Como tinha de ir passar o fim-de-semana a Leiria aproveitei para fazer parte do percurso de bicicleta. A ideia foi a de ligar, pela costa, as Caldas da Rainha à cidade do Lis.
Tomei o Interregional da Linha do Oeste que, de Entrecampos, via Meleças, liga às Caldas. Após o troço comum com a linha de Sintra, a ligação entre Meleças e as Caldas é algo de fantástico. O ambiente a bordo é muito diferente de um comboio "normal", menos pessoas e que se dividiam entre turistas e pessoas e gente rural. Não fora o material ferroviário ser "modernizado" e eu diria ter recuado no tempo. Até porque todo o traçado difere daquilo a que estamos habituados na Linha do Norte por exemplo: via única, diversos túneis, traçado acidentado pelo meio de montanhas e desfiladeiros e uma velocidade "humanizada", nada daquelas correrias dos pendulares e afins. Acresce o facto de se cruzarem locais praticamente todos já pedalados anteriormente. Cada estação revela um local desse tipo e foram-se sucedendo: Sabugo, Malveira, Pêro Negro, Dois Portos, Torres Vedras, Bombarral e, finalmente, Caldas. Referência ainda para o transporte da bicicleta, o material utilizado pela CP, nesta linha, possui um compartimento especial para carga mesmo atrás da cabine do maquinista com um gancho no tecto da composição para pendurar bicicletas, notável. Até porque, a primeira parte dessa composição (equivalente a meia carruagem, ou um quarto da automotora) e junto ao dito compartimento, é de 1.ª classe, com a vantagem de não existirem, na ligação, classes, ou seja, viajamos um pouco mais confortáveis sem acréscimo de preço.
Como optei por tomar o Interregional (em lugar do regional que parava em todos os inúmeros apeadeiros) a chegada deu-se já perto das 12:30 ou seja, havia que pedalar com um ritmo vivo para se chegar a Leiria ainda com a luz do dia já que o track GPS que compus (compilei vários que tinha e risquei alguns caminhos no GE) me indicava uma distância perto dos 100 kms., ou seja, teria menos de sete horas para que isso fosse possível de acontecer. Sem embargo mais de 85% da distância havia sido, por mim, percorrida anteriormente em ocasiões diversas e sabia que, pelo menos entre Nazaré e São Pedro de Moel, a média seria elevada por causa da excelente ciclovia. Ainda assim as luzes fizeram parte do kit que comigo transportei.
Assim saí sem demoras da estação e dirigi-me para SW em direcção a Lagoa de Óbidos que alcancei, sem demora, atravessando rápidos estradões pelo meio dos pinhais da zona, para começar a rumar, então, na direcção N. Primeira constatação, o vento soprava de E. Incredulidade inicial: acho que não tinha memória de o vento soprar daquele quadrante, ainda por cima moderado, por vezes forte. Restou a consolação que, se soprasse como habitual de N ou NW as coisas seriam bem piores, assim apenas me afectou quando o caminho virava a NE ou a parte final entre Moel e Leiria, sobretudo no troço da ciclovia até à Marinha Grande.
A Lagoa de Óbidos é um descanso para a vista. A sua placidez, num dia de sol, a dar o exacto toque de tranquilidade que todos buscamos no BTT. Foi o primeiro grande momento do dia. O problema é que, logo, é necessário subir até ao Nadadouro e daí em direcção à Foz do Arelho em que não se entra antes se cruza a estrada e, aí, a grande dificuldade do dia, subir do nível do mar até à Serra de Bouro. Há dois ou três troços de cortar a respiração mas nada que o empenho e a forma física (apenas razoável, porém em progressão) não levem de vencida por entre dois ou três goles de isotónico.
Lá em cima é tempo de sobe e desce com o mar (sempre o mar) a poente e o vale do Tornada a nascente. Magníficas as vistas as que se tomam de Cidade. Parte do traçado a efectuar-se pela berma esquerda da estrada (correspondente a uma ciclovia algo manhosa) a alternativa é improvisar pelo pinhal, com o risco da areia nos tolher os movimentos ou os caminhos sem retorno das falésias.
Lá em cima trata-se quase de uma reedição do troço anterior, pelo cimo da serra. Optei por seguir sempre pela crista da mesma (que vai assumindo diferentes nomes consoante o local: Mangues, Famalicão e Pescaria) em lugar de descer pela praia do Salgado e viajar, lá por baixo, até à Nazaré com o risco de me atolar na areia. Assim, após Pescaria, a descida forte até ao nível do mar e a EN 242 que abandonei logo de seguida, à direita para subir fortemente e contornar, por nascente, a Nazaré evitando a confusão de uma estrada movimentada e a ainda mais violenta subida até ao Sítio desde a praia. Foi, se quiserem, uma circular improvisada mas que resultou muito bem e rapidamente me coloquei em posição de atacar a Estrada Atlântica.
A ciclovia da Estrada Atlântica é a melhor maneira de se cruzarem aqueles pinhais. É se quisermos, uma via rápida para bicicletas, que acompanha a estrada mas que dela está perfeitamente separada fisicamente. Os pinhais do litoral são, na maior parte dos casos, armadilhas para ciclistas pois, quando menos se espera, estamos atolados, sem apelo, num areal. Aqui, neste tapete vermelho imaculado fazem-se, sem esforço assinalável, médias superiores a 20 kms./h apesar dos fartos pneus de BTT.
Passa-se rapidamente o parque eólico, a Falca, a Légua e o Vale Furado. Chegados ao parque de campismo de Paredes de Vitória há que tomar uma decisão: ou se desce para o buraco (a praia bem entendido) e se sai dele (a subir fortemente) ou se segue para nascente, por ciclovia e se toma a outra ciclovia que vem de Pataias, sem se descer nem subir. O preço a pagar seriam mais 3 ou 4 kms. que entendi não se justificarem, ainda por cima enfrentando o vento de E. Nem hesitei e desci, naturalmente que lá tive que subir penosamente. Nem tive muito tempo de me arrepender pois, quando dei por mim já estava, de novo na ciclovia, em direcção a Moel. Este troço é mais interessante pois o pinhal desaparece do lado poente libertando as vistas magníficas para a praia e o mar: Polvoeira, Pedra do Ouro e Água de Madeiros são os nomes a reter neste local magnífico da costa portuguesa antes de se alcançar a pitoresca S. Pedro de Moel que foi abordada também resumidamente circulando por nascente em direcção à ciclovia que nos conduzirá até à Marinha Grande.
Aí foi o cabo dos trabalhos. Esta ciclovia não é como as da Estrada Atlântica já que é algo sinuosa com um traçado "rompe pernas" que, muito embora não apresentando dificuldades de maior, impediu manter a elevada média obtida a partir da Nazaré. Mas o verdadeiro problema foi o vento a soprar de nascente, ou seja, de frente a agir como uma barreira física adicional. Enfim, lá se prosseguiu até quase à Marinha Grande onde se deriva, ainda antes do final da pista, para a esquerda (NE) para se contornar a cidade vidreira por norte evitando a confusão. O traçado revelou-se bem escolhido que as principais estradas eram todas cruzadas sem sequer se circular nelas. Eram, sem embargo, terrenos que nunca tinham sido abordados anteriormente mas que, apesar disso se revelaram ser uma boa aposta já que a zona é de pinhal com os problemas que isso acarreta pelo que as estradas secundárias são a única opção viável.
Num instante estava a cruzar a A17 e a chegar a Barreiros a NW de Leiria e pronto para abordar a várzea do Lis. O problema foi mesmo após transpor o rio já que o traçado escolhido me zona de várzea, atravessava propriedades privadas e a improvisação impôs-se, por força das circunstâncias, ao track proposto. Lá consegui, finalmente, transpor a linha férrea já bem perto da estação de Leiria na Gândara dos Olivais e daí foi chegar à zona do estádio para, finalmente, após mais de nove dezenas de kms., circular na lindíssimas e recentemente recuperadas margens do Lis em plena cidade de Leiria mesmo ao lusco-fusco. Assim se demonstra a importância de um planeamento adequado.
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