão dá lugar àquela magnífica descida até à ponte da Ribeira de Mouros onde se alcançam, finalmente, as ruínas romanas de Conimbriga.

Estava pois cumprido o terceiro quarto deste nosso segundo dia de jornada. Faltava agora ligar a Coimbra tarefa essa que se revelaria um pouco mais penosa do que inicialmente se poderia supor. Foi tempo de se passar Condeixa por nascente, Orelhudo, Gasconha, Cernache e Pousada. Tinha preparado uma alternativa até Pousada que não se efectuou em virtude do adiantado da hora. A complicada passagem em Cernache, todavia, recomenda que, em futuras edições, se deva utilizar essa alternativa a nascente.

De Pousada até Palheira a progressão faz-se pelo meio de um pinhal e a N de Antanhol foi altura de cruzar, finalmente, a EN 1 / IC2. De novo um “golpe de teatro”: a passagem superior foi destruída num acidente há semanas pelo que a transposição de tão importante, movimentada e perigosa artéria teve de ser feita de “cernelha” isto é, cruzando-a a correr esperando uma aberta na circulação infernal. Ainda por cima foram três as vias que tiveram de ser cruzadas mas tudo correu sem percalços, felizmente.

Subimos à Cruz de Morouços onde se fica com a cidade de Coimbra à vista. Nestas ocasiões é sempre um tempo de glória com a sensação de dever cumprido quase a chegar.

Todavia a missão ainda estava longe de estar completa. Após a descida até ao Bordalo havia que subir até à Mesura e daí, finalmente, descer por Santa Clara até ao Mondego. A transposição do rio efectuou-se, naturalmente, pela nova ponte pedonal de Pedro e Inês e daí até à baixa pelo jardim do rio.

Na Baixa a missão, para ser cumprida implicava que se subisse via Sé Velha até à Universidade, Jardim Botânico e Penedo da Saudade até aos Olivais. Assim se procedeu, a custo, é certo, mas com firmeza e determinação.

A sensação de dever cumprido e de “detente” a chegar finalmente pelas 20:00 de uma segunda jornada que sem ser tão longa como a primeira implicou, todavia, um maior empenho para ser levada de vencida.

Se comparado com o Raide Setúbal Algarve posso, sem receio, afirmar que é um desafio mais duro em virtude da altimetria.

As fotos podem ser encontradas aqui.

2 comentários:

JORGE disse...

Eh Eh!! Na zona entre Zambujal e as ruínas de Conímbriga ainda devia andar poeira no ar. Tinha lá passado no dia anterior.

Anónimo disse...

a casa com pinta é da minha mãe...
só é pena o caminho!