quinta-feira, 5 de julho de 2012

VIA ALGARVIANA - MAGNA DUREZA IV

The MTB Troika after the Foia just before the fast descend to Marmelete


IV – INFERNO E PARAÍSO NA MESMA ETAPA

DIA 3
SILVES – BARÃO DE SÃO JOÃO (LAGOS) 87,76 kms. – 2327 m. de Altitude Positiva Acumulada (Garmin Data)
Sectores 10, 11, 12 e parte do sector 13.

ABSTRACT: The “hadness forecast” in these 28 kms. until Monchique and beyond to Fóia (900 meters) was extreme. The 14 meters high of Silves at the start combined with the recent memory of the last few miles of the eve promised hell. Fortunately the rest of the raid was a long descend to Marmelete and afterward to the end in Barão de São João.

A previsão de dureza nestes 28 kms. até Monchique era extrema. A saída dos 14 m. de altitude de Silves conjugada com a memória recente dos derradeiros quilómetros do dia anterior prometiam um inferno. Logo ao início, olhando para o azimute apontado pelo aparelho de GPS, não se conseguia vislumbrar por onde se passaria tal era a densidade do relevo.

Ganhamos coragem, avançamos e, desde logo estava sugerido o mote: ascensões insanas na maior parte dos casos impossíveis de vencer a pedalar seguidas de descidas abruptas que nos deixavam na mesma cota que anteriormente e isto milha após milha, por cerros calvos e áridos, com muita poeira, desgaste intenso e progressão lenta.

Quando já estávamos na cota acima dos trezentos metros iniciamos uma descida fortíssima, onde nos cruzamos com um grupo de ciclistas em sentido contrário, para nos repor ao nível da albufeira da nova barragem de Odelouca. Aí a ascensão tornou-se permanente dos 120 metros até aos 774 da Picota, o segundo ponto mais alto da Serra de Monchique. Apesar da dureza os panoramas deslumbravam vislumbrando-se desde Faro, a sotavento até Lagos a barlavento ao mesmo tempo que a paisagem ia cambiando e se avançava penosamente.

Descemos então para Monchique, não pelo trilho sugerido, antes pela estrada já que era impossível pedalar pelo meio de um mato impenetrável. Aproveitamos para uma reposição energética em elevado estilo: nada mais, nada menos que um precioso spaghetti napolitano em pleno centro de Monchique numa esplanada à sombra contemplando o refrescante repuxo.

Foi a détente breve mas necessária para se abordar o início do sector seguinte (o 12.º) tido como fácil mas que, na sua fase inicial, tinha apenas a mítica subida à Fóia - ponto culminante do Algarve - que, do alto dos seus 902 metros, prometia complicar a vida de quem se atrevesse a conquistá-la. Se a abordagem tradicional por estrada é já muito complicada (categoria extra, pelos critérios da Volta à Portugal em Bicicleta) subir por caminhos impossíveis até ao Convento do Desterro and above revelaram-se como uma tarefa duríssima.

Após se cruzar a estrada municipal entra-se num estradão de elevado gradiente que faz a entrada na paisagem de alta montanha e, finalmente, lá se chega às antenas e aos vislumbres dos altos afloramentos rochosos em simultâneo com uma enorme sensação de alívio: a partir daqui só se desce.

Ainda antes da descida para Marmelete um vale mágico encaixado na vertente poente da serra e a visão de pequenos soutos de castanheiros (em pleno Algarve), manadas de saudáveis bovinos, um rebanho de cabras e um pastor que passava pelas brasas ao sol - fantástico.

Após um parque eólico de magníficos estradões de terra batida, a descida vertiginosa ao longo de quilómetros até Marmelete onde retemperamos as forças na esplanada de uma singela cafeteria no terminus deste sector.

Iniciamos a nossa abordagem dos 30 quilómetros do sector 12 que nos conduziria a Bensafrim, já no concelho de Lagos. Apesar da distância ser grande dois factos se conjugaram para que se percorresse num abrir e fechar de olhos: um, de carácter estrutural, que era o de uma pendente de descida praticamente contínua e outro, de carácter conjuntural, pelo facto do vento soprar constante e moderado do quadrante norte.

Tal concorreu, em conjunto com a elevada agradabilidade da paisagem, para que este tenha sido, provavelmente, o sector mais simpático de toda esta travessia. De resto os longos quilómetros ao longo das margens da albufeira da Barragem da Bravura ficam indelevelmente marcados na memória.

Talvez tenha sido por isso que, quando menos se esperava, estávamos em Bensafrim e daí avançamos para os seis quilómetros finais até Barão de São João, não pela estrada, antes fora desta por uma paisagem típica do barrocal com inúmeras quintas de produtos biológicos e rapidamente chegamos à aldeia onde reinava um ambiente bizarro. De facto este era o serão em que a seleção nacional de futebol defrontava a sua congénere alemã pelo que, não era de estranhar que todos os restaurantes onde existisse uma pantalha disponível estivessem a abarrotar de povo nos seus cachecóis garridos. Valeu uma preciosidade italiana, onde não havia TV mas que tinha uma gastronomia divinal a preços módicos.

As dificuldades estavam ultrapassadas e o dia seguinte afigurava-se como muito simples, uma espécie de etapa de consagração até ao Cabo de São Vicente. O único senão foi mesmo a vitória tangencial alemã no futebol.

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