Incursão insana esta que, em plena cheia da bacia do Tejo, nos levou a pedalar pelas margens do Sorraia, Tejo e de algumas ribeiras adjacentes.
De facto, apenas um grande amor à arte, faria com que, com aguaceiros fortes, um terreno permanentemente alagado e repetidas ameaças à integridade do material se percorressem cerca de 95 kms. entre Coruche, Salvaterra de Magos, Raposa (Almeirim) e o respectivo regresso.
Tirando esta visão, aparentemente negativa, foi mais uma incursão épica levada a cabo, por vezes, debaixo de uma chuva diluviana, atravessando inúmeros charcos, por vezes extensos e inopinadamente fundos, a requererem desmontagens rápidas por forma a não comprometerem nem o material, nem o ciclista.
Todavia nenhum de nós pode falar em surpresa já que, de modo consciente, escolhemos pedalar com semelhante quadro meteorológico e de terrenos. Assim e, no meu caso, para além do incontornável impermeável, o “wet set” incluía as botas de inverno manufacturadas pelo tio Shimano, mas também meias e luvas de neoprene com espessura de 2 mm. - adquiridas na secção de caça submarina, bem entendido.
Porém, tal como previsto, a humidade persistente não se conjugou com o frio já que a temperatura era amena e, tal facto, permitiu que o aquecimento próprio do esforço fosse suficiente para contrariar o arrefecimento inerente à água que nos cercava.
De resto, pedalar à chuva, nada tem de extraordinário e é um modo diferente de contemplar a paisagem sobretudo quando se percorrem os largos vales das lezírias e se constata que praticamente todo o chamado leito de cheia está alagado. Subir ao castelo de Coruche e observar o vale do Sorraia em semelhantes condições é algo de inesquecível.
Desloquei-me em companhia do Jorge Cláudio. Como também iríamos contar com a presença do Cláudio Nogueira, de Évora, optámos por começar em Coruche. Assim, os primeiros 30 kms. da incursão foram a ligação, ao longo da margem direita do Sorraia até Salvaterra de Magos efectuados rapidamente pelo plano estradão e pelo caminho junto ao canal ambos a centímetros da cheia.
Daí seguimos até Muge, via Escaroupim – onde rumámos brevemente até ao Tejo que, curiosamente, nivelava em cota inferior ao fim-de-semana anterior. Após Muge um forte vento de nascente complicou bastante a progressão o que fez com que a chegada a Raposa fosse acolhida agradavelmente já que, a partir daí e apesar da subida inicial, se encontraram apenas estradões e estradas secundárias que permitiram nova e rápida progressão até à ribeira da Lamarosa.
A partir daí subiu-se até um eucaliptal recém cortado. Assim, apesar de Coruche já estar por perto, esta foi a parte mais penosa do percurso já que, para além da chuva recomeçar de modo impiedoso, foi tempo de cruzar charcos enormes, alguns de uma profundidade impensável onde as competências nadatórias estiveram prestes a ser testadas.
Alcançada a N 114 iniciámos a entrada pela parte alta de Coruche e, após uma passagem pelo charco final que serviu para uma “lavagem de estrada” do material e do calçado, a paragem no miradouro permitiu restaurar as energias e alegrar as vistas para a descida final pelo centro de Coruche.
“Deus queira que chova três dias sem parar...”
Mais fotos em http://picasaweb.google.com/roque.oliveira/CorucheSdMCorucheJCCN#
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