quarta-feira, 4 de julho de 2012

VIA ALGARVIANA - MAGNA DUREZA III


Descend after Parizes (S. Brás municipality)


II – A MÃE DE TODAS AS ETAPAS

DIA 2
VAQUEIROS (ALCOUTIM) - SILVES – 129 kms. – 3402 m. de Altitude Positiva Acumulada (Garmin Data)
Sectores 4, 5, 6, 7, 8 e 9

ABSTRACT: This was the "mother of all stages." We crossed four counties, made ​​several kilometers and climbed many mountains until we reach, finally, Silves just after sunset. The hardness level was extreme but we succeeded.

O peso da responsabilidade determinou que o despertar se efectuasse pelas 06:00 para, pelas 07:00 e após um substancial pequeno-almoço, estarmos em cima do selim ainda com uma temperatura ambiente relativamente baixa.

Fazendo a transição do concelho de Alcoutim para o de Tavira, este sector 4, que decorre entre Vaqueiros e Cachopo, interna-se em plena Serra de Mu (Caldeirão) e pode ser definido da seguinte forma: três fortes descidas, três ribeiras e três ascensões duríssimas com duas consequências claras: desgaste físico elevado e velocidade média de deslocação baixa o que levantava ainda mais preocupações relativamente à distância planeada.


Ainda assim a paisagem é agora mais interessante e humanizada que a da primeira etapa, consubstanciada em alguns povoados que se vão sucedendo à medida que nos vamos internando no norte do concelho de Tavira (Monchique, Amoreira e Casas Baixas) do mesmo modo que vamos partilhando o nosso caminho com a GR 23 que circunda Cachopo e que, me tempos, tive ocasião de percorrer.

Por isso a chegada e a pausa na típica vila do Cachopo foi recebida com algum alívio mas apenas marcaria, após retemperarmos as forças, o reinício de idênticas dificuldades desta vez até ao Barranco do Velho, percorrendo os concelhos de Tavira, São Brás de Alportel e Loulé nuns extenuantes 30 kms. correspondentes ao sector 5 e em que os vales se sucederam com a particularidade de a amplitude, quer das descidas, quer das subidas, ser cada vez maior.

O perfil montanhoso da Serra de Mu revelou-se, aqui, no expoente máximo com os seus barrancos profundos e a sua linha montanhosa rasgando o horizonte que, a espaços, deixava antever o Atlântico. Cruzámos penosamente, um após outro, diversos aglomerados populacionais: Currais, Alcaria Alta, Castelão até cruzarmos a profunda ribeira de Odeleite marcando a fronteira de concelhos e dando início à mais longa subida até Parizes, já em terras de São Brás de Alportel para, de seguida, descer e começar a ascensão final até ao Barranco do Velho, situado em plena e mítica N2, outrora a principal via de acesso rodoviário de e para o Algarve.

Terminava assim a Serra do Caldeirão, pelo menos a sua parte de maior dificuldade já que, daí em diante, o sector 6, seria apenas descer a sua vertente oriental até Salir. É o fim de um mundo - o serrano, das encostas de xisto - para transitarmos até outro - o do barrocal, onde impera o calcário, a terra rossa e os laranjais de perder de vista. As vistas começam a desafogar para poente com boa parte do Barlavento agora ao alcance dos nossos olhos.

Até Salir, isto é, durante praticamente 15 kms., descemos continuamente como que em jeito de vingança pelo ciclópico rompe-piernas do Caldeirão. Só assim seria possível almejar o terminus da etapa em tempo útil. De facto, até Silves, se excepcionarmos a dezena de quilómetros final, uma incrível subida antes de Benafim, ou os breves quilómetros após Alte, a média aumentou na proporção inversa da dificuldade.

Estes quilómetros rapidíssimos até Salir souberam maravilhosamente pois sentiam-se o terreno a avançar sem que o esforço exigido fosse consentâneo com a distância percorrida. Rápida em alguns pontos, técnica e lenta noutros, deu para descomprimir e avançar substantivamente em direcção ao final. Nova paragem na povoação para retemperar forças e logo continuamos por um terreno diferente, um prolongamento do barrocal algarvio por terrenos calcários e de cultivos hortícolas onde os laranjais imperam.

A qualidade dos caminhos também melhorou substantivamente. Damo-nos agora, inclusive, ao luxo de rolar alguns quilómetros por um pitoresco e pavimentado caminho agrícola. Melhor ainda, esses quilómetros são planos e agradáveis. Uma após outra as povoações sucedem-se: Almarguinho, Cerro de Baixo e de Cima. Sem embargo e apesar da enorme agradabilidade, um preocupação acentuava-se, é que tínhamos de passar por Benafim, povoação que ficava lá em cima mas, há medida que os quilómetros passavam, apenas se circulava em plano - havia qualquer coisa de estranho...

A resposta surgiria mais tarde: subir-se-ia tudo de uma vez. Durante bem mais de um quilómetro surge uma daquelas portelas impossíveis palmilhada a passo com a bicicleta inexoravelmente empurrada de modo penoso, colina acima. Curiosamente este seria uma espécie de introdução às subidas apeadas de que o sector 10 (Silves - Monchique), do dia seguinte, seria fértil.

Chegados a Benafim dirigimo-nos rapidamente para Alte acompanhando, no final deste sector 7, a ribeira do mesmo nome e chegando a uma das aldeias mais típicas e pitorescas de Portugal: casas caiadas e inúmeras chaminés artísticas num dos cenários rurais urbanos mais interessantes do Algarve.

Tempo de restaurar forças de novo para enfrentar o sector 8 que nos levaria a São Bartolomeu de Messines ao longo de quase 20 kms. pelo meio dos amendoais de sequeiro do barrocal. Sob o viaduto da A2 e a cerca de um quilómetro de Messines cruzamos a N124 para, de modo insondável, nos recrearmos por mais cerca de 5 kms. entrando na povoação de sul para N. e preparando-nos, após uma breve pausa, para o último sector, o nono e que nos conduziria a Silves e ao imprescindível descanso.

É o recomeço da dureza serrana. A princípio rolou-se muito rapidamente junto à margem esquerda da albufeira do Funcho para, após cruzarmos o paredão da barragem, recomeçar o rompe piernas a que já nos havíamos desabituado. Acresce o facto de termos já 120kms. percorridos e a noite a fazer anunciar a sua chegada. Ainda assim e penosamente lá chegámos a Silves onde nos instalámos no hotel pelas 21:00, ou seja, 14 horas após começarmos a pedalar em Vaqueiros para além do que sopunhamos ser o nosso limite físico e mental.

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