quarta-feira, 29 de abril de 2009

GEO-RAIDE SÃO PEDRO DO SUL - DAY ONE - 25ABR09


Texto e Fotos: Rui Sousa

Dia 0
Esperava chegar a S. Pedro do Sul por volta das 21:30, para assistir ao
briefing…infelizmente só consegui chegar às 23:00, ainda a tempo de carregar
o GPS, levar as tralhas para o quarto e ir à reunião da organização, que
acabou perto das 2 da manhã. Pensei: “Espero que haja por aí alguns
empenados, senão nem os últimos vou acompanhar!”


Dia 1:

Partida: Já estão todos? Vêm lá mais 2….e mais 2…e mais 2….
Como dormi pouco, nem me custou acordar às 6:30. Fui tomar o pequeno-almoço,
preparar a bicicleta e meter uns reforços alimentares no carro (ser vassoura
tem as suas vantagens).
E lá chegaram as 8:30. Partiram todos e arranquei também. Foi quando vi que
ainda vinha uma equipa lá do fundo. E mais outra! Mais ninguém? Lá
arranquei, é logo a subir!!! Quando passo em frente à Pousada da Juventude
ainda vi mais uma equipa. Voltei para trás e tive que fazer outra vez a
rampa. Mas agora era de vez!

Apita o comboio (versão TGV)
Depois de uma pequena montanha russa, entrámos no antigo ramal de Viseu da
Linha do Vouga (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ramal_de_Viseu). A equipa
atrasada quis recuperar o tempo perdido, pelo que começou logo a todo o
vapor, parecendo mais um TGV do que os antigos comboios que usavam aquela
linha. Eu tinha de parar em várias estações, para avisar membros da
organização e da GNR que era o último, não foi fácil acompanha-los!

Onde está o Track?
Logo após a saída da linha de comboio encontro uma equipa encostada. Estavam
com problemas no GPS, o track tinha desaparecido. Liguei para o António
Malvar, para tentar arranjar uma solução e disse à equipa para ir comigo,
pois um novo GPS deveria ser entregue no CP0, que não estava longe.
Aqui passámos por um pequeno jardim à beira rio, com um caminho a fazer
lembrar as levadas da Madeira. Pouco depois começamos a abandonar a
civilização e a ver as montanhas que nos esperavam.

Rumo a Norte pelo Rio Sul
Fomos subindo pouco a pouco, por vezes com algumas subidas complicadas e
descidas divertidas, com curvas e alguma pedra. Fomos acompanhando o rio Sul
e passámos nas aldeias de Oliveira e Sul.
Quando apanhei a equipa sem GPS tentei forçar um pouco o andamento, para que
não perdessem muito tempo. Felizmente eles tinham um ritmo parecido com o
meu, pelo que pude abrandar um pouco.

Agora é sempre a subir
Após a aldeia de Sul abandonámos o rio com o mesmo nome e começamos a subir
a sério. Para azar dos meus guiados sem GPS, alcançamos outra equipa com um
andamento mais lento. A boa noticia é que me ligaram a dizer que tinham um
GPS à espera no CP0.
Fizemos um pequeno troço de alcatrão e ao passar por um parque de merendas a
paisagem começou a mudar. Já quase não há árvores, apenas vegetação rasteira
toda florida e muitos calhaus brancos, que até parecem neve!
Chegamos ao CP0A e com a troca de GPS fiquei apenas com a equipa mais lenta.
Passámos pela aldeia de Macieira e a subida continuou, rumo a São Macário.

Quem abriu a porta? Está corrente de ar.
O tempo estava espectacular. O sol quase sempre a ganhar às nuvens, não
havia vento e não estava nem calor nem frio.
Mas tudo isso mudou ao chegar ao topo da serra de São Macário, a rondar os
1000 metros de altitude. Deixamos de estar protegidos do vento norte forte
que se fazia sentir, bem gelado e a dificultar a deslocação da bicicleta.
Mas a paisagem que se via para o lado norte fazia esquecer tudo isso. Montes
e montes sem fim, muitos com aerogeradores a funcionar a toda a velocidade e
aldeias perdidas no fundo dos vales. Não consigo descrever melhor, é preciso
mesmo lá ir!
A seguir ao São Macário descia-se rapidamente por alcatrão até ao CP1A, onde
o Pedro (o outro vassoura) estava à minha espera, pois eu ia atalhar por
estrada, de modo a chegar ao CP1B antes do fecho desse CP.

Que faz aqui o meu carro?
Apesar de com este desvio ter falhado o Portal do Inferno e a aldeia de
Drave (assim já tenho um pretexto para lá voltar), a vista da estrada também
é espectacular. Segue a cumeada, não se sabe bem se deva olhar para a
paisagem da direita ou da esquerda!
No local onde se reencontra o track estava estacionado o meu carro, com umas
sandes e uns sumos lá dentro. Que bem que soube o lanche, apesar do olhar
invejoso de quem passava. E muito gente passou, apesar do atraso que já
levava e de só ter atalhado 10 km, o troço que cortei não deve ser nada
fácil.
Até à aldeia da Coelheira o percurso seguia pela Serra Fadeira e pela Serra
da Arada, num percurso sem grandes subidas, que poderia dizer-se que era
fácil, não fosse a muita pedra solta a travar a marcha da bicicleta. Mas a
paisagem, com a serra toda florida, faz esquecer as dificuldades.

Frio, frio, frio
Cheguei ao CP1B na Coelheira e fui para dentro do jipe enquanto esperava
pela hora de partir. Estava um vento gelado, felizmente que antes tinha
trocado para uma roupa mais quente que tinha dentro do meu carro. Quando
chegou a hora de fecho do CP ainda não tinham chegado todas as equipas. Saí
do jipe e uns metros mais à frente estava uma equipa a remendar um pneu.
Perguntei-lhes se queriam atalhar, pois já não iriam chegar a tempo ao CP
seguinte, mas fizeram as contas à média que teriam de fazer e não parecia
impossível. O problema é que os próximos km foram parecidos com um passeio
pedestre.

Pedra, pedra e mais pedra. Vende-se bicicleta!
Quando pneu ficou pronto e arrancamos, tremia por todo o lado. O vento norte
estava gelado e o percurso era desabrigado e a descer.
Mas isso rapidamente mudou. Virámos à esquerda e começamos a subir por um
caminho muito bonito, onde se ouvia um ribeiro a correr no meio de um bosque
de carvalhos. O caminho estava cheio de pedra solta, pelo que apesar de ser
ciclável não valia o esforço. Para contrastar, acabava numa cancela que dava
acesso a estradões típicos de parques eólicos. Soube muito bem e permitiu
vencer uns bons metros rapidamente.
Mas a indicação D23 não deixava dúvidas. Era para deixar o estradão e entrar
num caminho manhoso à direita, com um pouco mais de 2 km de pura diversão,
pedra solta, raízes, lama, regos, ramos e ganchos apertados. Descemos nesses
2 km mais de 200 metros e ficámos à porta da aldeia de Cabreiros.

Fixe, alcatrão!
Para recuperar da descida, fizemos um troço de alcatrão, passando ao largo
da aldeia de Tebilhão, com os seus belos e férteis campos agrícolas virados
a Sul. Apesar do asfalto este troço não era fácil, pois subia, subia, subia.
Já estávamos em plena serra da Freita e não demorou muito a sairmos do
asfalto e a comprovarmos a fama desta serra.

Queriam pedra a sério? Ora aqui vai!
Para quem achava que ainda não se tinha apanhado muito pedra hoje, aqui vai
mais uma dose bem reforçada. Afinal estávamos na Freita, que mais se podia
esperar! As subidas eram quase todas feitas à mão e mesmo em plano a
progressão não era fácil.
Por aqui encontrei uma equipa que estava um bocado desanimada, tinha uma
suspensão bloqueada e já tinham encontrado pelo caminho o homem da marreta!
Pediram para ser resgatados de carro, pois não queriam continuar. Mas
naquele local, atrás do “Sol posto”, ainda não chegaram os telemóveis, pelo
que lhe pedi para continuarem mais um pouco até estarmos mais próximos de
uma aldeia.
Essa aldeia era Albergaria das Cabras, bem perto da conhecida cascata da
Frecha de Mizarela. Foi aqui que deixamos de nos deslocar para Oeste e
virámos para Este, de volta a São Pedro do Sul.
Perguntei se sempre queriam desistir e disseram que não, faltavam poucos km
para o CP seguinte, até talvez desse para o passar a horas. O problema era o
tipo de piso que nos esperava….
Pois, continuou pedra, pedra e mais pedra. Mesmos pelas aldeias rurais onde
passámos e onde ficámos parados no trânsito do fim de tarde (transito de
vacas, como é obvio), os caminhos agrícolas estavam cheios de pedra solta.
Essas aldeias foram Gestoso, Gestosinho e Abundância, onde chegávamos depois
de passar uma ponte de pedra.
Até Manhouce, onde estava o CP1D, foi sempre a descer por asfalto. Dado que
o CP já estava fechado há algum tempo, voltei para São Pedro do Sul por
estrada, pois quem já tinha feito o percurso de carro tinha-me dito que era
sempre a descer. Já sábia que era mentira, mas as subidas não eram muito
más!

Relato do segundo dia aqui

Bons treinos para a Serra!


Rui Sousa

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