quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Desta Vez de Coimbra a Lisboa

Fotos obtidas "Por Aí"

Após 3 ligações BTT entre Lisboa e Coimbra já estava um pouco saturado, confesso, de pedalar para Norte. De facto nunca tinha feito a travessia no sentido N - S.

Devo referir que apesar de o traçado ser o mesmo as coisas parecem muito diferentes, seja em virtude da luz que incide de modo distinto, seja em função de o relevo se fazer sentir "ao contrário", ou seja,: as subidas agora são descidas e vice versa ou, ainda, em função dos planos visuais se alterarem por completo. São duas travessias distintas.

A ameaça de chuva esteve longe de se concretizar, felizmente. Apesar de ir a solo a jornada foi muito interessante.

O domingo amanheceu soalheiro e rapidamente foram vencidos os metros até ao Mondego e à ponte de Santa Clara naquela que, em sentido inverso, constitui o desafio final que é levar o "conjunto" desde a margem aprazível do rio até aos Olivais.

O problema é, mesmo, na outra margem subir Santa Clara até se alcançar Antanhol. As rampas sucedem-se: primeiro a Calçada da Rainha Santa e, alguns quilómetros volvidos, as de Cruz de Morouços a tirarem o fôlego ao mais treinado. A progressão estava muito lenta. O que vale foi que, a partir de Antanhol, não obstante algumas subidas o ritmo foi rápido até Ansião.

No planalto do Sicó fui sempre pelo asfalto já que tem muito poucos carros e permite uma velocidade agradavelmente elevada servindo, dessa forma, para ganhar tempo e rapidamente se passa o Rabaçal e se chega a Ansião que representa quase metade do primeiro dia.

Aí a detente gustativa com as sanduíches de queijo a “mudarem de saco”... Tempo de conversa com um grupo de peregrinos pedestres brasileiros que percorriam o caminho desde Lisboa a caminho de Santiago de Compostela. Eram três casais na casa dos 60 anos. Achei fantásticas as suas descrições. Eram uma espécie de profissionais do “Camiño” já que não era a primeira vez que o percorriam.

Após Ansião, a subida até se alcançar a descida para Alvaiázere (via Casais Robustos e serra de Alvaiázere), é estupenda, porém, extenuante. Cheguei exausto ali tive que passar pelas brasas durante 15 minutos! A partir daí começa um sobe e desce demolidor até Tomar mas, quando se avista o Nabão e se segue na sua margem ao longo de um interessante quilómetro, pelo meio de um carvalhal, ficamos com a sensação de dever cumprido neste primeiro dia após 98 extenuantes quilómetros.

Não sem antes me ter cruzado com um grupo de 3 ciclistas portugueses (incluindo uma senhora) a caminho de Santiago. Estavam devidamente trajados a rigor e bem equipados com dois reboques “Extrawheel” (ainda hei-de ter uma coisa daquelas, palavra de honra). Um breve cumprimento da praxe e lá segui o derradeiro quilómetro até à cidade sede dos templários.

Tomar é uma cidade fantástica sobretudo para quem se alberga no centro histórico e avista o castelo e o Convento. Foi com este cenário que adormeci invulgarmente cedo (09:30) e acordei 12 horas após (!) de facto o cansaço que senti na véspera em Alvaiázere foi um aviso que só rende quem descansa devidamente.

A cura de sono foi a melhor coisa que me poderia ter acontecido já que me apliquei de modo distinto ao da véspera e senti-me sempre melhor, mesmo após o , habitualmente, demolidor rompe pernas que é a ligação Tomar – VN Barquinha até o Tejo pacificar o relevo. São caminhos pelo meio de pinhais e eucaliptais com as subidas e descidas a sucederem-se a ritmo alucinante, sobretudo após a Asseiceira.

Com o plano do Tejo a dominar a elevada velocidade apenas variava em função da direcção do vento ou do facto do caminho ser, ou não, pavimentado.

Da Golegã a Azinhaga segue-se a rede de caminhos agrícolas asfaltados (desertos de viaturas). A seguir a Azinhaga, segui o traçado final do Almonda e entra-se numa zona agrícola onde o caminho é muito mau e confuso e aqui sucede o incidente da travessia: meia dúzia de cães soltos e um sujeito que primeiro me assegurava que os "cães não faziam mal" (o tanas) e após ter apedrejado os dois primeiros, que começaram a ganir, começou o velho a gritar "você não atira pedras aos cães!" ao que respondi, "só paro quando você os chamar para perto de si!". Seguiu-se a lenlalenga "isto é propriedade privada!" ao que repondi "não, é um caminho público!". E efectivamente era um caminho público...

Lá segui, sem mais problemas, mas não quero repetir a experiência, até porque aqueles caminhos são muito maus e já compûs uma alternativa que segue pelo Reguengo do Alviela até Vale Figueira.

Entre Vale Figueira e Vale de Santarém tomei um caminho diferente das travessias anteriores que, não sendo grande coisa, parece-me ser o melhor. Como a parte final se entra em propriedade privada criei já uma alternativa por estrada.

O melhor foi mesmo a passagem de Vale Figueira para as Ómnias por um caminho que descobri num track e que vai, durante algum tempo, junto à linha para depois subir e ir paralelo (a cota inferior porém relativamente ao habitual.

Depois foi rolar em altas pelo caminho já muito percorrido que liga as Óminias (Santarém) à Azambuja, via Porto de Muge, Valada e Reguengo. Não sem antes me cruzar com um casal americano em bicicleta adivinhem a caminho de onde? É verdade: Santiago de Compostela. O caminho português começa a ficar conhecido e é rara a vez que não encontro ninguém a pé ou de bicicleta percorrendo a distância.

No final terminei em Castanheira do Ribatejo, quase a chegar a VF Xira, já que aí, os comboios vêm até Sete Rios.

No final deste segundo dia 121 quilómetros ainda que com uma altimetria substantivamente inferior ao do primeiro. 220 quilómetros foi a factura final.

Mas, como diz o “outro”: “Eu gosto é disto!”, ou seja: quem corre por gosto...


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