terça-feira, 7 de outubro de 2008

Código da Estrada é o principal travão ao uso da bicicleta


in JN - 2008-10-05 - REIS PINTO - foto Fernando Oliveira/JN

Velocípede não é um meio de transporte. Quase nunca tem prioridade

Código da Estrada é o principal travão ao uso da bicicleta

A bicicleta como meio de transporte tem vindo a ganhar adeptos. Apesar das preocupações ambientais, do aumento dos combustíveis e da procura de uma vida mais saudável, apenas 1% anda de bicicleta.

Não há motivo aparente para tão fraca adesão, isto apesar de aos fins-de-semana ser normal ver grandes grupos de cicloturistas e praticantes de BTT. Aliás, qualquer prova de cicloturismo reúne, normalmente, mais de dois milhares de participantes.

O perfil de muitas das nossas cidades também não é impeditivo da utilização da bicicleta nas deslocações casa/trabalho. "A técnica há muito que resolveu esses problemas. Até as mais pequenas bicicletas desdobráveis já têm três velocidade no cubo e vencem qualquer subida. Além de que já há muita gente que as leva na bagageira do carro. Estacionam onde houver lugar e vão para o emprego de bicicleta", sublinha José Caetano, presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores da Bicicletas (FPCUB).

José Caetano encontra outras explicações para nos encontrarmos na cauda da Europa no que diz respeito à utilização diária da bicicleta. A principal das quais dá pelo nome de Código da Estrada (CE). A bicicleta, diz o presidente da FPCUB, "não está ser encarada como um modo de transporte" e o CE "é um grande obstáculo a quem quer usar a bicicleta", veículo que quase nunca tem prioridade.

"Parece que ainda não percebemos o que está a acontecer com o preço dos combustíveis. Penso que, até por razões económicas, mais tarde ou mais cedo teremos de optar pela bicicleta", refere José Caetano.

Para Ana Pereira, da "Cenas a pedal", uma empresa que se dedica à comercialização, on-line, de bicicletas e acessórios, o Código de Estrada, é o "inimigo" principal das duas rodas.

"É a questão da prioridade, que nos prejudica bastante e, também, a obrigatoriedade de circularmos pelas ciclovias ou faixa cicláveis, que muitas vezes não estão nas melhores condições. Por outro lado, aumentam o número de cruzamentos", refere Ana Pereira.

Há, efectivamente, especialistas em mobilidade que apontam diversos aspectos negativos às ciclovias, como o aumento dos cruzamentos, que é onde ocorrem 95% dos acidentes com ciclistas. Por outro lado, o traçado das cidades dificulta a implantação de ciclovias e cria um relacionamento conflituoso com os peões.

Polémicas e estatísticas à parte, certo é que o ciclismo de lazer tem aumentado de uma forma sustentada, não sendo descabido pensar que muitos dos praticantes se poderão facilmente render aos benefícios da bicicletas como meio de transporte diário.

Jorge Mário, da CicloCoimbrões, destacou que a grande moda são as bicicletas desdobráveis. "Metem-se na mala do carro e podem ser utilizadas em qualquer altura. Os preços variam entre os 190 e os 380 euros [quadro de alumínio]. O que continua a vender-se bem são as bicicletas mais caras, para BTT e outras modalidades, como a BMX, que custam mais de seis mil euros", refere Jorge Mário. Para as voltas da cidade chegam 300 euros.

Se tem dinheiro e só lhe falta a vontade, siga o exemplo de José Caetano: "Quando tive a "crise" dos 40 deixei de fumar e de beber e comecei a andar de bicicleta. Hoje, com 65 anos, sinto-me com mais saúde e energia do que quando tinha 30 anos".

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